Início » GERAÇÃO ONLINE

GERAÇÃO ONLINE

 

Os smarphones revolucionaram a China e o estilo de vida dos chineses. As mudanças são vistas com bons olhos por alguns. Mas, na capital chinesa, há também quem tenha dúvidas quanto à influência desta geração de telefones inteligentes. É que na vida real, as pessoas deixaram de estar online.

 

Captura de ecrã 2014-07-26, às 8.55.23 PM Captura de ecrã 2014-07-26, às 8.55.31 PM Captura de ecrã 2014-07-26, às 8.55.39 PMA senhora Wu sai para almoçar com colegas de trabalho. O grupo senta-se no restaurante e um dos clientes pergunta se existe internet no local. “Sim, há Wi-fi”, responde surpreendido um amigo. A empregada de mesa diz qual é a password e os dois clientes ficam “ligados”. Vão diretos à aplicação WeChat. Depois então olham para o menu.

Para os utilizadores de smartphone, fazer login para aceder à internet tornou-se já num comportamento habitual. E, nos dias que correm, olhar para o telemóvel enquanto se espera por um pedido num restaurante é um cenário comum às grandes cidades chinesas.

Quando amigos ou colegas se querem encontrar, escolhem de antemão um local com ligação ao mundo virtual. E como a internet traz clientes, lugares públicos como supermercados, restaurantes ou cafés ligam-se ao mundo para atrair a atenção da população.

Até a operadora do metro da capital já entrou em contacto no final de maio deste ano com a maior empresa de comunicações do país para instalar ligação móvel 4G em toda a linha, estações e túneis. Desta forma, a empresa espera que a ligação dos passageiros à internet seja possível a qualquer altura e em qualquer lugar. Mesmo nas passagens onde o sinal é mais fraco.

Na China, diz-se que “o tempo é como a água numa esponja, basta apertar que há sempre mais”. Mas hoje, esta “água” está a ser absorvida pelo sempre crescente boom dos smartphones.

Em novembro de 2013, o número de utilizadores de telemóvel ultrapassou 1,22 mil milhões de pessoas e 73,3% dos novos utilizadores tinham acesso à internet, de acordo com dados divulgados este mês pelo China Network Information Center (CNNIC). Só num ano a quantidade de utilizadores de telemóveis no país aumentou para 80,09 milhões. Aqueles que usam 3G atingiram 386 milhões, mais 40% do que no ano anterior.

Estudantes e funcionários de escritório são os que mais estão ligados à internet móvel. Com o lançamento de smartphones mais baratos, uma maior relação preço-qualidade e a generalização da internet 3G e 4G na China, também os trabalhadores de pequenas cidades são atraídos para este admirável novo mundo.

É o caso do senhor Liu, que trabalha numa loja de conveniência em Langfang, na província de Hebei. Em três anos, Liu trocou de smartphone três vezes. O telemóvel não consegue acompanhar a necessidade de utilização de novos programas, explica. Vídeos e jogos são as suas aplicações preferidas.

 

TELEFONES ROUBAM TEMPO

Nick trabalha para uma empresa de telemóveis e já optou pela nova geração de telemóveis há vários anos. Nick confessa: aproveita os pequenos intervalos para espreitar o monitor, seja entre as deslocações, no intervalo para o almoço ou antes de se deitar. Lê revistas, livros eletrónicos e ouve música. No entanto, grande parte do tempo, passa-o nas redes sociais.

“Quando não tenho o aparelho por perto ou quando está sem bateria fico nervoso”, confessa entre risos.

E Nick é um entre muitos. Quem criou este hábito, admite desconforto quando não tem o telemóvel por perto. O senhor Li, por exemplo, trabalha num banco e fez a primeira mudança para um smartphone há apenas três meses. Admite que fica apreensivo quando o aparelho está sem bateria ou, quando, por esquecimento, se esquece do carregador.

“Na verdade acho isto embaraçoso”, admite. “Desperdiçar tempo em coisas sem importância, como redes sociais, apenas para conversar é, de facto, desperdiçar tempo”.

Também com a popularização destes telefones de última geração, várias empresas começaram a utilizar programas de comunicação para estar em contacto com os funcionários.

