“A nossa nação orgulhosamente irá aderir à família da Associações das Nações do Sudeste Asiático [ASEAN] como seu 11.º membro. Esta conquista não é meramente um sucesso diplomático, é a concretização de uma visão. Uma visão de pertença, cooperação e destino partilhado com os nossos vizinhos”, disse José Ramos-Horta.
O chefe de Estado timorense falava na Universidade de Vitória, no âmbito do discurso anual Jean McLean, que este ano assinalou os 50 anos da morte de cinco jornalistas, de nacionalidade britânica, australiana e neozelandesa, assassinados em Balibó, a 16 de outubro de 1975 pelas forças indonésias.
“Para Timor-Leste, ingressar na ASEAN significa abrir avenidas mais amplas para o comércio, a educação, a conectividade e o empoderamento dos jovens. Significa dar ao nosso povo uma voz maior na construção do futuro da nossa região. Significa partilhar as nossas experiências, de resiliência, reconciliação e esperança, para fortalecer o espírito da ASEAN”, salientou o prémio Nobel da Paz.
Timor-Leste vai tornar-se a partir de domingo, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo da ASEAN, que vai realizar-se em Kuala Lumpur, na Malásia, o 11.º estado-membro da organização do sudeste asiático, 14 anos depois de ter apresentado o respetivo pedido de admissão.
A ASEAN foi criada em 1967 pela Indonésia, Singapura, Tailândia, Malásia e Filipinas, e integrada mais tarde pelo Brunei Darussalam, o Camboja, o Laos, o Myanmar.
Na intervenção, o Presidente timorense disse querer ver uma ASEAN “unida, a paz e estabilidade restabelecidas no Myanmar” e a sua visão do Mar da China como um “Mar de Paz e Parceria para a Prosperidade”.
“Passagem pacífica sem obstáculos para todos, reivindicações fronteiriças bilaterais resolvidas de forma pacífica, contida e civilizada, sem coerção, nem exibição de arsenais militares”, destacou Ramos-Horta.
“Vejo a ASEAN como um construtor de pontes para a parceria, envolvendo a China, o Japão, a Coreia do Sul, a Índia, os Estados Unidos, a Europa, evitando a armadilha de sermos peões nas rivalidades das superpotências”, salientou o presidente timorense.
Para Ramos-Horta, o estatuto de “superpotência da China só pode ser mantido” se aquele país for capaz de usar ‘soft-power’ inteligente para resolver reivindicações de terra e mar com “sobriedade” e respeito com todos os seus vizinhos, que devem recusar “jogar com rivalidades entre superpotências”.
A China, Filipinas, Vietname, Malásia, Taiwan e Brunei têm reivindicado a soberania sobre várias ilhas e atóis do mar do sul da China, fundamental para o comércio marítimo global e rico em recursos naturais.
Naquele mar passa 30% do comércio mundial e alberga 12% dos navios pesqueiros do mundo, bem como depósitos de petróleo e gás.