O Parlamento Nacional timorense aprovou hoje instituir 14 de dezembro como Dia Nacional do Tais, o tecido tradicional de Timor-Leste classificado em dezembro pela UNESCO como Património Cultural Imaterial mundial
A resolução, que escolhe o dia do reconhecimento da UNESCO, foi aprovada por unanimidade durante a sessão plenária de hoje do Parlamento Nacional.
A resolução parlamentar insta o Governo a adotar medidas de proteção do tais, incluindo com um regime de certificação que “assegure a sua autenticidade, de acordo com a origem e processo de elaboração, e que permita impedir a comercialização de réplicas” indevidamente anunciadas como tais.
Defende ainda uma estratégia nacional para a valorização económica e promoção internacional do produto e apoios a estudos académicos e científicos do ciclo produtivo do tais, promovendo iniciativas de formação, com a participação das mulheres tecelãs, para “assegurar a preservação e transferência de conhecimentos”.
O texto recomenda ainda que o Governo adote medidas de conservação e difusão da história do Tais, “nomeadamente através da criação de um Museu do Tais com conteúdos didáticos e apelativos, contribuindo para o conhecimento e preservação da autenticidade das técnicas de elaboração do tais”.
Apoios para incubação de empresas nos vários estágios de produção e comercialização – fomentando assim o desenvolvimento da industrial têxtil do país – e apelos ao uso de tais nas cerimónias oficiais são outras das recomendações.
Os documentos preparados por Timor-Leste para a UNESCO, notam que “o ‘tais’, o têxtil tradicional de Timor-Leste, é um património cultural que tem sido passado dos ancestrais, de geração em geração”.
Leia mais sobre o assunto em: Tecido tradicional de Timor-Leste é Património da Unesco
Por outro lado, sublinha-se que assume “um papel importante na vida do povo timorense, desde o seu nascimento até à morte”, com as peças a serem usadas para receber convidados, para mostrar a identidade cultural e classe social, variando em estilo e cores de região para região do país.
“Também é usado como objeto de valor, por exemplo, no ‘barlake’ (dote) que é dado da família da noiva à família do noivo. É usado não só como um elemento para estreitar a relação entre famílias, mas também para pagar ‘multas’ quando as pessoas não seguiram as regras dentro da comunidade”, refere-se nos documentos a que a Lusa teve acesso.
Com uso tanto masculino como feminino, e em vários formatos, os ‘tais’ têm “uma variedade de cores e motivos, variando por grupos étnicos”, com cada vez mais produção nacional e o crescente uso de partes de ‘tais’ noutros produtos nacionais.
O ‘tais’ é tradicionalmente feito de algodão, com plantas naturais a ser usadas para tingir a cor, sendo normalmente tecido por mulheres, de forma manual, usando equipamentos simples como a ‘atis’, o ‘kida’, e outros.
A resolução parlamentar procura valorizar o tais como “manifestação ancestral dos usos e costumes do povo timorense” e “parte da identidade timorense, simultaneamente prática social e expressão cultural de transmissão oral” e louva a “dedicação das mulheres timorenses, guardiãs das práticas e dos saberes tradicionais de criação do tais”.
Os deputados reconhecem ainda que a industrialização e a preferência dos jovens por vestuário mais moderno “colocam em perigo a transmissão geracional dos saberes tradicionais” sobre este tecido.
E apontam o que consideram serem “lacunas no conhecimento e registo de diversos aspetos históricos e técnicos do tais, ao nível do fabrico, tipos de fibras e algodões, produtos dos quais se extraem os corantes, metodologias utilizadas na fabricação e diferenciações regionais, bem como ao nível do seu uso, os papéis sociais e de género ou as aplicabilidades daquele tecido”.
Congratulando-se com o reconhecimento da UNESCO, o parlamento considera que configura não apenas uma “grande oportunidade”, mas também se exige “forte responsabilidade para que Timor-Leste se empenhe na salvaguarda dos saberes ancestrais e na modernização daquele produto nacional”.
Um processo que passa pela modernização, tendo em conta todas as potencialidades tecnológicas atuais, e pelo reconhecimento que o produto já tem na economia de muitas famílias.
O tais, refere-se, tem ainda grande potencial para apoiar no “florescimento da agricultura, sustentável e biológica, nomeadamente com a plantação de algodão”.