O ministro da Saúde brasileiro, Marcelo Queiroga, reconheceu na terça-feira que não acredita na eficácia da cloroquina e de outros fármacos promovidos pelo Presidente, Jair Bolsonaro, para prevenir e tratar a covid-19
“Para mim, não há evidências comprovadas da eficácia desses medicamentos”, declarou Queiroga, ao comparecer pela segunda vez na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado brasileiro, que investiga eventuais omissões ou irregularidades cometidas pelo Governo na gestão da pandemia, que já fez mais de 476 mil mortos e 17 milhões de infetados no país.
A cloroquina e outros medicamentos cuja eficácia contra a covid-19 é questionada, e até negada, pela comunidade científica são distribuídos na rede pública de saúde brasileira desde meados do ano passado e promovidos por Bolsonaro como “tratamento precoce”.
Queiroga, cardiologista que assumiu o Ministério da Saúde em 23 de março último e que é o quarto titular dessa pasta desde que a pandemia chegou ao Brasil, garantiu que “não existem evidências sustentadas” sobre a tese de Bolsonaro, líder de uma extrema-direita negacionista que minimiza a gravidade da pandemia.
Um grupo de médicos que aconselhou Bolsonaro no combate à pandemia recomenda até hoje a cloroquina e insiste que o uso desse fármaco antimalárico de forma “preventiva” reduz a virulência do novo coronavírus e, com isso, alivia a pressão sobre a rede hospitalar do país.
Queiroga afirmou que o grupo do Ministério que estuda o assunto trabalha com “as sociedades médicas e científicas do país” com o objetivo de chegar a um consenso, que servirá de base a um novo protocolo de tratamento de covid-19 na saúde pública.
No entanto, considerou que a pandemia “só acabará com a vacinação em massa” da sociedade.
Nesse sentido, apesar de pouco mais de 10% dos 212 milhões de brasileiros terem recebido a dosagem completa da imunização, o ministro insistiu que, segundo as suas projeções, até ao final deste ano todos os maiores de 18 anos estarão vacinados.
Até agora, são aplicadas no Brasil as vacinas da AstraZeneca e do laboratório chinês Sinovac, produzidas no país pela Fundação Fiocruz e pelo Instituto Butantan, respetivamente.
Além disso, a vacina da Pfizer também é aplicada no país, mas em menor proporção. Segundo Queiroga, nas próximas semanas serão firmados outros contratos de compra de antídotos, um deles com a farmacêutica Moderna, que prevê 100 milhões de doses.
A previsão do Ministério da Saúde é receber, gradualmente até dezembro, cerca de 300 milhões de doses de várias vacinas, o que permitiria a imunização de todos os cidadãos maiores de 18 anos até ao final de 2021.
Queiroga fez ainda um apelo para que os brasileiros não negligenciem a dosagem completa da vacina porque, segundo dados do Ministério, 4,4 milhões de pessoas deixaram de tomar a segunda dose dos antídotos.
Ao longo da sessão de terça-feira da CPI, que se estendeu por cerca de oito horas, o relator da Comissão, Renan Calheiros, criticou o ritmo da vacinação no país e afirmou que o Brasil levaria três anos para imunizar a sua população adulta tendo em conta a média registada nas últimas 24 horas.
A CPI da Pandemia ouvirá hoje o coronel Élcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, para esclarecer as suas ações na compra e abastecimento de consumíveis para os Estados.
Já o primeiro governador a depor na CPI da Pandemia será Wilson Lima, do Amazonas, na próxima quinta-feira.
Lima, que governa um dos Estado mais afetados pela pandemia no Brasil, pediu na terça-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheça o direito de não comparecer à CPI. A defesa de Wilson Lima argumenta que a convocação de um governador é inconstitucional e viola o princípio da separação de poderes.
A pandemia de provocou, pelo menos, 3.739.777 mortos no mundo, resultantes de mais de 173,5 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.