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EMPRESAS DE MACAU COM POUCOS INCENTIVOS PARA INVESTIR NA LUSOFONIA

 

Falta energia e capital aos empresários de Macau para investir nos países de língua portuguesa, diz John Lo, presidente da Sociedade Internacional Grupo Excelente, com negócios há cerca de 15 anos na Guiné-Bissau.  Em entrevista ao Plataforma Macau, o também cônsul honorário do país africano em Macau, deixa críticas ao trabalho do Fórum Macau, que “não tem tido muito sucesso” na criação de uma ponte empresarial entre a China e a esfera lusófona.

 

PLATAFORMA MACAU – É um dos mais ativos investidores de Macau na Guiné-Bissau. Como é que surgiu o interesse pelo país?

JOHN LO – Comecei a investir na Guiné-Bissau em 2000, há já quase 15 anos. Os últimos anos têm sido de lucro e, por essa razão, optei por dar continuidade aos negócios no país.

Como sabe, desde 2009 até há pouco tempo, [a situação política na Guiné-Bissau] não esteve muito estável, o que fez com que eu tivesse optado por adiar na altura alguns investimentos. Mas, em 2014, subiu ao poder um novo governo e penso que a estrutura está e deverá melhorar. Os guineenses estão a olhar para o futuro do país de forma otimista e eu também.

Ao longo dos últimos dez anos, Macau tem adquirido uma posição cada vez mais importante no cenário global. Apesar disso, no mundo dos negócios ainda se comenta muito que o tecido empresarial local é feito de empresas de pequenas dimensões, com falta de energia e capital para investir no estrangeiro.

Por que razão muitos empresários preferem investir no continente chinês? Devido à proximidade geográfica, à facilidade da língua, às semelhanças culturais. As pessoas escolhem a forma mais fácil de fazer dinheiro.

Em Macau, foi criado há mais de dez anos o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau). Por que razão este Fórum não tem tido grande sucesso? Porque ainda não se conhecem muitos empresários de Macau a investir lá fora.

 

P.M. – Esse papel do Fórum Macau como plataforma empresarial e comercial entre a China e os países de língua portuguesa tem falhado?

J.L. – Sim. Quando o Fórum nasceu, a economia de Macau ainda não tinha atingido o nível que tem hoje. Dez anos depois, tornou-se numa economia pujante, o que significa também que a situação económica dos empresários de Macau melhorou.

Os bancos e o Governo de Macau estão a tentar impulsionar as empresas de Macau a investir em outros países. Mas, Macau é uma cidade muito pequena e os empresários não têm muitas formas de ampliar e desenvolver os seus negócios.

 

P.M. – Continuam a contar-se pelos dedos o número de empresários de Macau a investir nestes países da lusofonia?

J.L. – Sim, é verdade. Nem nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) nem em países como o Brasil ou Portugal. A verdade é que são países muito distantes.

Outras das razões é que em Macau a maior parte das empresas é de pequena dimensão e, por essa razão, não tem capital para investir.

De qualquer maneira, nos últimos dez anos o negócio tomou outras proporções, quando os empresários de Macau começaram a apostar na área do imobiliário, do jogo, no negócio do retalho. Começaram a investir no interior da China para fazer dinheiro. Por que razão fariam voos de dois dias para aterrar num outro mundo?

 

P.M. – Mas mesmo assim apostou na Guiné, há 15 anos.

J.L. – Sim, é um país que tem uma comunidade em Macau, que eu fui começando a conhecer melhor.

No início, em 2000, perdemos muito tempo só a tentar encontrar uma forma de relacionamento com as pessoas na Guiné.

É muito fácil fazer-se erros e esse foi o meu caso. Encontrámos parceiros, que não eram pessoas honestas. Perdemos dinheiro porque tivemos de pagar a chamada taxa da aprendizagem, de forma a ganhar experiência. Isto aconteceu mais ou menos até 2004.

