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Queda da moeda afunda economia do país

Raquel Rio e Mário Baptista

A moeda angolana mantém-se em queda e em setembro bateu um novo recorde anual. Os esforços de diversificação e as injeções de capital parecem não tapar um buraco cada vez mais fundo em Angola. A ministra das Finanças, Vera Daves, já avisou os parceiros internacionais que sem o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI) o país dificilmente consegue sobreviver.

O kwanza desvalorizou 3,71 por cento face ao dólar em setembro. No final do mês, 1 dólar valia 630,636 kwanzas. A desvalorização do kwanza intensificou-se assim no período, atingindo, pela primeira vez, uma média mensal acima dos 600 kwanzas por dólar desde o início do ano.

Segundo as tabelas de câmbio oficial do Banco Nacional de Angola (BNA), a 31 de janeiro, a taxa de câmbio média do kwanza era de 507,421 face ao dólar, o que significa que a moeda angolana depreciou cerca de 24 por cento em oito meses.

Hoje o câmbio de referência do BNA era de 639,127 kwanzas/dólar.

Em meados de setembro, a consultora NKC Research estimou que o kwanza vai desvalorizar-se 50 por cento este ano face à moeda norte-americana, com a inflação a chegar ao valor mais alto desde dezembro de 2017.

De acordo com vários analistas, a subida da inflação nos primeiros três trimestres deste ano deveu-se “principalmente à descida dos preços do petróleo e à liberalização cambial do último ano, que causou uma queda do valor do kwanza em 20 por cento desde o início deste ano”.

No primeiro leilão de divisas a prazo, realizado na semana passada, o BNA disponibilizou 25 milhões de dólares e recebeu ofertas de 18 bancos, resultando numa taxa média de 650,3 kwanzas por dólar, assumindo uma depreciação de 1,8 por cento.

“Participaram do referido leilão um total de 18 bancos comerciais, com uma procura global de 33,3 milhões de dólares, resultando numa taxa de câmbio futura do kwanza em relação ao dólar norte-americano para 30 dias de 650,3870”, indicou na altura o banco central.

Com este mecanismo, os bancos sinalizam que esperam uma depreciação de 1,8 por cento do kwanza face ao dólar em 06 de novembro, ficando obrigados a comprar a quantidade de divisas a que se comprometeram, o que pode originar lucro se o valor do kwanza estiver acima dos 650,3 por dólar ou prejuízo caso aconteça a situação inversa.

Crise cambial acentua económica

A ministra das Finanças de Angola considera que a subida do rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) não mostra uma degradação da situação económica de Angola nem um endividamento excessivo, mas é sim o resultado da desvalorização do kwanza.

“A grande redução no fluxo de moeda externa, que normalmente vem das exportações petrolíferas, originou uma depreciação na taxa de câmbio e, por isso, o kwanza está mais fraco, o que causa um enorme impacto no serviço da dívida, já que uma grande porção do portefólio do país está ligado à taxa de câmbio”, explicou a governante esta semana durante uma conversa com o diretor do departamento africano do FMI, no âmbito dos Encontros Anuais, que têm decorrido em formato virtual devido à pandemia.

“É por isso que o rácio da dívida sobre o PIB subiu tão depressa”, argumentou a governante de Angola, que deverá ver este indicador, seguido de perto pelos mercados, subir para mais de 120 por cento este ano, reduzindo-se gradualmente até chegar a cerca de 70 por cento em 2025, segundo as previsões do FMI.

Para Angola, a pandemia surgiu na pior altura possível: no princípio deste ano, a economia estava no quarto ano de recessão e deverá cair novamente este ano (4 por cento), e o kwanza não tinha ainda recuperado da liberalização parcial da taxa cambial anunciada pelo BNA em 2018 e o país planeava mais uma emissão de dívida pública, de 3 mil milhões de dólares, nos mercados internacionais para equilibrar o orçamento.

Além disso, a descida do preço das matérias-primas trouxe uma escassez ainda maior de dólares e um aumento da inflação para a casa dos 20 por cento, tornando as condições de vida ainda mais difíceis para os angolanos.

O confinamento ao nível global devido à pandemia originou uma queda abrupta na procura mundial, deixando Angola sem mercado para escoar o petróleo que produzia, e que já assim era limitado também pelo acordo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que impunha limites à produção.

O confinamento por Angola e o aumento das despesas em saúde colocaram o país numa situação em que, “sem ajuda não seria possível sobreviver”, como disse a ministra na conversa com Abebe Aemro Selassie.

O FMI aumentou o programa de ajuda financeira a Angola, de 3,7 mil milhões de dólares para 4,5 mil milhões, permitindo um desembolso imediato, já no mês passado, de mil milhões de dólares que vão equilibrar o orçamento e ser canalizados para a proteção social dos mais desfavorecidos, segundo a ministra.

Para Vera Daves, o prolongamento para 2021 da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida “foi crucial para garantir que o país sobreviveu até agora, e esse período de alívio será muito útil para Angola e para todo o continente africano”.

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