Seguindo passos já dados pelo interior da China e Hong Kong, Macau prepara-se para começar a testar o uso da sua própria moeda digital, a e-MOP, até ao fim do ano. Sendo que a RAEM já possui um quadro legal que permite o uso de moedas digitais, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, anunciou esta semana que a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) está a colaborar ativamente com o Banco Popular da China na criação da e-MOP.
Segundo analistas consultados pelo PLATAFORMA as vantagens do uso de uma moeda digital emitida por um Banco Central (CBDC, na sua sigla em inglês) são muitas e variadas, incluindo maior inclusão financeira e prevenção de crimes financeiros.
Para Oriol Caudevilla, Diretor do Conselho do Global Impact FinTech Forum, é preciso esclarecer as grandes diferenças entre uma CBDC e criptomoedas. “Uma CBDC é a forma digital de uma moeda fiduciária, mas mesmo assim continua a ser fiduciária. As criptomoedas não são emitidas por um banco central e não são moeda fiduciária ou moeda real de qualquer tipo, mas apenas ativos digitais ou uma classe de ativos de investimento”.
Sendo emitida pelo Estado, a CBDC oferece maior estabilidade e segurança, com o presidente da Associação de Interfluxo de Ativos Digitais de Macau, Robby Kwok, a sublinhar que ao contrário das criptomoedas, que podem ser altamente voláteis, a e-MOP “proporcionará uma opção monetária fiável”.
As CBDC garantem, por exemplo, maior flexibilidade na implementação de políticas monetárias, permitindo a bancos centrais a injeção de liquidez diretamente na economia, contornando os bancos comerciais. “Isso pode simplificar significativamente as intervenções económicas durante crises financeiras”, aponta Kwok.
Por outro lado, “ao permitir uma influência direta na oferta monetária, a CBDC pode aumentar a eficácia da política monetária”, nota Kwok. No entanto, alerta que o próprio ecossistema financeiro pode resistir às mudanças trazidas por uma CBDC, devido ao impacto que teria nos bancos comerciais e plataformas de pagamento existentes. “Se as pessoas preferirem manter CBDC diretamente, os bancos tradicionais podem ter dificuldades em manter a sua relevância.”
O especialista em finanças digitais destaca também o potencial do e-MOP na promoção da inclusão financeira de pessoas sem acesso a bancos, oferecendo uma via de acesso a serviços financeiros essenciais. “Adicionalmente, a sua rastreabilidade ajudará a combater atividades ilegais, tornando as transações mais seguras.”
Medidas de segurança
Devido ao seu formato específico, a segurança é uma das grandes preocupações no que toca à questão do uso de moedas digitais. Segundo Kwok, a e-MOP irá aproveitar ao máximo o controlo e a regulação estatal. “Com uma supervisão rigorosa, o risco de fraude será minimizado”, diz, referindo que a tecnologia ‘blockchain’ – criada originalmente como o suporte para criptomoedas como a Bitcoin -, é outro elemento que pode aumentar a segurança no seu uso, e garantir a integridade dos registos de transações.
“A cibersegurança será fundamental”, adverte. “Quaisquer vulnerabilidades podem minar a confiança do público e dificultar a adoção generalizada.”
Porém, o equilíbrio entre segurança e privacidade do utilizador apresenta outro desafio. “Embora a rastreabilidade seja necessária para prevenir atividades ilegais, devemos também garantir que a privacidade dos utilizadores é protegida. Funcionalidades que permitam um certo grau de anonimato podem ser implementadas para abordar essas preocupações.”
Caudevilla é da mesma opinião, ressalvando que qualquer desafio na implementação de uma CBDC em Macau vai depender dos pormenores do projeto. “Enquanto a e-MOP tem o potencial de melhorar a inclusão financeira e tornar os pagamentos mais eficientes, é essencial uma consideração cuidadosa do contexto único de Macau.”