O filho de um empresário da panificação raptado em abril no centro de Moçambique voltou ao convívio familiar após duas semanas em cativeiro, anunciou hoje a polícia, que se queixa de falta de colaboração dos familiares para investigar o crime.
“A vítima encontra-se no convívio familiar” referiu hoje, sem detalhes, Francisco Simões, comandante provincial de Manica da Polícia da República de Moçambique (PRM), que falava aos jornalistas no âmbito das celebrações hoje do 46.º aniversário da corporação.
“Mas a grande preocupação reside no facto de que há falta de colaboração por parte dos familiares das vítimas, que não conseguem trazer informações para a PRM e SERNIC [Serviço Nacional de Investigação Criminal] para as apoiar no seu trabalho”, acrescentou Francisco Simões, em alusão à falta de informações sobre as negociações com os raptores e o pagamento de resgate.
Depesh Ramesh, 49 anos, filho de um empresário de Chimoio, capital de Manica, foi raptado a 24 de abril por um grupo quando trancava o seu carro à porta de casa pelas 18:30 (17:30 em Lisboa), mas ainda são escassos os detalhes do seu reaparecimento.
Trata-se do quarto caso nos últimos dois anos e meio, só em Chimoio, em que as vítimas têm regressado a casa sem intervenção policial e após o pagamento de resgates, segundo relataram à Lusa vários empresários locais.
A Lusa contactou a vítima e os seus familiares, mas não quiseram prestar depoimentos por recear represálias.
O grupo, desconhecido, disparou dois tiros para o ar antes de concretizar o sequestro da vítima, cuja casa fica a escassos metros do comando provincial da PRM e da primeira esquadra da corporação.
Na ocasião uma testemunha contou à Lusa que os raptores surgiram no local do rapto poucos minutos antes de a vítima chegar e mantiveram-se sentados no carro, sem levantar suspeitas.
Em abril, outras três pessoas, um empresário e dois familiares de empresários, foram raptados em locais públicos – dois casos em Maputo e um Quelimane, centro do país.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou em dezembro a possibilidade de criação de uma unidade policial anti-raptos para combater a onda de crimes, com 16 casos e processos-crime registados só em 2020.
A CTA – Confederação das Associações Económicas de Moçambique, maior agremiação patronal do país, também já exigiu por diversas ocasiões um combate severo a este tipo de crime.