Ao longo de 2020, ano aziago na história da humanidade, ela esteve lá, olhando e perversamente escolhendo. Até meados de dezembro, contávamos 1.652.906 mortos em todo o mundo. E contávamos covas entre o medo e o medo, entre o pânico e o pânico, entre o sobressalto e o sobressalto. O ano escorreu no tempo. E escorreu de nossos olhos
Quando se cavam covas e mais covas com a certeza de que corpos vão lotá-las é porque se está em uma guerra. E foi assim ao longo de 2020: uma cruel guerra travada contra o vírus da Covid-19. Covas para mortes em série, covas para mortes idênticas, covas para mortes pasteurizadas, covas para morte besta — rasas e pequenas e escuras covas para gente morta, gente a quem, agora, já não fazia diferença se tinha família grande, pequena ou se nem a possuía em vida. Motivo: para a esmagadora maioria dos que partiram pelo coronavírus não houve despedida, nem velório, nem antífonas porque seria inevitável a infecção. Houve, sim, choro coletivo, porque só os seres de coração petrificado (e eles existem) conseguiram se manter impassíveis. Aos trancos e barrancos, o mundo dos vivos teve de se acostumar com a vida solitária — e só restava chorar pela solitária morte que ia acontecendo em um alucinante ritmo. Hoje, quando esse texto está sendo escrito, é quinta-feira, 17 de dezembro. Quantas pessoas morreram em todo o mundo pela Covid até essa data? É o mesmo que indagar: até aqui, quantas covas abrigam os que faleceram de Covid no planeta? Resposta: 1.652.906. Esse era, então, o número total de valas do vírus.
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