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Taiga. Como está a morrer a maior floresta do mundo

Poluição está a tornar mais opaca a atmosfera da floresta boreal, impedindo o normal ciclo da fotossíntese. E o maior reservatório de CO2 do planeta está a regredir

Embora a Amazónia seja, provavelmente, a mais famosa das florestas e as ameaças à sua preservação um dos temas ambientais mais divulgados, a maior floresta do mundo, no entanto, está situada na parte superior do hemisfério Norte, na região do subártico. Chama-se Taiga, também conhecida por Floresta Boreal, e também ela enfrenta sérias ameaças que podem trazer graves consequências para o futuro do planeta.

Com mais de 12 milhões de metros quadrados, a floresta Taiga tem três vezes o tamanho da floresta Amazónica, e sozinha representa quase 29% da cobertura florestal do planeta – composta maioritariamente por árvores coníferas, como o pinheiro. Estendendo-se por boa parte do hemisfério norte, ela vai do norte do Alasca até ao Japão, passando pela Sibéria, Canadá, Gronelândia, Noruega, Finlândia, Rússia e Suécia, e é também o maior reservatório de CO2 do planeta.

Até há pouco tempo, os cientistas acreditavam que uma das poucas consequências positivas do aquecimento global seria o facto de o aumento da temperatura fazer com que as florestas colonizassem as partes mais frias do planeta, como é o caso da região subártica por onde se estende a Taiga (designação russa) ou Floresta Boreal (mais usada por norte-americanos).

No entanto, um estudo recente vem mostrar uma outra realidade bem mais gravosa. Com a poluição tornar mais opaca a atmosfera nas regiões árticas, bloqueando os raios do sol e diminuindo a fotossíntese, milhares de quilómetros quadrados de floresta boreal já morreram ou estão a morrer, ao mesmo tempo que falta luz suficiente para permitir o crescimento da nova vegetação, refere o estudo citado pelo jornal espanhol El País.

Geralmente, as condições climáticas difíceis desta região gelada fazem com que o bioma sobreviva “hibernado” na maior parte do ano, com temperaturas que podem chegar aos 50 graus negativos, crescendo apenas durante os meses de verão. Ora, esperava-se por isso que o aumento das temperaturas trazido pelas alterações climáticas acelerasse o desenvolvimento da floresta boreal para novas terras. Mas o estudo mostra que, ao invés, a taiga está a regredir desde os anos 1970.

Os cientistas apontam como causa a poluição gerada pelo homem tanto nas áreas geográficas abrangidas pela floresta boreal como a poluição de outras áreas longínquas.

Os investigadores partiram da análise da espessura dos anéis e a densidade da madeira de centenas de árvores mortas e algumas dezenas de árvores vivas num raio de 150 quilómetros ao redor de Norilsk, cidade localizada no centro da Sibéria, que é a cidade de mais de 100.000 habitantes mais a norte do planeta.

Norilsk é também um dos maiores complexos de mineração do mundo e a atividade de extração e processamento emitiu 1,8 milhões de toneladas de substâncias poluentes somente em 2018, 98% na forma de dióxido de enxofre.

Os resultados desse estudo mostram altas concentrações desses metais e enxofre na madeira de árvores mortas. Além disso, os solos também aparecem contaminados, o que dificulta o surgimento de novas árvores. E a mortalidade é maior quanto mais perto das minas, de acordo com os resultados publicados na revista científica Ecology Letters , chegando até aos 100%.

Essas emissões poluentes têm um efeito ainda mais profundo e de longo alcance: estão a escurecer a atmosfera. A maior presença de aerossóis gera uma névoa que captura ou reflete boa parte da radiação solar e interrompe o normal ciclo da fotossíntese.

“No estudo mostramos que a dissociação entre o crescimento das árvores e o aumento da temperatura se deve, pelo menos em parte, à poluição do ar”, diz o ecologista da Universidade Federal da Sibéria e coautor do estudo Alexander Kirdyanov.

E Norilsk é apenas uma pequena parte do problema. “Esse fenómeno já foi observado em muitas regiões da zona boreal”, esclarece Kirdyanov, citado pelo diário espanhol.

“Na realidade, o Ártico converteu-se numa espécie de depósito de substâncias poluentes e aerossóis emitidos não apenas por instalações no solo ártico como também precedente de outras latitudes mais baixas. Em outras altas latitudes do norte ao longo da floresta boreal, as árvores também estão a sofrer”, afirma, numa nota da Universidade de Cambridge, Ulf Büntgen, coautor do estudo.

Para Büntgen a deterioração acelerada do maior bioma do planeta pode ter consequências tão grandes quanto a da Amazónia.

O especialista florestal espanhol Raúl Sánchez, contactado pelo El País, corrobora as preocupações, lembrando também as pressões da indústria madeireira e os grandes incêndios que têm atingido a região do Ártico nos últimos tempos.

A consequência de médio prazo, diz, será o um acelerar do aquecimento global: “Vai alterar todo o ciclo do carbono. Ao invés de ocorrer o sequestro de CO2 [dióxido de carbono] que era esperado com a expansão da floresta boreal, assistiremos a uma maior libertação desse CO2, que será consequência da morte da taiga”.

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