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Um fim à vista

A Uber terá anunciado que irá terminar os seus serviços no território. Utilizadores, dirigentes associativos, deputados e fontes do próprio Executivo referem que os seus serviços deveriam ter sido regulados, ao mesmo tempo que surge no território uma nova aplicação móvel chamada TaxiGo.

Depois de ter acumulado mais de 10 milhões de patacas em multas, segundo valores divulgados pelo próprio Governo, a Uber terá anunciado a saída do território numa carta alegadamente enviada à Assembleia Legislativa. Utilizadores, dirigentes associativos e deputados afirmam ao PLATAFORMA que o seu serviço trazia vantagens para o território.

O fim dos serviços da Uber em Macau não foi, até à data, confirmado pela própria companhia, mas uma alegada carta da empresa enviada à Assembleia Legislativa refere a data de 9 de setembro para o fim das operações no território, após dez meses de “multas pesadas”. A Uber começou a operar em Macau, no final de Outubro e, desde então, o Governo referiu, em diferentes ocasiões, que o serviço é “ilegal”. 

Em entrevista por e-mail, o presidente da MTPA, Andrew Scott, afirma que a atitude “agressiva” de entrada no território “garantiu que o Governo tivesse sempre adotado uma postura negativa em relação à Uber”. 

Aliás, o dirigente garante que, muitos meses antes do início das operações em Macau, “aconselhou a Uber a tomar uma postura conciliatória e a tentar trabalhar com as autoridades”. 

Neste momento, a “Uber já está morta” no território. “O que precisamos no território é uma aplicação de telemóvel do género da Uber, que ligue os passageiros e os condutores de uma maneira eficiente, em que o pagamento é feito através da aplicação”, diz, acrescentando: “É uma necessidade absoluta para Macau, enquanto cidade moderna internacional, e o Governo deve trabalhar em função deste modelo.”

Salientando a existência de “tantos interesses financeiros e camuflados” na indústria dos táxis, Andrew Scott declara que apenas vê uma única maneira de resolver “o problema”. “O Governo poderia comprar de volta as licenças de todos os portadores de licença que não conduzem por um valor justo, tomando por referência ganhos futuros”, diz, acrescentando: “Assim, o Governo conseguiria re-estruturar completamente a indústria, transformando-a de uma maneira significativa e eficiente e levando à criação de um serviço ótimo para os residentes e turistas.”

Sobre as vantagens da Uber, Andrew Scott opta por realçar os benefícios “de aplicações de transporte do mesmo género”, por permitirem “ver que carros estão disponíveis”, assegurando algum controlo por parte dos utilizadores. “Podes ver o carro a chegar, através da aplicação, o que apazigua aquela ansiedade do ‘quando será que chega’”, diz, acrescentando que “não há troca de dinheiro”. Trata-se de uma forma “eficiente”.

Entretanto, desde 1 de Setembro, uma nova aplicação móvel — em chinês e inglês — que trabalha apenas com taxistas já licenciados pela Direção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) chamada TaxiGo está em funcionamento. 

Ainda que, por enquanto, os seus serviços estejam na fase de arranque e a sua forma de operar seja uma incógnita, o presidente da MTPA afirma que “parece um pouco melhor do que tentar chamar um táxi, com a mão no ar”. 

O futuro

Por seu turno, o deputado à Assembleia Legislativa, Pereira Coutinho, declara que, “ao nível internacional, a Uber constitui um dos sistemas mais desenvolvidos de transportes, com o objetivo de eliminar as viaturas privadas”. 

Em declarações ao PLATAFORMA, o parlamentar diz que “tudo o que tenha a ver com a abertura dos mercados”, tal como a Uber, é de fomentar. “As licenças de táxis são um bem económico, quando deveriam estar ao serviço da população e dos cidadãos”, diz, acrescentando: “Há centenas de licenças emitidas no passado histórico antes da transferência, que o Governo não tem coragem de reaver.” Assim, sistemas como a Uber “servem os interesses da população” e, se Macau quer ser uma cidade internacional, “precisa de uma visão para o futuro”.

Descrente no fim da Uber — uma vez que a própria empresa ainda não confirmou —, o parlamentar acredita que “tem dimensão para continuar no território”, tendo capacidade financeiro para custear as avultadas multas. 

Sobre o novo serviço TaxiGo, o parlamentar afirma que “o mais importante é abrir o mercado para que todas as pessoas possam desenvolver o seu negócio”, realçando que é preciso “acabar com monopólios, interesses instalados”. 

O responsável pela aplicação TaxiGo, Kyle Ho, afirmou que já contam com uma centena de profissionais ao seu serviços, e garante total independência em relação a grupos políticos e empresariais “Somos um grupo de jovens e queremos fazer melhor do que isso. Somos uma empresa independente, não estamos ligados a nenhuma associação de táxis, empresa, agências governamentais ou associações políticas”, frisou. O responsável garante que o táximetro funciona corretamente e os veículos estão licenciados. A TaxiGo está sob alçada da Sociedade de Turismo Yin Hai.

Os concorrentes

Num comunicado oficial, o Governo realçou que “tais serviços de transporte de passageiros [Uber] não têm licença e operam ilegalmente em Macau”. 

Salientando que, noutros territórios e países, este tipo de serviço através de uma aplicação móvel “já foi considerado não autorizado ou ilegal”, o Governo reiterou que serviços de transporte de passageiros não podem operar em Macau sem a regulamentação apropriada. 

O comunicado referia ainda que a Polícia de Segurança Pública e a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), responsáveis por supervisionar os serviços de transporte, “não têm comentários” em relação a “rumores” sobre a retirada de um serviço privado de transportes oferecido por uma compania baseada fora do território.

Fonte oficial, que prefere não ser identificada, refere ao PLATAFORMA que o serviço prestado pela Uber era “efetivamente ilegal”, mas que o Governo “deveria regular” o tipo de serviço prestado, ainda que para a própria empresa tal não fosse tão vantajoso, “por serem necessárias licenças e seguros”. Sobre o serviço prestado pela TaxiGo, declara que, por utilizar veículos licenciados, é “legal.”

Recorde-se que, no início de Outubro, um despacho do Chefe Executivo anunciava a realização do concurso público de licença especial para exploração da indústria de transportes de passageiros em táxis. Esta semana, o Governo anunciou que a Companhia de Serviço de Rádio Táxi Macau S.A é a empresa escolhida para operar os serviços de táxi ao domicílio. A nova frota de radiotáxis só deverá começar a operar no próximo ano, surgindo dois anos depois de o Executivo ter decidido não renovar o contrato com a Vang Iek, que já prestava esse serviço.

A Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau S.A acabou por vencer, afastando a Lai Ou, do empresário David Chow, e a TaxiGo, que agora lançou uma aplicação para chamar carros de aluguer.

A concessão tem o prazo de oito anos e prevê a entrada em funcionamento de 50 veículos no primeiro semestre de 2017, sendo que os outros 50 chegam às ruas “no prazo de um ano desde a data do início da operação”, informam os Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

O PLATAFORMA procurou contactar a Uber até ao fecho da edição, mas não obteve comentários. 

Luciana Leitão

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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