Os jornalistas estrangeiros na China enfrentam “obstáculos sem precedentes” em seu trabalho, com ameaças de processos, campanhas na internet e números em queda pela expulsão de colegas, advertiu nesta segunda-feira o Clube dos Correspondentes Estrangeiros da China (FCCC).
Pequim parece estar “promovendo uma enxurrada de ações judiciais” ou ameaças de ações legais contra jornalistas estrangeiros, afirma o FCCC em seu relatório anual.
“A previsão de risco está mudando de maneira inusitada neste momento”, afirma no relatório David Rennie, diretor do escritório da revista The Economist em Pequim.
“Em particular, as organizações de notícias enfrentam advertências de que seus repórteres podem expô-las a sanções legais e processos civis ou, o mais inquietante, investigações de segurança nacional”, acrescentou.
Isto representa uma mudança “preocupante” das ferramentas prévias para controlar a imprensa, como vetar os jornalistas de alguns eventos ou criar problemas com seus vistos ou credencial.
A ameaça crescente de ações legais acontece após a detenção em 2020 do apresentador australiano Cheng Lei, que trabalhava para a rede estatal CGTN, e de Haze Fan, da Bloomberg News.
As autoridades chinesas afirmam que os dois estão detidos por suspeitas de colocar a segurança nacional em perigo.
Os jornalistas estrangeiros e suas organizações elaboraram planos de saída de emergência diante dos riscos cada vez maiores, e “os ataques apoiados pelo Estado, em particular as campanhas na internet”, dificultam o trabalho dos que permanecem, afirma o relatório.
O documento aponta a criação do sentimento de que a imprensa é a inimiga e, com isso, “a cobertura da China está sofrendo”.
O relatório é baseado em consultas com 127 dos 192 membros da FCCC.
Também destaca, com a saída de jornalistas pelo excesso de intimidação ou por expulsões, a cobertura na China é “cada vez mais um exercício de reportagem à distância”.
Em 2020, a China anunciou a expulsão de jornalistas americanos de três grandes jornais, The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal.
O relatório afirma que 18 jornalistas de meios de comunicação americanos foram expulsos em 2020.
Muitos correspondentes mantêm o trabalho de cobrir a China a partir de outros países, enquanto os jornalistas de empresas dos Estados Unidos que permanecem no país têm dificuldades para renovar as credenciais de imprensa.