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“Não acredito que a situação política tenha impacto no curto prazo”

Mike Goodridge, à frente do Festival Internacional de Cinema de Macau, garante que a crise política em Hong Kong não teve influência nos critérios de seleção e conteúdos do evento por enquanto. O diretor do evento espera uma quarta edição com mais audiência apesar de este ano contar com menos um dia e menos filmes.

– “Green Book”, de Peter Farrelly, foi um dos vencedores dos Óscares e esteve no festival no ano passado. O que significa ter filmes premiados em festivais de cinema como os Óscares no programa em Macau?

Mike Goodridge – No ano anterior, já tínhamos passado o “The Shape of Water”, que também ganhou um óscar. Tivemos muita sorte. Não fazíamos a mínima ideia de que Green Book iria ganhar. Também passamos o “The Favourite” e o “Roma”, que também ganharam. Queremos trazer o melhor cinema até aqui, o melhor cinema mundial. O ano passado foi especialmente fortuito e bom porque tivemos uma oferta de muita qualidade.

– Sente que, depois de ter filmes premiados nos Óscares, o festival é olhado de outra forma?

M.G. – Claro que sim. Também temos muita sorte de o festival ser em dezembro, porque conseguimos filmes que saem mais tarde e depois do festival do Canadá e de Veneza, que têm lugar no fim de agosto, meados de setembro, e que são festivais de alto nível, com muitas estreias. 

– Podemos esperar filmes do mesmo nível, ou seja com potencial para ganharem Óscares?

M.G. – Sim. Estamos a tentar trazer filmes bastante bons tanto em inglês e chinês, como filmes internacionais de outros países. Este ano, o festival vai ter menos um dia portanto o programa será mais curto porque dezembro vai ser um mês importante para Macau. Mas posso garantir que vamos ter grandes filmes e continuamos a trabalhar para aumentar a oferta.

– No ano passado, o evento contou com a projeção de 54 filmes entre os quais onze estavam na principal competição do evento. E este ano?

M.G. – Este ano teremos cerca de 50, menos que na edição passada porque será menos tempo. Vai ser de 5 a 10 de dezembro, para apanharmos o fim-de-semana e conseguirmos atrair famílias também.

– E ao nível de filmes da região? 

M.G. – Temos a secção “Novo Cinema Chinês”, que expandimos, e que inclui os filmes falados em chinês, o que significa que podem ser da China continental, Hong Kong, Macau, Taiwan, Singapura, Malásia. Este ano teremos mais filmes nesta secção, serão oito [no ano passado foram seis].

– Porque se decidiu aumentar os prémios especiais para a secção “Novo Cinema Chinês”, que passam a incluir galardões para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhores Ator e Atriz?

M.G. – No ano passado, tínhamos um prémio. Este ano temos cinco. Também vamos ter cinco júris. No júri, teremos grandes nomes de fora, do ocidente. Decidimos expandir porque, obviamente, estamos nesta região e queremos chamar a atenção para este cinema. Um dos objetivos deste festival é ser uma ponte entre o ocidente e oriente, e trazer a indústria internacional até aqui. É uma excelente oportunidade de mostrar estes filmes à indústria de fora, que não são vistos pelo resto do mundo mas são excelentes. Há cinema independente incrível que é realizado, tanto no Continente como na região, para o qual queremos chamar a atenção.

– Disse que viriam nomes importantes para júri. Pode divulgar?

M.G. – Vamos ter um realizador muito interessante no júri, mas não posso adiantar mais detalhes.

– E ao nível de filmes de outras esferas, como dos países de língua portuguesa?

M.G. – Já temos alguns sinalizados, e continuamos à procura. De Portugal ainda não temos nada. A indústria portuguesa não é grande. No ano passado, tivemos o filme do Ivo Ferreira e o Diamantino. Este ano não temos nada do Miguel Gomes e de realizadores assim. Mas continuamos à procura, é até ao último minuto.

– Tal como nas edições anteriores o evento vai contar com apresentações especiais?

M.G. – Sim, vamos ter galas e outros eventos. Também vamos ter o World Panorama, na qual vamos passar filmes que estiveram nos melhores festivais internacionais, e que ainda não passaram nesta parte do mundo. 

– Já foi anunciado para este ano uma nova secção de competição, “Curtas”. Pode dar mais detalhes? 