A senhora Wu, responsável pelo atendimento ao cliente na empresa Happy Element, assume que está sempre presa ao telemóvel porque não quer perder uma chamada ou email do trabalho. “Preciso de estar atenta aos chats a qualquer altura e em qualquer lugar. Desta forma, não consigo evitar estar sempre a ser bombardeada com notícias sem interesse”, nota.

Vários utilizadores como Wu, Li ou Nick assumem a dimensão que estes aparelhos ganharam no quotidiano e que fez com que o estilo de vida dos chineses começasse lentamente a mudar. Em qualquer parte da capital chinesa, observam-se pessoas presas ao monitor. De telemóvel na mão, até nas horas de maior congestionamento nas carruagens do metro, os passageiros são absorvidos pela informação virtual. “Cerca de 1/3 ou até metade das vezes que estou com a minha namorada, estamos a olhar para o telemóvel ou a partilhar conteúdos digitais”, sublinha Li.

Mas há também quem rejeite a moda virtual. Tian é produtor musical e defende que a era dos smartphones veio influenciar negativamente as relações entre as pessoas. “Quando não existiam smartphones, as pessoas respeitavam os compromissos. Agora podem facilmente enviar uma mensagem através do WeChat e cancelar um encontro. Até certo ponto, isto é um desrespeito para com a outra pessoa”, alerta.

Os smartphones vieram aproximar as relações virtuais. Mas foi a vida offline que acabou por ficar a perder. Nick queixa-se de amigos que veem os seus perfis nas redes sociais como sendo mais importantes do que as suas próprias vidas. “Por vezes acho que as conversas entre amigos são mais animadas online do que quando se encontram”, critica. “Uma vez que o círculo de amigos já está a par da tua vida quotidiana [através das redes sociais como o Instagram] já não há nada para conversar”.

 

ORDENADO DE UM MÊS PARA UM SMARTPHONE

Dos utilizadores de telemóveis na China, 40% optaram pelo smartphones, o que significa que 60% dos utilizadores ainda não puseram de lado os telemóveis tradicionais, de acordo com estimativas da IDC (International Data Corporation).

Segundo prevê a mesma empresa, não é provável que estes utilizadores façam a mudança imediata para os aparelhos inteligentes. Na realidade, aponta a IDC, a taxa de crescimento do mercado de smartphones na China irá diminuir gradualmente para os 10% até 2015.

No entanto, existem ainda uma série de fenómenos que podem contribuir para o aumento de utilizadores de smartphones na China: com a dificuldade dos trabalhadores migrantes em comprar bilhetes para regressar a casa durante o Ano Novo chinês, os smartphones têm vindo a facilitar o processo de aquisição das passagens através de um programa gratuito. Isto pode explicar como o aumento da internet móvel em cidades pequenas já ultrapassou o das grandes cidades.

Também muitos dos clientes não conseguem ainda utilizar na totalidade todas as funções  do smartphone e as razões para a compra destes telemóveis “são mais básicas”, como o entretenimento e a comunicação, conclui Nick que tem experiência profissional na área da utilização móvel.

Na altura de decidir qual o telemóvel a comprar, são as grandes marcas internacionais como a Apple e a Samsung a dominar o mercado. Clientes entrevistados pelo Plataforma Macau numa loja de produtos eletrónicos revelam que a empresa norte-americana é a opção ideal.

De destacar ainda que vários jovens estão dispostos a gastar o ordenado de um mês para comprar um smartphone. No entanto, não querem gastar dinheiro para comprar aplicações. Também o valor que as pessoas atribuem à obtenção de informação tem vindo a sofrer alterações, considera Tian. “Antes contentavam-se em ler jornais ou a ver televisão, jogavam no computador ou em cibercafés. Agora, os smartphones possibilitam o entretenimento sem custos, portanto é natural que seja um atrativo”.

O uso de smartphones na China, Coreia do Sul, Austrália, Inglaterra e Itália já ultrapassou os 60%, enquanto que a utilização de telemóveis tradicionais nestes países diminuiu para os 30%, revelou no ano passado um estudo da empresa ACNielson sobre o comportamento de utilizadores de smartphones à escala global.

O relatório revela ainda que a internet e os jogos são as principais razões que levam os utilizadores a comprar este produto na China. As notícias e a meteorologia estão entre as escolhas preferidas, seguindo-se as redes sociais, compras online e os serviços bancários móveis.

 

Vivian Yang

 

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!