Durante cerca de uma semana, os olhos do mundo cinematográfico estiveram colocados em Macau. Quase 50 filmes e uma mão cheia de estrelas passaram pelas salas de cinema e passadeiras vermelhas do território. A 2.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) chegou ao fim e não faltaram motivos para se ver bons filmes.
“Beast” (Reino Unido), “The Cakemaker” (Israel/Alemanha), “Custody” (França), “Foxtrot” (Israel/Alemanha/França/Suíça), “The Hungry” (Reino Unido/Índia), “Borg McEnroe” (Suécia/Dinamarca/Finlândia), “Hunting Season” (Argentina/Estados Unidos da América/França/Alemanha/Qatar), “My Pure Land” (Reino Unido), “Three Peaks” (Alemanha/Itália) e “Wrath of Silence” (China) foram os 10 filmes em competição e a escolha dos vencedores não se afigurou nada fácil.
Para 13 categorias diferentes, o júri presidido pelo realizador francês Laurent Cantet escolheu os respetivos vencedores. Além da “Competição”, o festival deste ano incluiu ainda as secções “Panorama”, “Gala”, “Adagas Voadoras” e “Fogo Cruzado”, esta última categoria composta por filmes de realizadores consagrados.
Macau esteve representado por 16 filmes – alguns deles produzidos no âmbito do programa “Local View Power”, promovido, desde 2007, pelo Centro Cultural de Macau –, numa iniciativa que serviu, sobretudo, para apoiar o desenvolvimento da indústria cinematográfica local.
Depois de na primeira edição do IFFAM, Portugal ter sido um notório vencedor ao arrecadar os prémios de melhor realizador (Marco Martins) e melhor ator (Nuno Lopes) no filme “São Jorge”, este ano o país apresentou, fora da competição, o filme “A Fábrica de Nada”, do realizador Pedro Pinho, que esta semana surgiu em primeiro lugar na lista dos Melhores Filmes de 2017 Sem Distribuição, da revista especializada norte-americana “Film Comment”.
“A Fábrica de Nada” estreou-se em maio, no Festival de Cannes, onde venceu o Prémio da Crítica. Depois disso, não mais parou e já arrecadou diversos prémios em vários festivais.
A China, que pretende fazer deste festival uma plataforma de divulgação, fez-se representar pelo filme “Wrath of Silence”, do realizador Yukun Xin. Pela sua localização, o IFFAM conta com a presença de diversos filmes e profissionais dos países asiáticos. Aliás, alguns desses nomes já conquistaram fama internacional como é o caso da malaia Michelle Yeoh, estrela no filme da saga James Bond “007 – Tomorrow Never Dies” e “Crouching Tiger, Hidden Dragon” ou da chinesa Joan Chen, que participou em “The Last Emperor”, entre outros filmes, e partilhou o júri com Laurent Cantet, Lawrence Osborne, Jessica Hausner e Royston Tan.
Michelle Yeoh participou ainda numa iniciativa denominada “Conversa com Michelle Yeoh” sobre os seus 30 anos de carreira no mundo da sétima arte.
Para todos os públicos
Um dos propósitos do IFFAM para este ano foi o de chamar o público de todas as idades ao festival. Por isso, o certame abriu com a exibição de “Paddington 2”, do britânico Paul King, um filme para miúdos e graúdos, misturando animação e imagem real.
“Abrimos com um filme muito popular, que também é brilhante”, disse o produtor britânico Mike Goodridge, que assumiu a direção artística do IFFAM, após a saída de Marco Muller, no ano passado.
No programa também estiveram contempladas, além das naturais novidades cinematográficas, os grandes filmes, autênticos sucessos de bilheteira e clássicos mundiais como o “The Silence of the Lambs”, “The Last Emperor” ou “2001: Space Odyssey”. “A ideia de um festival de cinema é essa, ter variedade no que diz respeito ao conjunto de produções que apresenta”, explicou Goodridge.
O IFFAM é organizado pela Direção dos Serviços de Turismo do Governo da RAEM e pela Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, entidade liderada pelo empresário Alvin Chau.
Hunting Season vence na categoria de Melhor Filme
O júri presidido pelo realizador francês Laurent Cantet decidiu e está decidido. Estes são os grandes vencedores da 2ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau.
