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Amazónia queima na nova ‘fronteira do desmatamento’

Ivan Canabrava e Douglas Magno

Sobrevoando o rio que serpenteia o coração da floresta amazónica, um pássaro preto e branco tenta fugir duma região do norte do Brasil que os ambientalistas chamam de “a nova fronteira do desmatamento”

É um gavião-tesoura (Elanoides forficatus), uma ave de rapina cuja cauda se assemelha à de uma andorinha. 

A cena se passa no estado amazônico de Rondônia, um dos mais afetados pelos incêndios florestais. Nos últimos 12 anos, a Amazônia nunca queimou tanto em um mês de agosto. Em 2022, houve um aumento de 18% dos focos de incêndio em relação a agosto de 2021. 

A área mais crítica está localizada na encruzilhada do Amazonas, Acre e Rondônia, região quase do tamanho da Espanha conhecida como Amacro, sigla para esses três estados cujas autoridades lançaram um polêmico projeto de Zona de Desenvolvimento Sustentável em 2021, com o apoio do governo federal.

Para o Greenpeace, o real objetivo da iniciativa é “incentivar a produção agrícola” em um território habitado por 1,8 milhão de pessoas. 

“É a mais nova fronteira do desmatamento”, enfatiza Rômulo Batista, porta-voz da associação ambientalista, com quem uma equipe da AFP sobrevoou a área.

A Amacro, diz Batista, “concentrou 40% dos focos de calor de janeiro a agosto” na Amazônia brasileira.

“Sol vermelho”

Em alguns lugares, a fumaça é tão densa que a visibilidade do piloto fica bastante reduzida. O cheiro de queimado é quase insuportável. 

Nas áreas já destruídas, a paisagem é de desolação: onde antes dominava uma espessa camada verde de vegetação, agora há enormes superfícies de solo preto ou cinza escuro. 

Nas áreas que ainda queimam, as chamas funcionam como faróis em meio às nuvens de fumaça geradas por focos que ardem a poucos metros um do outro. À noite, vistos de cima, esses focos parecem pequenos vulcões em erupção. 

Para os habitantes de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, este mês de agosto foi particularmente difícil. 

“Tenho a impressão de que está três vezes pior do que no ano passado. Maltrata as pessoas, especialmente as crianças com problemas respiratórios”, disse à AFP Francisco Alan Ferreira da Silva, motorista de 33 anos. 

“É horrível, amanhece extremamente nublado, o sol bem vermelho e faz muito calor. Quando você abre a janela, você vê fuligens entrando no quarto”, explica Joyce Milena, auxiliar administrativa de 24 anos. 

O desmatamento e os incêndios florestais aumentaram acentuadamente sob o atual governo. Desde que Bolsonaro assumiu o cargo em janeiro de 2019, o desmatamento anual médio na Amazônia brasileira aumentou 75% em relação à década anterior. 

O presidente, que buscará a reeleição em outubro, rejeita as críticas, argumentando que o Brasil “preserva suas florestas muito melhor do que a Europa”, aludindo aos incêndios que devastaram a França e a Espanha neste verão boreal (inverno no Brasil).

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