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“Temos de transitar para as novas forças produtivas”

O futuro está nas indústrias 1+4 e nas chamadas novas forças produtivas; mas é preciso investimento e know-how – não só local. Frederico Ma, presidente da Associação Comercial de Macau, diz que o tecido empresarial sabe lidar com a mudança; foi assim nas décadas de 1980/90; foi assim com a liberalização do Jogo, e assim será no futuro: “Se houver investimento de fora (...) como no passado, teremos de nos adaptar às exigências e adotar novos padrões de qualidade”

Paulo Rego

– Quais os principais objetivos da Associação Comercial no futuro próximo?

F.M. – Temos PME associadas, ligadas ao comércio, mas também outras indústrias e várias associações; somos uma espécie de grande guarda-chuva enquanto câmara de comércio chinesa. O nosso propósito é promover negócios, fazer pontes, atrair investimento para Macau; mas também ajudar os nossos associados a irem para fora; trazer investimento e tornarmo-nos globais. Estamos num processo de transição, com o mercado em constante mudança; e, mesmo na China, o comportamento dos consumidores está a mudar. Antigamente vinham e gastavam muito dinheiro, hoje a maioria dos turistas quer outras experiências. Temos de fazer a transição do modo tradicional de fazer negócios para as novas forças produtivas; e adaptarmo-nos aos hábitos da chamada geração Z.

– Foco na transição digital?

F.M. – O digital é sobretudo importante para a promoção, usando as plataformas da China continental. Mas a modernização tem muitos outros aspetos; a abordagem é mais diversificada.

– Qual é a sua agenda no Conselho Executivo?

F.M. – Represento a Associação Comercial; e tento que o Governo aumente os estímulos à economia. Temo-lo feito no passado – faremos no futuro. Principalmente durante a pandemia, trabalhámos com Governo estímulos como o cartão de consumo, e apoio ao negócio. Continuamos esse trabalho; e temos falado muito sobre a atual situação das PME.

O novo CE deve tomar a iniciativa da estratégia 1+4, onde há setores que precisam de investimento e planos de apoio. Não diria um Governo grande, mas mais proactivo em algumas dessas áreas

– Mais apoio ao consumo; ou ao negócio?

F.M. – Quando apoiamos o consumo, o objetivo é promover o negócio; se os clientes não gastam as PME não têm receitas, e não suportam as despesas. Essa é a lógica do estímulo ao consumo. Além disso, é preciso apoiar as empresas a transitarem para o as novas forças produtivas.

– Com base nas novas tecnologias?

F.M. – Novas tecnologias e novas formas de fazer negócio. Novas forças produtivas é um termo que pedimos emprestado ao Governo Central.

– O orçamento para este ano já foi aprovado na Assembleia Legislativa, por proposta do anterior Executivo. Isso limita as opções do novo Governo?

F.M. – Haverá alguma margem para novas políticas. Como estamos em ano de transição, o novo Chefe do Executivo apresentará as Linhas de Ação Governativa, em março ou abril; mas pode solicitar à Assembleia Legislativa alterações à lei orçamental. Fizemo-lo muitas vezes durante a pandemia, e temos um procedimento especial para isso. No que toca às políticas de redistribuição da riqueza – como o cheque pecuniário de dez mil patacas – todos continuam a receber, e a maioria dessas políticas vai continuar. Mas há margem para novas políticas.

Hengqin é um mercado em crescimento, tem evoluído muito rapidamente e atrai cada vez mais empresas

– Um pacote de estímulo à economia?

F.M. – Em grande escala talvez seja difícil. Embora tenhamos excedente orçamental, a margem é apertada; e ainda temos alguns desafios para cumprir as metas de receita dos casinos. Se queremos um orçamento equilibrado, sem recorrer à Reserva Financeira, é difícil um plano de estímulos em larga escala; mas penso que o novo Governo terá margem para algumas novas medidas.

– Muitas associações queixam-se de terem perdido subsídios. Isso pode alterar-se?

F.M. – Não é completamente verdade; para ser mais preciso, há novas regras e pressupostos de candidatura; mais foco na qualidade – em vez da quantidade. É verdade que isso beneficia algumas grandes associações, que já criaram os seus processos e têm funcionários para trabalhar os projetos. Talvez seja mais difícil as pequenas associações concorrerem aos financiamentos; se não tiverem mão-de-obra e know-how o subsídio pode não ser aprovado. Antes, qualquer pessoa criava uma associação e pedia financiamento; agora é preciso ajudar os associados, e a sociedade, de acordo com os objetivos do Governo.