Dez filmes estiveram em competição: “Beast” (Reino Unido), “The Cakemaker” (Israel/Alemanha), “Custody” (França), “Foxtrot” (Israel/Alemanha/França/Suíça), “The Hungry” (Reino Unido/Índia), “Borg McEnroe” (Suécia/Dinamarca/Finlândia), “Hunting Season” (Argentina/Estados Unidos da América/França/Alemanha/Qatar), “My Pure Land” (Reino Unido), “Three Peaks” (Alemanha/Itália), “Wrath of Silence” (China) competem em 13 categorias, incluindo a de melhor filme, prémio especial do júri e melhor realizador, entre outros.
O júri inclui ainda a atriz sino-norte-americana Joan Chen, a realizadora austríaca Jessica Hausner, o escritor britânico Lawrence Osborne e o cineasta de Singapura Royston Tan.
Shekhar Kapur vai fazer filme sobre Bruce Lee
O Festival de Internacional de Cinema de Macau também foi pródigo em novidades. O realizador indiano Shekhar Kapur, embaixador do evento, revelou aos jornalistas que pretende fazer um filme sobre a vida de Bruce Lee em Hong Kong.
Mas, contrariamente ao que se possa esperar, o projeto não contempla uma sequência, sem fim, de golpes de artes marciais, ou pelo menos não da forma que todos pensam. “Não pretendo que seja um filme apenas de ação. Lee foi um grande filósofo”, começou por dizer o realizador de 72 anos, que revelou ainda que o roteiro, em fase de pré-produção, já tem nome: “Little Dragon”.
A trama é escrita a quatro mãos por Kapur e pela filha de Lee, Shannon.
“Mas claro, o filme terá cenas de artes marciais, pois falar de Bruce Lee sem ‘kung fu’ não é a mesma coisa. Contudo, reitero que a história versa sobre o Lee pensador”, acentuou.
“Little Dragon” é o primeiro projeto de Shekhar Kapur em parceria com a China, que financiará a produção, orçada em cerca de 20 milhões de dólares norte-americanos, numa co-produção com os Estados Unidos.
“Apesar de muito ligado a Hong Kong, os chineses veem Lee como um herói nacional”, referiu o realizador indiano, que pretende destacar mais o período da adolescência de Bruce Lee, altura em que começou por descobrir a sua sabedoria interior.
Desde 2007 que Kapur não se aventurava nas longas-metragens, altura em que dirigiu “Elizabeth: The Golden Age”, protagonizado pela atriz Cate Blanchett. E as novidades não se ficam por aqui. Depois de “Little Dragon”, Kapur quer voltar a um projeto antigo. Trata-se de “Paani”, uma história dramática sobre a escassez de água, tema muito atual.
PRINCIPAIS PRÉMIOS E DISTINÇÕES
Melhor Filme
Hunting Season, de NATALIA GARAGIOLA
Melhor Realizador
XAVIER LEGRAND | CUSTODY
Melhor Ator
Song Yang | WRATH OF SILENCE
Melhor Atriz
Jessie Buckley | BEAST
Melhor Contribuição Técnica
MICHAEL PEARCE | BEAST
Melhor Argumento
SAMUEL MAOZ
Melhor Ator Revelação
Thomas Gioria | CUSTODY
Prémio Especial do Júri
YUKUN XIN | WRATH OF SILENCE
Prémio do Público de Macau
BORG MCENROE
Prémio de Contribuição Especial em Filme de Língua Chinesa
Wolf Warrior II
Prémio Carreira
UDO KIER
‘Industry Hub’ distingue três produções
Os filmes “Mihara”, “The Girl With No Head” e “The Last Savage” venceram, respetivamente, os prémios Ivanhoe Pictures, Huace Pictures e Hairun Pictures na categoria Projeto de Mercado do “Industry Hube” do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa).
Cada um dos projetos recebeu ainda 10 mil dólares norte-americanos.
Ao todo, concorreram ao “Industry Hube” 14 obras oriundas de diversas partes do mundo.
O prémio Ivanhoe foi para “Mihara” (EUA/Japão), um filme com um argumento de terror psicológico, realizado por Jacqueline Castel e que tem como produtor Pier Harrison.
