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“Sistema de gestão de rede” no combate ao vírus

Já passou um mês desde que a cidade de Wuhan foi fechada (dia 23 de janeiro) e que grande parte das províncias chinesas adotaram medidas de prevenção e controlo contra a epidemia. O sistema de rede foi um dos modelos adotados na China continental para estancar o novo vírus. O modelo está a suscitar crítica social devido a abusos de alguns funcionários.

O Governo tem incentivado a que a população fique em casa e que se evite o fluxo de pessoas, de forma a controlar a transmissão da doença. Na maior parte das cidades chinesas repete-se o cenário: metrópoles vazias, com as principais artérias sem gente. Tirando supermercados, lojas de conveniência e farmácias que fornecem produtos de necessidade diária, quase todos os restaurantes, shoppings, lojas, templos, museus e outros locais turísticos onde se juntavam multidões estão agora fechados. Várias autoestradas estão também parcialmente encerradas.

Diversas medidas de prevenção foram implementadas por todo o país, com algumas diferenças conforme a gravidade da situação em cada cidade e província. As medidas e a sua eficácia, que abrangem uma área de 9,6 milhões de quilómetros quadrados e uma população de 1,3 mil milhões de pessoas, puseram à prova a liderança do país.

A China implementou um sistema de gestão de rede, através do qual as ordens e medidas de prevenção são decididas pelos órgãos no cimo da hierarquia e gradualmente transmitidas às autoridades locais e, finalmente, aos habitantes.

Segundo o Nanfang Daily, um jornal de Guangdong, nos últimos anos a província tem implementado o sistema. Por norma, cada rede inclui cerca de 300 a 500 famílias ou 1000 pessoas. As cerca de 25.932 comunidades de toda a província estão divididas em 140 mil redes, que contam com 177.382 “operadores”, funcionários incumbidos de implementar e transmitir a nível local as ordens definidas pelo Governo central, provincial ou local.

Graças a um grande número de “operadores de rede”- funcionários das comissões de administração locais ou membros do Partido – é possível controlar a implementação de medidas de administração a nível local. As comissões locais são a base das zonas urbanas chinesas e servem de intermediário entre o Governo e a população, embora o partido possa também criar filiais dentro das mesmas.

Controlo máximo

O distrito de Xiangzhou em Zhuhai, uma das principais zonas urbanas da cidade, criou também um sistema de administração em rede de três níveis, cobrindo mais de 260 mil famílias. Departamentos a vários níveis assumem a liderança de operadores de rede, como profissionais de saúde, polícia local, membros da força de defesa e funcionários de serviços sociais, na promoção das medidas de prevenção da epidemia.

No local onde moro, uma comunidade residencial em Zhuhai, Guangdong, constituída por mais de 200 edifícios e com cerca de cinco a seis mil habitantes, todos os anos, na altura do Ano Novo Chinês, várias famílias recebem parentes do Norte do país, que vêm para Zhuhai para fugir às temperaturas frias, vendo-se por isso muita gente de fora.

Desde o início desta época de ano novo que as comissões exigem que qualquer pessoa que venha para Zhuhai, especialmente da província de Hubei, se registe e declare a entrada. Os funcionários visitam também todas as habitações para confirmar se existe alguém de Hubei a viver nas mesmas. No caso de haver, é exigido que os residentes de Hubei passem por um período de quarentena e isolamento de 14 dias com a temperatura a ser medida diariamente. Será também entregue um comunicado na habitação caso seja necessário que todos os residentes entrem em isolamento.

No dia 3 de fevereiro foram confirmados dois novos casos na cidade, levando a que as medidas de prevenção fossem reforçadas. Limitou-se a entrada de pessoas na cidade e foi implementada uma medição de temperatura na fronteira. Além dos esforços das equipas de limpeza em garantir que corrimões e elevadores são limpos diariamente para prevenir a transmissão do vírus, foram também desinfetadas as ruas. Quase todas as lojas em ruas comerciais da cidade estão fechadas desde o início deste mês devido a exigências do Governo. Porém, com o retorno da população aos empregos, e de forma a prevenir grandes fluxos de população, começaram a ser emitidos cartões de residência que, à semelhança dos bilhetes de identidade, devem andar sempre com os próprios.

O trabalho de controlo é feito através de “operadores de rede”. As comunidades estão divididas em grupos de cerca de 200 edifícios, cada um com um grupo de WeChat específico, no qual um “operador” informa regularmente os habitantes sobre as formas corretas de limpeza, controlo, prevenção e isolamento, além de responder a outras necessidades das famílias.

O sistema de rede determina também que os funcionários tenham algum nível de autoridade, podendo decidir quem tem de ficar em isolamento, quem está limitado de viajar, e até quem pode ou não voltar para casa.

Entretanto, já foram denunciadas violações de autoridade por parte de alguns “operadores”, sobretudo através do Weibo. Alguns dos exemplos de abusos incluem uma família que foi atacada por um “voluntário” enquanto estava em casa a jogar mahjong, a quarentena de 14 dias forçada sobre um grupo de pessoas que estava a fazer exercício sem máscara, e residentes impedidos de entrar nas próprias casas por estarem a voltar de outro local.

As críticas nas redes sociais levaram a que na maioria dos casos as autoridades locais agissem, obrigando, por exemplo, a que a família que estava a jogar mahjong recebesse um pedido de desculpas do operador em causa.

Wendi Song 21.02.2020

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