Pouco depois do início do surto do novo coronavírus na China, o sistema de controlo rígido da informação e falta de transparência no Continente e os problemas de higiene e segurança alimentar surgiram como fatores determinantes para o descontrolo que se verificou na primeira fase de expansão da doença em Wuhan e na província de Hubei. Todavia encarar a questão como “o vírus da China” era não apenas injusto e incorreto, como um erro. A entrada em força do Covid-19 na Europa e Estados Unidos nas últimas duas semanas evidencia o teste que o surto coloca aos serviços de saúde, capacidade de resposta e de gestão de crises de saúde pública também nos países desenvolvidos.
Estamos assim perante uma crise que deverá (deveria) fazer soar o alarme para algo que requer ação coletiva e concertada. Os mercados de comércio de carne de animais selvagens na China, as deficiências nos mecanismos de resposta à crise na Europa ou as lacunas dos serviços de saúde nos Estados Unidos são, na verdade, problemas globais. Além dos planos nacionais de combate a esta crise, urge tomar medidas de fortalecimento da cooperação internacional.
Há que avançar para uma cimeira mundial de emergência e articular os tempos de resposta, com foco na imperiosa necessidade de avanços científicos e na aprendizagem com as melhores práticas de combate à epidemia. Paralelamente, não há como subavaliar o impacto económico à escala global desta crise. Se em 2008 moveram-se mundos e fundos para responder ao cataclismo financeiro do subprime – sem, no entanto, tratar-se da raiz neoliberal do problema –
– onde está agora a coordenação de políticas monetárias e financeiras das grandes economias do G20? Onde está o multilateralismo?
A saúde é um bem público global e coletivo.
José Carlos Matias 13.03.2020
