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Exemplo verde

Ambrose So sintetiza numa frase lapidar o processo de consciência que pretende corporizar em Macau. Esgotado o tempo das dúvidas e briefings, já não chega migrar para a economia sustentável; é preciso “limpar” a cauda e “pagar a fatura” dos erros entretanto cometidos. Afinal, “está em causa a própria sobrevivência da humanidade”, lembra o homem forte da SJM e figura tutelar do Fórum Internacional para as Energias Limpas, que esta semana cumpriu em Macau a sua quinta edição.

O discurso político dominante centra-se na partilha de responsabilidades: Estados, governos, instituições, empresas, indivíduos… Cada um tem de fazer a sua parte. É esse aliás o compromisso central dos acordos de Paris, nova quimera da sobrevivência constantemente citada em Macau por Thomas Gass, assistente do secretário-geral das Nações Unidas e estrela convidada para o evento, que faz questão de elogiar o “compromisso da China”, entre as grandes potências industriais aquela que “colocou a economia sustentável no coração da agenda do G20”. 

A China Three Gorges ganhou o prémio pelo contributo que tem dado à redução das emissões de carbono. É um dos maiores produtores mundiais de energia, um dos maiores investidores em energias alternativas, e um exemplo num país, altamente poluidor, que vem de uma revolução industrial tardia mas que assume a aposta na necessidade para a economia sustentável. Não por acaso, empresas ligadas à transformação petroquímica, e até à indústria do carvão, foram também premiadas pela inovação e pelas soluções inovadores para a produção de energia mais  limpa. “No início importávamos tudo; agora temos soluções inovadoras que até já exportamos para a Europa e Estados Unidos”, resumiu Wang Jiming, líder de uma empresa de equipamentos que enviou o seu depoimento por vídeo.

Macau pode ir longe

Macau tem na sua reduzida dimensão uma vantagem que lhe permitiria ser uma espécie de farol verde na região. Faltar-lhe-á uma vontade clara. “Desde que queira, por ser uma cidade pequena tem todas as condições para ser um exemplo de economia sustentável”, afirma Ambrose So, escolhendo os autocarros dos próprios casinos – “muitos e muito poluentes”, confessa – com mensagem forte para a migração. “Há dois anos temos vindo neste Fórum a defender o transporte elétrico”. A SJM até é um desses agentes poluidores… Mas está disposta a um novo paradigma, desde que não avance por si só. “Se o governo tomar essa decisão contará certamente com o nosso apoio”, garante o diretor da Comissão organizadora do Fórum.

É já uma frase batida, mas continua a soar com sentido: a economia verde é em si uma oportunidade para novos negócios. Ou seja, traz problemas à velha indústria pesada, baseada nos combustíveis fósseis, mas não é necessariamente um problema económico, antes rasgando novos horizontes para a inovação, também ela motor de crescimento. A propósito, Ambrose So cita números trazidos ao palco por Thomas Gass (ver caixa) para o discurso da inevitabilidade: “Veja o que está acontecer nos oceanos… É simplesmente insustentável. Como a questão é de sobrevivência, vamos mesmo ter de mudar; logo, vão obviamente surgir novas oportunidades de negócio”. Pragmático, conclui com o papel que Macau pode cumprir neste processo: “Temos este papel de fazer a ponte entre o oriente e o ocidente, temos facilidade na emissão de vistos e as pessoas podem encontrar-se aqui para trocar informações e know-how. É precisamente esse o papel que queremos assumir neste Fórum”. 

Paulo Rego

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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