Li Hui esteve no Brasil e na África do Sul, na semana passada, no âmbito daquela que é a sua quarta missão de paz, desde maio do ano passado.
A China tem procurado posicionar-se como parte neutra no conflito na Ucrânia, que já entrou no terceiro ano, apesar da sua crescente aproximação a Moscovo.
Pequim procurou contrariar as críticas de que apoia a Rússia na sua campanha na Ucrânia e apresentou um documento composto por 12 pontos sobre o conflito, no ano passado, que foi recebido com ceticismo pelo Ocidente.
Na África do Sul, e propósito do documento proposto por Pequim, Li disse que a China está disposta a reforçar a comunicação e a coordenação com o país africano e a promover a formação de uma “base comum mais alargada” que reúna o consenso internacional baseado “em seis entendimentos comuns”, segundo indicou hoje o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, num comunicado.
Segundo a mesma nota informativa, Li disse que a proposta de Pequim recebeu “respostas positivas” de mais de 110 países.
Tal como a China, a África do Sul não condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia e manteve um relacionamento ativo com Moscovo durante a guerra.
Joanesburgo também envidou esforços para pôr fim ao conflito, liderando uma delegação africana de paz a Kiev no ano passado.
Foi uma das dezenas de nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil, que não assinaram o comunicado final da cimeira de paz apoiada pela Ucrânia, realizada na Suíça, em junho passado.
A China faltou à reunião, insistindo na “participação igualitária” da Rússia e da Ucrânia. A Rússia não foi convidada para a cimeira.
Após a cimeira, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou Pequim de ajudar Moscovo a minar a reunião, que visou obter mais apoio internacional para uma solução baseada numa fórmula de paz de 10 pontos proposta por Kiev.
O plano de paz da Ucrânia exige a retirada total das tropas russas dos seus territórios ocupados, incluindo a Crimeia e partes de quatro províncias do leste da Ucrânia.
No entanto, têm surgido alguns sinais de que a Ucrânia e a Rússia estão dispostas a dialogar.
No final do mês passado, na sua primeira visita à China desde o início da guerra, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, disse ao seu homólogo chinês, Wang Yi, que Kiev estava disposta a negociar se Moscovo agisse de “boa-fé”.
A Rússia afirmou que está aberta a conversações, mas que a Ucrânia deve primeiro abandonar a sua candidatura à NATO e retirar-se das suas quatro províncias mais a leste.
Durante a sua visita ao Brasil, Li Hui afirmou que a integridade territorial de cada país deve ser respeitada, mas que as exigências para que a China pressione a Rússia a pôr fim à guerra são “irrealistas”.
“A China não é participante no conflito. A Rússia é um país independente e soberano, um membro de pleno direito do Conselho de Segurança da ONU”, disse Li, citado pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo.
“A China e a Rússia são parceiros estratégicos. Não podemos forçar a Rússia a fazer o que queremos”, vincou.
Não há “nenhuma solução simples” para o conflito na Ucrânia, acrescentou, avançando, no entanto, que a China e o Brasil querem impulsionar o consenso de seis pontos a ser adotado pelas Nações Unidas na Assembleia-Geral ainda este ano, para servir como uma proposta oficial para levar os dois lados à mesa de negociações.
A Ucrânia tem contado com ajuda financeira e em armamento dos aliados ocidentais desde que a Rússia invadiu o país, em 24 de fevereiro de 2022.
Os aliados de Kiev também têm decretado sanções contra setores-chave da economia russa para tentar diminuir a capacidade de Moscovo de financiar o esforço de guerra na Ucrânia.
A ofensiva militar russa no território ucraniano mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
*Com Lusa