O Presidente de Angola, João Lourenço, admitiu que ainda não são previsíveis resultados positivos da reestruturação económica nacional, esperando-se uma “situação social preocupante”.
“As nossas esperanças de começar a obter resultados positivos depois do esforço de reestruturação da economia nacional (…) não se vão concretizar a breve trecho, em razão dos constrangimentos atuais”, declarou João Lourenço num vídeo pré-gravado e transmitido esta segunda-feira na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque.
O chefe de Estado explicou que os atuais constrangimentos provocados pela pandemia de covid-19 por todo o mundo “desarticulam a cadeia produtiva, afetam os preços dos principais produtos de exportação, paralisam os serviços e outros setores vitais da economia, desencadeando níveis de desemprego bastante altos e uma situação social preocupante”.
João Lourenço disse que o país teve tomar “medidas difíceis e com um impacto bastante duro sobre a vida das populações”, e ressalvou que os recursos para financiar os setores produtivos da economia nacional “tiveram que ser desviados (…) para atender às necessidades de biossegurança e outras de caráter epidemiológico urgente”.
“Este problema sanitário global paralisou toda a dinâmica que se perspetivou em termos de retoma da economia mundial que, após a crise económica iniciada em 2008, dava sinais animadores de recuperação e muito particularmente em países em vias de desenvolvimento, como no caso de Angola”, afirmou.
Segundo os dados mais recentes, Angola regista 155 mortos provocados pela covid-19 e 4.236 casos de infeção. A pandemia já provocou mais de 965 mil mortos no mundo desde dezembro.
Antigo ministro da Defesa de Angola (2014 a 2017), João Lourenço considerou o investimento direto nas economias dos países em vias de desenvolvimento como “fundamental” e “como a grande equação para o seu crescimento económico e desenvolvimento”.
Perante a Assembleia Geral da ONU, organização que completa 75 anos em outubro, o Presidente angolano sugeriu a mobilização dos países desenvolvidos no sentido de “criarem fundos de apoio ao investimento em África” como meios para os “investidores interessados em realizar negócios no continente africano”.
Além da iniciativa de alívio da dívida dos países em desenvolvimento por parte do G20, João Lourenço reconheceu e agradeceu o apoio e a “solidariedade de outros países, de organizações internacionais, de empresas e de organizações não-governamentais nacionais e estrangeiras, assim como de cidadãos individuais”.
Em matéria de segurança internacional, o chefe de Estado angolano debruçou-se sobre problemas de terrorismo em África e processos eleitorais, antes de reiterar a “necessidade urgente” de reestruturação na ONU e no Conselho de Segurança daquela organização internacional, constituída por 193 Estados-membros.
João Lourenço pediu que o Conselho de Segurança da ONU adote uma composição que “melhor reflita a representatividade dos povos, das nações e dos continentes”.
O órgão é atualmente composto por 15 membros, cinco permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França; um reflexo do esquema de poder há 75 anos) e 10 membros não permanentes, dos quais apenas três são africanos (África do Sul, Níger e Tunísia), com mandatos de dois anos.
O discurso de João Lourenço foi incluído no primeiro dia do debate geral deste ano da ONU, realizado com a presença limitada de representantes e diplomatas na sede da organização e com discursos gravados em vídeo de chefes de Estado e de Governo.