Trata-se de uma história que gira em torno de uma adolescente americana com problemas existenciais relacionados com a morte da mãe, que acaba por se sentir atraída pelo poder de um vulcão japonês.
O filme “The Girl With No Head” (Malásia), que conquistou o prémio Huace, está assinado pelos realizadores Liew Seng Tat e Pete Teo, que são também os produtores. O argumento, trágico-cómico, conta a história de uma rapariga, Mei, assassinada e decapitada que recoloca a cabeça e ressuscita. Contudo, todo esse processo implica a perda de memória. O filme mostra como ela tenta recuperar essa memória.
Por fim, o prémio Hairun foi para “The Last Savage” (França/EUA/Indonésia), dirigido por Liam O’Donnell e com Matthew Chausse como produtor. O enredo gira à volta de uma criança criada por tigres depois de ter sido abandonada numa ilha. Após a morte da família, o rapaz vê-se forçado a lutar numa arena mortal.
Todd Brown, da XYZ Films, Victoria Hon, da Beijing Hairun Pictures Co. Ltd. e Tou U, da Huace Pictures US, integraram o júri que selecionou os três projetos vencedores.
O júri reconheceu que os prémios concedidos não são suficientes para financiar a totalidade dos gastos de cada um dos projetos.
“Estes prémios são um incentivo, uma forma de reconhecimento do bom trabalho efetuado”, referiu aos jornalistas Tou U, da Huace Pictures.
Explicou ainda que o principal critério para a seleção dos vencedores é a capacidade de distribuição global, ou seja, a possibilidade de se tornarem em interessantes fenómenos comerciais.
“É preciso pensar nas coisas como um todo. Quando se pensa no mercado internacional, é preciso encontrar temas universais. Temas transversais como o amor, humanidade podem ser bons para começar, para dar uma certa linha orientadora”, sustentou.
O potencial de Macau
Entre os projetos a concurso, estavam dois de Macau: “Dreaming Girl” e “Days of Being Trapped”.
“É fantástico haver dois projetos locais. Tudo passa por darmos ao mundo acesso ao cinema de Macau e dar aos cineastas locais o acesso ao resto do mundo. Na verdade, penso que o festival faz bem esse papel”, referiu Mike Goodridge, diretor artístico do IFFAM quando questionado sobre o potencial do evento no panorama local.
Ainda assim, o ‘Industry Hub’ funcionou bem como plataforma de contactos, coisa que de outra forma poderia ser mais complicado acontecer.
Mike Goodridge referiu aos jornalistas que “os participantes pareciam otimistas por terem conhecido pessoas com alguma importância no setor”.
Produtoras portuguesas procuram apoios em Macau
Produtores portugueses estão no território, no âmbito do Festival Internacional de Cinema, em busca de novos mercados e modelos de financiamento. Com o mercado asiático, muito por culpa da China, na ordem do dia, é mais do que natural que outros países procurem financiamento por estas bandas. Por isso, foi com naturalidade que surgiram dois projetos lusos no IFFAM ‘Project Market’.
Pela mão do cineasta Ivo M. Ferreira, radicado em Macau há alguns anos, e do produtor Luís Urbano, “Projeto Global” é uma das propostas. Depois do sucesso de “Cartas de Guerra”, o realizador português pretende dirigir uma história sobre as FP-25. A história decorre em Portugal, entre 1980 e 1986, quando uma onda de atentados à bomba, assaltos, execuções e ameaças assola o país. Para isso, a produtora O Som e a Fúria, veio até ao território, à procura de parceiros e possíveis distribuidores do filme na Ásia.
O projeto embrionário foi bem-recebido no seio da IFFAM. O produtor Luís Urbano referiu aos jornalistas que “não tendo grandes ambições”, o objetivo foi cumprido: “sinalizar o projeto a nível internacional”. “Tivemos umas 20 reuniões. Dessas, três podem vir a ser determinantes quando ao futuro do projeto”, disse, sem adiantar mais pormenores.
A outra produção que procurou apoios em Macau foi o projeto “Daedalus”, de Jerónimo Rocha e Frederico Serra. A incursão nos meandros da ficção científica e do terror foi a proposta de ambos. No essencial, a história gira à volta de uma mulher contratada para trazer de volta à Terra uma velha nave espacial que poderá desvendar o segredo do primeiro e mortal contacto da humanidade com uma espécie alienígena.
