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Tensão militar regressa à fronteira

Johnson Chao com DN

A tensão entre a Índia e a China na fronteira de Ladakh, nos Himalaias, voltou a aumentar esta semana. O PLATAFORMA falou com Wong Tong, comentador de assuntos militares de Macau. Pessimista sobre a situação atual, o especialista disse acreditar que os dois lados podem caminhar para um confronto militar direto na região.

“A China ofendeu os governos ocidentais devido ao novo coronavírus causador da Covid-19 e à lei de segurança nacional aprovada para Hong Kong. Por outro lado, a Índia aproveitou essa situação para iniciar os conflitos fronteiriços. Mas os chineses não vão desistir do jogo. Os dois lados sofreram baixas numa primeira escaramuça registada em junho último naquela zona fronteiriça, a qual foi sanada através da intervenção de altos funcionários da duas partes, evitando-se o estalar de um conflito armado. Quanto tempo pode ficar a situação sob controlo? Não sei”, disse.

Para Wong Tong, os dois lados podem acabar por abrir fogo sobre o rival, mas previu que “um agravamento do conflito pode ficar-se apenas por uma pequena escala”. Lembrou ainda que “a China e a Índia têm lidado com esta questão fronteiriça desde 1949”. Todavia, assinalou, nos últimos 10 anos, “a China aumentou as infraestruturas na região e tem capacidade para enviar milhares de soldados em apenas uma semana”. 

“Esta é uma corrida militar e uma corrida de infraestruturas”, concluiu.

As tensões entre a Índia e a China voltaram a aumentar esta semana, depois de se terem acusado mutuamente de tentarem tomar território através da disputada fronteira nos Himalaias.

A troca de acusações entre as duas nações mais populosas do mundo deu-se apenas dois meses após um combate corpo a corpo em alta altitude entre as respetivas tropas que deixou pelo menos 20 soldados indianos mortos e um número indeterminado de vítimas do lado chinês.

Esta semana a Índia acusou a China de procurar atravessar a fronteira não oficial na região de Ladakh no final do sábado, enquanto Pequim acusou as tropas indianas de uma ação semelhante na segunda-feira.

Nova Deli e Pequim afirmaram estar determinados a defender os respetivos territórios.

A hostilidade entre os vizinhos com armas nucleares encontra-se agora num dos níveis mais elevados desde que travaram uma guerra fronteiriça em 1962.

Os dois países enviaram para a região dezenas de milhares de soldados, apoiados por tanques e aviões de combate, desde a brutal batalha de 15 de junho, travada com tacos de madeira e punhos, na qual a China sofreu um número não revelado de baixas.

Um acordo militar entre os dois estados proíbe o uso de armas de fogo na fronteira.

As conversações diplomáticas e militares desde então têm feito poucos progressos aparentes e o rancor tornou-se evidente nas descrições do último confronto.

O Ministério da Defesa da Índia afirmou na segunda-feira que as tropas chinesas “realizaram movimentos militares provocatórios para alterar o status quo” no sábado.

O comando regional do Exército de Libertação Popular da China (ELP) afirmou em comunicado que a Índia estava “a violar gravemente a soberania territorial da China” com uma operação realizada na segunda-feira e exigiu a retirada das tropas indianas.

Os governantes indianos não se pronunciaram sobre as reclamações chinesas. No domingo, o ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, S. Jaishankar, queixou-se das movimentações chinesas numa entrevista publicada pelo Hindustan Times. “Temos um número muito grande de forças chinesas (na fronteira) e francamente não sabemos porquê”, disse.

Os meios de comunicação indianos, citando fontes militares, disseram que as forças do Exército da China tentaram tomar as colinas tradicionalmente reivindicadas pela Índia em torno de Pangong Tso, um lago a 4.200 metros de altitude.

“As tropas indianas anteciparam esta atividade do ELP na margem sul do lago Pangong Tso, tomaram medidas para reforçar as posições e impedir as intenções chinesas de mudar unilateralmente os factos no terreno”, disse o Ministério da Defesa indiano.

O jornal Business Standard disse que no início da semana uma força especial indiana tentou atingir o topo que a China considera ser seu.

O comunicado do ELP alegou que as forças indianas se envolveram em “provocação aberta e causaram tensão na situação fronteiriça”. Esclareceu que a China estava a tomar “as medidas de resposta necessárias”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou anteriormente que as forças militares do país “sempre respeitaram rigorosamente” a fronteira que nunca foi oficialmente delimitada.

Os residentes de Leh, a principal cidade de Ladakh, disseram que a estrada principal para a zona de conflito estava novamente fechada no meio de uma nova vaga de caravanas militares para a fronteira.

As incursões fizeram manchetes nacionais e agitaram a bolsa de valores de Mumbai, com o principal índice Sensex a perder mais de dois por cento, na sequência de notícias sobre o novo confronto com o vizinho gigante.

No meio de apelos a boicotes de mercadorias chinesas, a Índia aumentou a pressão económica sobre Pequim desde a batalha de junho e advertiu repetidamente que as relações sofreriam a menos que o ELP recuasse.

A Índia baniu pelo menos 49 empresas chinesas, incluindo a plataforma de vídeo TikTok, congelou negócios com outras empresas chinesas, incluindo a rede 5G no país e reteve bens chineses nos postos aduaneiros.

A China queixou-se da retaliação e avisou que os consumidores indianos irão sofrer.

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