M.G. – Um dos grandes objetivos do festival é trabalhar de perto com a indústria cinematográfica de Macau, que é pequena mas muito ambiciosa. Queremos ajudar os jovens cineastas o mais que pudermos. Ficámos bastante satisfeitos com o facto de Tracy Choi ter ganhado o Prémio Especial do Júri, mostra que a indústria se está a profissionalizar e que começa a crescer uma cultura. E nós podemos ajudar quando trazemos a indústria internacional até aqui, e conseguimos exportar realizadores e filmes locais. Temos um acordo com TorinoFilmLab, [que prevê um programa de estágios para realizadores de Macau permitindo a deslocação de três equipas do território a Turim, em Itália, para participar em dois workshops – Elaboração de Argumentos e Produção Criativa – e a possibilidade de estarem presentes no Festival de Cinema de Turim em novembro]. Para esta secção, convidámos escolas de cinema e instituições da China Interior, de Hong Kong e de Macau para submeterem curtas que depois selecionamos. Serão apenas oito.

– E quanto ao Prémio Especial do Júri, mantém-se o valor da edição anterior, 15 mil dólares norte-americanos?

M.G. – O prémio será mais ou menos o mesmo. 

– Além dos embaixadores já anunciados, virá mais algum nome forte como Nicolas Cage no ano passado? 

M.G. – Sim, teremos um nome importante como esse mas que também ainda não podemos divulgar. 

– O orçamento vai rondar as 50 milhões de patacas à semelhança da edição anterior?

M.G. – Acho que nada mudou e que será mais ou menos o mesmo. 

– É suficiente? É um valor muito aquém de outros festivais internacionais.

M.G. – Tendo em conta o tamanho do festival, acho que o orçamento é bastante bom. Cannes, Toronto e outros festivais têm orçamentos melhores mas também têm mais de 300 filmes, centenas de convidados. Vou sempre dizer que queremos mais para que possamos trazer nomes maiores e filmes melhores. Mas acho que temos conseguido fazer coisas muito interessantes com este orçamento. 

– Como olha para o trabalho que tem sido desenvolvido por outras entidades locais ao nível da divulgação do cinema e sobretudo no apoio a um cinema mais independente, como faz a Cinemateca?

M.G. – Há duas correntes que o Governo está interessado em apostar: em criar espaços e canais para se ver cinema, tanto blockbusters de Hollywood como outro estilo de cinema, que a Cinemateca tem feito tão bem e que constrói outro tipo de audiência e a expande, e que também estamos a tentar fazer. E depois há a parte da realização. Trata-se de Macau construir uma indústria própria.

– Referiu, no ano passado, que na próxima edição queria alargar a audiência. 

M.G. – É a terceira edição que organizo, e noto um aumento na audiência, que era uma coisa que me preocupava muito por ser uma cidade com apenas 600 mil habitantes. É verdade que há muitos turistas, mas que não vêm propriamente aqui para ver cinema. Há muito trabalho que tem de ser feito para chegar a audiências específicas, como as outras comunidades aqui residentes, o objetivo é conquistar a população em geral. 

– Como é que olham para o contexto da Grande Baía e como pensam posicionar-se?

M.G. – Somos bem específicos em Macau, o festival é pequeno. Se olharmos para a região, temos um festival em novembro em Taipé, em dezembro há outro em Hainão, que tem o apoio do Governo central. Mantemos o tamanho que é bastante mais pequeno que os restantes da região. Portanto não há aqui uma competição. Temos uma parceria com o Festival Internacional de Cinema de Xangai, que é o maior do Continente, e a Academia de Artes e Cinema de Xangai, com o First, que é um festival no norte do país e direcionado para primeiros realizadores. Estamos a criar parcerias com festivais da região e internacionais, como o Sitges, em Espanha, na Argentina, Fontasious, em Montreal np Canadá. 

– O contexto socio-político que se vive agora, em Hong Kong, teve alguma influência e impacto no evento: falo em termos de seleção de filmes e também ao nível da audiência esperada?

M.G. – Obviamente que estamos todos preocupados com o que está a acontecer. Até agora ainda não teve qualquer impacto, mas não sabemos se vai ter, e esperamos que se resolva tudo rapidamente. O festival vai acontecer daqui a algum tempo, e creio que não vai haver alteração de planos. 

– Mas ao nível do programa e critérios de selecção houve alguma alteração?

M.G. – Não acredito que a situação política tenha um impacto no conteúdo dos filmes no curto prazo. Não nos está a afetar em termos de avançar com o festival. 

Catarina Brites Soares 18.10.2019

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