Hong Kong: No Ocidente ignora-se o conceito “um país” e distorce-se o significado “dois sistemas”

O Ex-Chefe do Executivo de Hong Kong, Tung Chee-hwa, alertou que as boas relações entre a China e os Estados Unidos da América foram prejudicadas pela situação que se vive na cidade.
Tung discursou durante a abertura da Conferência chinesa: Estados Unidos, organizada pelo South China Morning Post, na terça-feira.
Na sua opinião, existe uma campanha contra Pequim, para “conter a China e desinformar o mundo”. O Ex-Chefe do Executivo disse que Hong Kong é uma parte indiscutível da China desde 1997, ano em que o Reino Unido tranferiu a administração do território para a China. Desde aí, poderes ocidentais deixaram de ter autoridade sobre a cidade, de acordo com Tung.
Durante meses a fio, a cidade foi exposta a uma onda de protestos de natureza sociopolítica contra uma proposta de lei de extradição para a China, que permitiria a transferência de fugitivos para a China Continental. Tung refere que, durante a onda de protestos, Pequim poderia ter intervido justificadamente. “Teria sido fácil e dentro dos seus direitos, a China enviar forças militares para acabar com os protestos, mas não o fez”, defendeu Tung.

“Durante 22 anos a China não interviu nos assuntos de Hong Kong”, referiu, aludindo ao princípio de governo “um país, dois sistemas”, que vigora na cidade. “A China só quer ver o sistema a progredir”. O político ainda acusou o Ocidente de ignorar o conceito “um país” e de distorcer o signficado de “dois sistemas”, como se a China continental não tivesse autoridade nos assuntos da cidade.
Importante relembrar que Tung já foi muito importante nas relações sino-americanas, inclusive tendo casado em Nova Iorque, nos EUA. Para si, a relação entre os dois países era a “mais importante” do mundo.
Para contextualizar essa boa relação, Tung relembrou um episódio em 2008, quando o presidente norte-americano na altura, George W. Bush, telefonou ao seu homónimo chinês, Hu Jintao, para uma reunião de emergência no despoletar da crise financeira da Bolsa de Nova Iorque. As boas relações entre ambos permitiram uma iniciativa conjunta para recuperar a economia global.
Agora, num contexto pandémico, o político urge ao reatamento das relações de ambos os países para, mais uma vez, combater a pandemia de Covid-19 e as consequências económicas a nível global que o vírus tem provocado. “Os dois juntos (China e EUA) podemos resolver problemas. Sozinhos, será muito difícil”, apontou.

Atualmente a segunda maior economia do mundo e a melhor posicionada na recuperação da pandemia de Covid-19, a China, pode tornar-se a maior potência económica no decorrer da próxima década ou duas, de acordo com a curva de crescimento do PIB nacional. Esta previsão é apoiada por Tung e, na sua opinião, pode também ser a razão do corte das relações e sanções impostas pelos EUA ao país. “A China começa a assumir-se como um competidor. Essa realidade provocou ansiedade entre os países desenvolvidos do Ocidente. Para alguns virámos ameaça. Essa ansiedade é responsável pelas hostilidades que os EUA mostran contra a China, recentemente”, disse.
Tung admitiu ainda que Xinjiang e Taiwan também desempenham um papel preponderante no deteriorar das relações da China com os EUA, e com outras froças ocidentais.
Relativamente a Xinjiang, Tung disse que não está a haver genocídio e que Pequim está apenas a desenvolver um programa de reeducação e “desradicalização” porque, segundo ele, o terrorismo e extremismo tem sido um desafio nas últimas duas décadas. A China tem sido acusada pelas forças ocidentais de violar os direitos humanos de uma minoria culturar muçulmana – os uigures – na província de Xinjiang, noroeste da China
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Sobre Taiwan, Tung disse que o Ocidente está a brincar com o fogo ao encorajar a ilha a realizar exercícios militares.
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