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SEGUNDO GOVERNANTE DE SÃO TOMÉ NA CHINA EM MENOS DE UM MÊS

 

São Tomé e Príncipe, único país lusófono a manter relações com Taiwan, é agora convidado habitual de Pequim

 

O secretário da Economia do Governo regional do Príncipe, Silvino Jerónimo Palmer, foi esta semana à China a convite de Pequim, menos de um mês depois de uma alegada visita privada do Presidente são-tomense, revelando uma crescente aproximação dos dois países.

O governante deslocou-se à capital chinesa para participar no seminário ministerial sobre “Globalização Económica”, que se iniciou em Macau, a 2 de julho, como refere a lista de participantes na iniciativa que foi distribuída aos jornalistas na Região Administrativa Especial chinesa.

Contactado pelo Plataforma Macau, o membro do Governo de um dos raros países africanos que mantém relações diplomáticas com Taipé, em detrimento de Pequim, não quis prestar declarações sobre a sua visita.

A secretária-geral adjunta do Fórum Macau (para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa), Rita Santos, explicou que o seminário ministerial em que Silvino Jerónimo Palmer participou foi uma iniciativa organizada pela Academia para Autoridades Comerciais Internacionais (AIBO, na sigla inglesa), do Ministério do Comércio chinês, pelo que o governante são-tomense foi convidado por Pequim a participar.“Este seminário era mais virado para a cooperação económica e eles [São Tomé e Príncipe] participaram no sentido de haver um estreitamento da cooperação”, disse a responsável em declarações ao Plataforma Macau.

São Tomé e Príncipe marcou presença no seminário, que teve lugar em Macau na semana passada e em Pequim esta semana, a par de 20 ministros e outros representantes de governos lusófonos que têm relações diplomáticas com Pequim e são membros do Fórum Macau, nomeadamente da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Timor-Leste, Angola e Portugal.

Apesar de São Tomé não integrar o Fórum Macau por ter relações diplomáticas com Taipé, Rita Santos realça que o país africano “já integrou atividades do Secretariado Permanente” na Região Administrativa Especial chinesa, como colóquios e a Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa, “para poder também participar na cooperação económica e comercial” entre a China e a lusofonia.

“São Tomé e Príncipe também já participou como convidado em conferências ministeriais do Fórum Macau, tendo no ano passado sido representado por um ministro [pela primeira vez] e, aliás, os dados estatísticos dos Serviços de Alfândega chineses sobre o comércio entre a China e os países de língua portuguesa incluem o país”, acrescentou.

INVESTIMENTO CHINÊS NA MIRA

A deslocação de Silvino Palmer à China segue-se à visita alegadamente privada do Presidente são-tomense, Manuel Pinto da Costa, ao país em meados de junho, durante a qual participou numa “atividade comercial e empresarial”, segundo confirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Esta foi a primeira visita de um Presidente de São Tomé e Príncipe ao país asiático em cerca de 20 anos.

De acordo com a agência noticiosa são-tomense, Manuel Pinto da Costa – que foi o primeiro Presidente de São Tomé e Príncipe após a independência, em 1975, quando o país tinha boas relações com a China – deslocou-se a Pequim e a Xangai com empresários do seu país para atrair investimento chinês, nomeadamente para a construção de um porto de águas profundas com investimento estimado em mais de 500 milhões de dólares. Um despacho da mesma agência citava uma fonte ligada ao processo que garantiu que as relações com Taipé estavam “consolidadas e salvaguardadas”.

Esta visita ocorre após a reabertura pela China, em novembro do ano passado, da sua antiga embaixada em São Tomé e Príncipe – encerrada desde 1997, quando o arquipélago estabeleceu relações diplomáticas com Taipé – para aí funcionar uma representação comercial de Pequim.

Na altura, o Governo de Taipé garantiu que esta situação não iria afetar as relações diplomáticas bilaterais.

A China, que é um dos maiores investidores no continente africano, cortou relações diplomáticas com São Tomé e Príncipe, em 1997, quando o país africano estabeleceu contactos oficiais com Taipé, que Pequim considera uma província chinesa e não uma entidade política soberana. Pequim e Taipé têm, no entanto, vindo a intensificar a cooperação económica.São Tomé e Príncipe, que é dos países mais pequenos de África, é atualmente a única nação de língua portuguesa com relações diplomáticas cortadas com Pequim, havendo apenas outros dois países africanos com relações com Taipé: Burkina Faso e Suazilândia, já que a Gâmbia cortou os laços diplomáticos com a ilha no final de 2013, alegando um “interesse estratégico nacional”.

Patrícia Neves

 

“CONSULADO MAIS PRÓXIMO FICA EM PORTUGAL”

Os são-tomenses radicados em Macau acompanham com atenção os sinais de uma maior aproximação do seu país à China, mantendo a esperança de um dia virem a ter uma representação diplomática mais perto de si e, assim, evitarem deslocações a Portugal, onde fica o Consulado de São Tomé e Príncipe mais próximo, apesar de estar a mais de 10 mil quilómetros de distância.

“Sem dúvida que uma representação consular seria muito boa, porque, de facto, os são-tomenses em Macau que não têm dupla nacionalidade [são-tomense e portuguesa] para renovarem o passaporte têm de ir a Portugal e isso causa algum transtorno”, disse ao Plataforma Macau o presidente da Associação dos São-tomenses e Amigos de São Tomé e Príncipe, António Costa.

Em Macau vivem atualmente entre 30 a 40 são-tomenses, a maioria com dupla nacionalidade, de acordo com os dados do dirigente associativo.

Ao sublinhar que uma representação diplomática “seria benéfica para os dois países e respetivos povos”, António Costa constata que atualmente empresários são-tomenses com eventuais negócios com a China “não passam por Macau” por não haver um consulado na região. Já para entradas na China continental, o responsável garante que os são-tomenses “não têm tido problemas com vistos”.

Uma maior aproximação entre a China e São Tomé é vista com “bons olhos” pela comunidade deste país africano radicada em Macau e leva a mesma a sentir-se “mais tranquila na sua vivência” no território, frisou António Costa.

A Associação dos São-tomenses e Amigos de São Tomé e Príncipe, criada em 2008, conta com cerca de 110 associados.

P. N.  

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