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De volta ao crescimento

 

Foram dois anos de contração, mas os analistas esperam que o cenário se inverta no decorrer de 2017. A Universidade de Macau refere um crescimento da economia na ordem dos 3,2 por cento e os especialistas contactados pelo PLATAFORMA concordam que haverá uma subida, ainda que sejam cautelosos na análise.

 

A Universidade de Macau prevê que a economia do território cresça 3,2 por cento em 2017 apresentando sinais de recuperação depois de dois anos de contração. A inflação deverá ascender aos 2,1 por cento, ao passo que a taxa de desemprego deverá subir ligeiramente. Numa análise ao PLATAFORMA ,o economista Albano Martins mostra-se mais otimista, arriscando mesmo que o crescimento deverá ser de 4,4 motivado pela indústria do jogo.

O relatório publicado esta semana pelo departamento de Economia da Universidade de Macau refere que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 foi positivo, havendo um aumento de 4 por cento, no terceiro trimestre, ascendendo a 86.7 mil milhões de patacas, em comparação com o período homólogo do ano transato. Desceu 12,4 por cento e 7 por cento no primeiro e segundo semestres respetivamente, em comparação com os períodos homólogos de 2015. Dados estes números, a Universidade de Macau prevê que o PIB suba 3,2 por cento, ainda que estime que o crescimento se situe num intervalo que vai do decrescimento de 6,9 por cento a um crescimento de 13,2 por cento.

Por outro lado, a instituição de ensino superior espera que a inflação desça, dada a escassa procura por parte dos residentes, sendo expetável que se situe nos 2,1 por cento, em 2017. Sobre a taxa de desemprego, as previsões apontam para uma subida ligeira, esperando-se que se situe nos 2 por cento. Excluindo-se a mão-de-obra importada, a taxa deverá situar-se nos 2,6 por cento.

Para o economista Albano Martins, a análise efetuada pela Universidade de Macau apresenta alguns pontos que “incomodam”, nomeadamente no que diz respeito às previsões de flutuação da taxa de desemprego. “A taxa de desemprego crescer para 2,6, quando sabemos que está a 1,9”, diz, acrescentando: “Não é provável que com desempenho melhor, haja mais desemprego.”

Além disso, no que diz respeito ao crescimento do PIB, a análise da Universidade de Macau situa os valores num “intervalo muito grande”, o que o economista acha pouco provável. “Para 2017, o cenário base deles aponta para um crescimento de 3,2 por cento, mas eu penso que a economia vai crescer 4,2 por cento, e que o intervalo se situa entre os 3,5 e os 4,5 por cento”, diz, justificando “que o jogo vai recuperar, puxando a economia para cima.”

O analista refere ainda que o setor do jogo deverá recuperar, ainda que não aos níveis do passado, devendo o crescimento não alcançar os dois dígitos. Por outro lado, Albano Martins, contrariamente ao que refere a Universidade de Macau, salienta que a importação de bens e serviços deverá disparar, “amortecendo o crescimento do PIB”.

Já quanto à inflação, o analista concorda com a análise da instituição de ensino superior, referindo que “não deverá estar longe da verdade”. E, ainda que considere “2,1 por cento muito baixo”, Albano Martins aponta mais para um intervalo de crescimento que se situa entre os 2,19 por cento e os 2,55 por cento. Refere, inclusivamente, que poderá chegar aos 2,66 por cento “se o jogo e o imobiliário dispararem a dois dígitos”, o que será “pouco provável” no primeiro e “muito provável” no segundo.

 

Imobiliário a crescer

Para Jeff Wong Chi Wai, da imobiliária Jones Lang LaSalle, há “muitas incertezas” em torno de 2017, nomeadamente dada “a desaceleração da economia chinesa, a desvalorização do yuan e a ascensão a presidente dos Estados Unidos de Donald Trump e as medidas que poderá tomar contra a China, afetando Macau”.

Dadas as incógnitas, o analista avalia que o mercado imobiliário seja afetado. “Acredito que não seja um ano fácil para Macau — prevejo que o mercado apenas se estabilize nos níveis atuais, havendo uma consolidação”, diz, referindo que o preço da propriedade deverá sofrer uma flutuação apenas na ordem dos 5 por cento.

E, ainda que as previsões para a economia no geral, sejam otimistas, Jeff Wong salienta que “não espera que haja uma grande correção do mercado imobiliário”, sendo pouco expetável “o crescimento do setor.” No geral, espera que os níveis se mantenham iguais aos do ano transato. Recorde-se que, segundo os números disponíveis no portal dos serviços de Finanças, em dezembro de 2016 foram transacionadas 1.211 frações, o que corresponde a mais 710 do que no mesmo mês de 2015. A subida foi acompanhada por um aumento de 32 por cento do preço do metro quadrado.

Por outro lado, o professor associado do Centro Pedagógico e Científico na Área do Jogo do Instituto Politécnico de Macau, Carlos Siu Lam, afirma que as receitas do jogo oriundas destes turistas do setor de massa tem “crescido e contribuído para perto de 50 por cento das receitas da indústria, assim estabilizando as receitas totais”. Para o analista, “a emergência da China como um dos poderes económicos mundiais levou ao crescimento da classe média”, que se tem deslocado ao território e gasto em lojas e noutras atrações turísticas.

Além disso, esclarece Carlos Siu Lam, se há alguns anos “era mais fácil conseguir dinheiro dos apostadores VIP, uma vez que jogavam grandes quantias, gastavam muito em restaurantes de luxo e compravam bens e serviços luxuosos”, agora estes novos turistas de massa “são mais conscienciosos do custo e preferem objetos de valor”. Assim, sugere o analista, a “indústria precisa de fazer ajustes, procurando diferentes tipos de produtos de variadas origens, e oferecendo descontos maiores aos clientes”.

E, continua o analista, além de organizar eventos e festivais, o setor “precisa de trabalhar a sério no entretenimento, culinária e espectáculos, para que os turistas tenham uma experiência segura, agradável e satisfatória em Macau”.

Por tudo isto, o docente conclui que, ao invés de crescer de forma positiva, o setor do jogo deverá “continuar a caminhar de maneira estável, pelo menos num futuro próximo”.

Luciana Leitão

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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