Intitulada de “A Grande Travessia: o Retorno, o Reencontro, o Reconhecimento, a Reparação”, a embarcação parte da cidade brasileira do Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro, em direção a Luanda, explicou à Lusa o professor Dagoberto José Fonseca da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista de Araraquara (FCLAr/UNESP) e responsável pelo projeto.
Serão sete dias de ida, sete dias presentes em Angola e sete dias de volta, resumiu o professor, sublinhando que falta ao Brasil conhecer e reconhecer os antepassados.
“Nós precisamos fazer o caminho de volta também pelo Oceano Atlântico para conhecer a história que os nossos fizeram e também para recuperar aqueles que foram jogados no Oceano Atlântico”, disse o professor, apontando que cerca de dois milhões e meio de pessoas foram atiradas no Oceano ao longo dessa trajetória do século XVI e XIX, só daqueles que vieram de Angola para o Brasil.
Para além deste número, estima-se que cinco milhões de africanos tenham chegado ao Brasil durante a época colonial portuguesa.
“Nós somos a mesma família, separados por uma história do tráfico, uma história do processo de escravização e desse colonialismo português, e de modo que somos a mesma família, separadas pelo Atlântico e divididos por uma história cruel, que foi o ‘escravismo’, e esse comércio transatlântico de pessoas submetidas ao ‘escravismo’”, disse o professor.
Em Angola, os dois mil brasileiros vão realizar ações voltadas para a investigação e o turismo cultural, com especial destaque para o afroturismo, que visa resgatar e revisitar a história africana em diferentes pontos de Angola.
“Isso nunca aconteceu, é inédito na história humana este caminho de volta com um grupo grande de pessoas pelo Oceano Atlântico”, enalteceu Dagoberto José Fonseca.
Este trabalho envolve visitas a locais históricos e simbólicos, como o Museu da Escravatura, o Forte São Basílio e o antigo reino do Congo, promovendo uma reflexão sobre a memória e a herança cultural africana.
Além disso, a programação inclui diversas atividades culturais e institucionais, como a realização de uma festa literária Angola-Brasil e um festival de arte e cultura Brasil-Angola. O grupo também vai participar em encontros com escritores, visitas a universidades, hospitais, maternidades, centros culturais como o Talapona e o Centro de Belas, bem como à Feira do Artesanato do Benfica.
Estão igualmente previstas reuniões com empresários dos dois países e encontros em instituições como a embaixada e o consulado do Brasil em Angola, o Instituto Guimarães Rosa e a União dos Escritores Angolanos.
“Toda a viagem será custeada pelo Brasil, por instituições públicas e privadas do Brasil, e quando chegarmos a Angola, o Estado angolano vai dar todo o suporte do que diz respeito ao transporte, dentro do território de Angola, a proteção pessoal, a segurança, alojamento e demais encargos existentes”, sublinhou, frisando estarem a trabalhar numa “lógica da reparação” e por isso “seria muito bem-vindo” o apoio de Portugal.
A viagem que serve para assinalar também os 50 anos da independência de Angola, oferecerá cursos, cada um voltado para uma área estratégica: educação, saúde, assistência social e humana, afroturismo e setor empresarial.
Para além disso, vai ser constituída “uma frente parlamentar negra, de deputados, para eles se encontrarem também com os membros da Assembleia Nacional de Angola”, concluiu Dagoberto José Fonseca.