Conhecido pelos filmes de apresentação do MOTEL/X, o português Jerónimo Rocha falou aos jornalistas sobre o projeto que já chamou a atenção da “Variety” e perspetivas de futuro.
“A vinda a Macau já superou as expetativas, até porque durante as reuniões que mantivemos acabámos por alterar o paradigma da forma como imaginava o futuro deste projeto. Foi deveras interessante perceber as várias sensibilidades dos territórios asiáticos em relação ao género de terror”, disse.
Cheirinho brasileiro
“As Boas Maneiras”, dos realizadores brasileiros Juliana Rojas e Marcos Dutra, é o filme que representa o Brasil no IFFAM. Com projeção no evento, o filme de pouco mais de duas de duração leva-nos até ao universo do fantástico com uma estranha relação entre a babá (Clara) do seu filho ainda não nascido e a patroa ainda grávida (Ana), com um lobisomem à mistura.
Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos e sinistros que afetam diretamente Clara. “Porém, a construção minuciosa de ‘As Boas Maneiras’ transforma a relação de servidão de Clara a Ana num romance comovente e convincente dentro de uma proposta absurda. Além desse amor imensurável tornar crível a transição para sua segunda metade, traça um panorama dilacerante sobre o comportamento do negro na sociedade, em que a abnegação irrestrita segue a rota contrária do reconhecimento de seu valor”, escreveu o crítico de cinema Rodrigo Torres sobre o filme.
Udo Kier recebe Prémio de Carreira
O Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) agraciou o ator alemão Udo Kier com o Prémio Carreira.
Kier esteve no território para receber o prémio e também participou na apresentação do filme “Brawl in Cell Block 99”, de S. Craig Zahler, onde o ator faz de antagonista, raptando a família do prisioneiro (Vince Vaughn) em troca de um ‘favorzinho’ na cadeia: matar outro prisioneiro.
Udo Kier, nascido há 73 anos em Lindenthal, Alemanha, conta com mais de 300 filmes ao longo da carreira.
Por norma associado a filmes de terror e a papéis de vilão, Udo Kier trabalha desde 1966 – ano em que se estreou com a curta-metragem de comédia “Road to St. Tropez”, de Mike Sarne –, tendo sido dirigido por alguns dos mais aclamados e controversos realizadores do panorama cinematográfico, incluindo Rainer Werner Fassbinder, Gus Van Sant, Lars Von Trier, Werner Herzog, Alexander Payne e Dario Argento.
Aliás, Kier pode mesmo ser considerado como o ator fetiche do realizador dinamarquês Von Trier, uma vez que aparece em quase todos os seus filmes desde “Epidemic”, de 1987.
A sua presença no cenário de Hollywood, onde vive desde 1991, vem de longe e inclui participações em grandes sucessos de bilheteira, como “Ace Ventura: Pet Detective”, “Blade”, “Armageddon”, “Johnny Mnemonic” ou “Barb Wire”. Além de ter interpretado os papéis de Drácula, Frankenstein e Dr. Jekyll, entre muitos outros papéis de género, Kier foi protagonista do teledisco “Deeper and Deeper”, da cantora norte-americana Madonna.
Udo Kier, como a maioria dos atores, também emprestou a sua voz a diversas animações, entre as quais se destacam Yuri em “Command & Conquer: Red Alert 2”, bem como na sequela “Yuri’s Revenge”. Deu ainda voz ao vilão Lorenzini no filme de 1996 “The Adventures of Pinocchio” e na sequela, de 1999, “The New Adventures of Pinocchio”. A voz do professor Pericles em “Scooby-Doo! Mystery Incorporated” também é sua.
Um documentário sobre a sua vida e carreira intitulado “ICH-UDO…der Schauspieler Udo Kier” foi filmado para o ARTE, um canal franco-alemão dedicado à cultura, e lançado em 2012, tendo sido finalista do Festival de Cinema de Nova Iorque.
Uma história interessante da sua vida prende-se, precisamente com o dia em que nasceu. Udo Kier nasceu em plena II Guerra Mundial e, logo após o seu nascimento, o hospital foi bombardeado. Um pai ausente durante a maior parte da sua infância também terá contribuído para moldar a sua personalidade. Kier, que foi acólito e cantor durante a sua infância e adolescência, mudou-se mais tarde para Inglaterra para aprender inglês.