Comecei por investir no setor agrícola e não só. Nessa época, Macau tinha criado uma lei de investimento, em que os estrangeiros com interesse em investir em Macau precisavam de uma autorização de residência. Esta foi a razão pela qual eu fui para África. Ajudava os clientes com os documentos para adquirir o direito à propriedade e mudarem-se para Macau.

Mas nestes primeiros quatro anos cometi alguns erros e perdi dinheiro.

 

P.M. – E quando estabilizou? 

J.L. – Por volta de 2005. Continuei a trabalhar nestes dois ramos de negócio. No setor agrícola, apostei no caju, que na Guiné-Bissau é de alta qualidade – a melhor do mundo. É processado no interior da China e depois vendido em Macau, Hong Kong e na China.

Investi também em matérias-primas, porque a China é um país muito grande e precisa de tudo. Quando o negócio começou a florescer, há cerca de seis anos, começámos a investir em minérios, como o fosfato. O nosso parceiro em Pequim tem interesse em África e no fosfato. Tivemos muita sorte e oportunidade de ver retorno no nosso investimento.

No futuro, planeamos fazer a criação de camarões em parceria com um sócio de Zhuhai experiente nesta área. Vamos buscar à Guiné e o mercado de consumo será a Europa. A logística é muito cara da Guine para a Ásia. Além disso, os camarões vietnamitas são muito bons e não são caros. Não faria sentido vender na Ásia.

 

P.M. – E foi esta entrada na Guiné que o levou ao cargo que ocupa como cônsul honorário do país em Macau.

J.L. – Sou um homem de sorte. Desde 2000 que tenho vindo a conhecer e a relacionar-me com a população guineense no território. Depois fui ao país e tive oportunidade de conhecer vários membros do Governo.

Todos os novos governos acabam por me contactar e têm demonstrado que confiam em mim. Em 2008, quando o presidente da Guiné-Bissau veio a Macau, fui nomeado cônsul honorário para ajudar a trabalhar as relações entre a China, Macau e a Guiné-Bissau.

 

P.M. – Os seus negócios são feitos pela empresa que preside, a Sociedade Internacional Grupo Excelente. Tem ainda o café Lótus e uma fábrica de torrefação em Macau. Há vários empresários que reconhecem dificuldades em alcançar o mercado do interior da China. Sente essas limitações?

J.L. – Exportamos café, conhaque e vinho para a China. Em relação ao café, o grão vem do Brasil, Timor, Colômbia, China, Indonésia e Vietname. Processamos em Macau, onde estão grande parte dos nossos clientes, que são os casinos.

Há muitos caminhos para chegar ao continente chinês e cada empresário tem as suas ligações. Para exportar o café para o interior da China recorremos ao CEPA (Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau), que nos isenta da maior parte das taxas a pagar. Mas, na exportação do vinho, por exemplo, temos de pagar taxas de 48%. O CEPA ajuda-nos em certa medida, embora não muito.

Mas, a verdade é que depois da transferência, a marca Macau começou a adquirir um bom nome. O consumidor chinês começou a apreciar e já está disposto a pagar mais 20% por um produto que é de Macau.

 

P.M. – Não seria vantajosa a criação de um mecanismo como o CEPA que permitisse que produtos portugueses como o vinho que passassem por Macau, pudessem entrar na China continental com menos barreiras alfandegárias?

J.L. – Repare que o vinho português no interior da China não tem um mercado muito grande, em parte porque a publicidade que é feita é muito fraca.

Eu reconheço a boa qualidade do vinho português a nível global, mas no continente ainda não ganhou essa visibilidade. Portugal é um país pequeno e a quantidade de vinho produzido também. Por outro lado, a publicidade na China tem custos muito elevados. Um dia de publicidade poderá custar 100 mil yuan, o que é muito elevado. Como pode uma pequena empresa pagar este preço? É muito difícil.

 

Catarina Domingues 

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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