– O que espera do novo Governo?

F.M. – Durante as consultas que o novo CE promoveu, durante a campanha, sugeriu que o Governo deve concentrar-se em algumas áreas; como na ciência e tecnologia. No passado tínhamos um Governo pequeno e um mercado grande; o novo CE deve tomar a iniciativa da estratégia 1+4, onde há setores que precisam de investimento e planos de apoio. Não diria um Governo grande, mas mais proactivo em algumas dessas áreas.

Podemos investir mais na profissionalização de serviços ligados à plataforma lusófona

– O setor privado está preparado para as indústrias 1+4?

F.M. – Durante 25 anos, após a transferência de poderes, tivemos muitas mudanças no setor privado, especialmente com a liberalização do Jogo. Corporações internacionais vieram para Macau; e na Associação Comercial ajudámos as PME a integrarem essas cadeias de fornecimento. Há muitos anos respondemos a altos padrões exigência e fornecemos seis concessionárias. As PME locais tiveram de se adaptar.

– Essa experiência pode repetir-se noutras áreas?

F.M. – À medida que introduzimos novas empresas internacionais, temos de melhorar as cadeias locais de abastecimento. Se houver investimento de fora, adaptar-nos-emos. Sempre o fizemos, mesmo antes da transferência, quando nas décadas de 1980/90 recebíamos encomendas do estrangeiro. Como no passado, teremos de nos adaptar às exigências e adotar novos padrões de qualidade.

– Os empresários de Macau estão preparados para investir na Grande Baía?

F.M. – Em 2022 estabelecemos o escritório de Guangdong em Hengqin; o primeiro fora de Macau. Aí apoiamos as PME de Macau a investir na Grande Baía; trabalhamos em estreita colaboração com o Governo, para introduzir novas políticas; e temos alguns seminários e workshops para que as empresas de Macau saibam mais sobre sistemas fiscais e leis laborais na China continental.

– A dúvida é saber se há capacidade e vontade de investir nessa oportunidade…

F.M – Algumas empresas gostariam de o fazer, até porque o mercado da China continental é muito vasto. Não estou a dizer que todas as PME devem procurar novos mercados; mas algumas cadeias de lojas são já empresas bem estabelecidas, que procuraram ativamente oportunidades na Grande Baía. Hengqin é um mercado em crescimento, tem evoluído muito rapidamente e atrai cada vez mais empresas. Tenho lá um hotel e sei que a atividade económica está a crescer, especialmente desde que foi criada a segunda linha de fronteira, em março de 2024. O setor financeiro também cresce muito rapidamente; e quem quer lá manter escritório, agora tem mesmo de lá ter funcionários; por isso muitas pessoas deslocam-se para Hengqin. Entretanto, gigantes digitais, como o Tik-Tok, também se estão a estabelecer em Hengqin.

– Os Países de Língua Portuguesa são também oportunidade para as empresas de Macau?

F.M. – Sim, porque a China atribui a Macau e a Hong Kong a missão de ajudar a atingir um elevado padrão de abertura ao exterior, incluindo a atração de talentos. É nossa responsabilidade fazê-lo. A plataforma lusófona tem vindo a crescer e, nos últimos 20 anos, alcançou resultados económicos; mas também na ciência, cultura, tecnologia, educação. Quando falamos de plataforma, não nos focamos apenas na economia, embora os resultados sejam já 20 vezes superiores aos de 2003: 20 mil milhões de dólares em volume negócios coloca os países lusófonos, no seu conjunto, na décima posição do ranking da China; depois da Austrália e antes da Índia. Portanto, é muito bom.

– Diretamente, sem passar por Macau…

F.M – Compreendo, mas temos de nos concentrar no que temos, como o Fórum Macau. Temos feito muito na área das relações externas; nas tecnologias, na cultura, e nos contactos empresariais. Macau é muito pequeno e o nosso volume de negócios é muito baixo. No futuro, temos de apoiar o setor dos serviços, nomeadamente jurídicos, consultoria, tradução, etc. Podemos investir mais na profissionalização de serviços ligados à plataforma lusófona. Quando internacionalizarmos o yuan, precisaremos de serviços de compensação e Macau pode também ter aí papel importante.

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