Mike Goodridge, diretor artístico do IFFAM, elogiou a carreira do ator alemão, considerando que nos últimos anos Kier tem estado ainda “mais brilhante”.
“Com os seus papéis em ‘Brawl In Cell Block 99’ e ‘Downsizing’, lembramos uma vez mais o quão único e brilhante é Udo Kier”, começou por referir aos jornalistas, justificando a escolha para a atribuição do galardão, e referindo que Macau fica bem na fotografia ao reconhecer o alemão. “É o melhor momento para reconhecer a sua carreira. Aqui, em Macau, com ele a celebrar connosco durante alguns dias.”
Festival estreia filmes locais
Os jovens locais veem a oportunidade de estrear os seus filmes durante o IFFAM. “O Amor é Frio”, do realizador Ho Fei, e “Chuva Passageira”, com direção de Chan Ka Keong, e com estreia mundial, podem ser visualizados durante o evento. Chan Ka Keong filmou e produziu a obra localmente e leva-nos a seguir seis personagens que perderam algo e querem encontrar. Um cenário de vazio e solidão, com muita chuva à mistura.
Já “O Amor é Frio” versa sobre a relação de um casal de jovens unidos pelo crime. Na primeira edição do evento, o público recompensou a jovem cineasta local Tracy Choi que se atreveu a revelar ao mundo um filme sobre o amor de duas mulheres, uma história passada durante o período de transferência de soberania de Macau.
Uma reflexão de pares
O Fórum da Indústria Cinematográfica, realizado no âmbito do IFFAM discutiu, essencialmente sobre três grandes áreas: qual o espaço para o cinema quando a televisão começa a ter conteúdos de excelência, em que medida os festivais de cinema podem fortalecer a indústria e de que forma a China está, de facto, a influenciar o panorama cinematográfico mundial. As nove sessões do fórum, divididas em três para cada um dos tópicos acima descritos, colocaram frente a frente especialistas dos diversos campos da indústria do cinema. Os debates decorreram em sessões privadas, mas no final o moderador de cada um dos tópicos apresentou, aos jornalistas, um sumário das conclusões que, grosso modo, indicam, consensualmente, para estas três perspetivas: o cinema ainda continua e deverá continuar a dar cartas em termos de grandes produções audiovisuais, os festivais de cinema são mais importantes do que nunca e o cinema que se faz na China tem tanto sucesso internamente que já não há vontade dos realizadores e atores chineses em ir para o exterior promover o seu trabalho.
Cinema asiático impressiona
São três as longas-metragens asiáticas na lista de dez filmes em competição no IFFAM. E o resultado parece ser o melhor possível. China, Índia e Paquistão têm impressionado o público com as suas propostas. Em “A Fúria do Silêncio”, um filme do jovem chinês Xin Yucun, um modesto pastor chinês procura, desesperadamente pelo filho desaparecido. Para o reencontrar ninguém o poderá deter. “Os Esfomeados” é a proposta indiana. Trata-se de uma adaptação aos tempos modernos de uma peça de William Shakespeare. Bornila Chaterjee dirige um filme sobre vingança e ajuste de contas. Do Paquistão surge “A Minha Terra Pura” dirigido por Sarmad Masud. A sua primeira longa-metragem baseia-se numa história real e retrata mulheres dispostas a pegar em armas por disputas de terras.
França com presença assinalável
A segunda edição do IFFAM fica marcada por uma forte presença francesa. O filme em competição “Jusqu’à la garde”, do jovem realizador Xavier Legrand, desvenda a vida de uma criança presa nos problemas entre pais divorciados. Em exibição também estão outros filmes. “Atelier”, do realizador Laurent Cantet – presidente do júri do IFFAM –, longa-metragem que deu cartas em Cannes, é um filme sobre a descoberta da escrita por parte de um adolescente violento do sul da França. Também nas salas do território estão “Le sens de la fête”, da autoria de Olivier Nakache e Eric Todelando, e que já é um fenómeno de bilheteira em terras gaulesas, e “Les Gardiennes”, dirigido por Xavier Beauvois, também recém-estreado em França, que relata a vida de mulheres nos campos durante a II Guerra Mundial.