Desde o início deste ano, residentes de Zhuhai passaram a poder solicitar um visto que lhes permite entrar em Macau uma vez por semana; com cada estadia limitada a um máximo de sete dias. O visto é válido por um ano e não requer o tempo de espera antes de poderem retornar a Macau. Anteriormente, residentes de Zhuhai podiam apenas entrar uma vez a cada dois meses; sendo obrigados a pedir um visto para esse efeito. Os residentes na restante província de Guangdong podiam obter vistos de entrada apenas uma vez a cada três meses.
Segundo a Polícia de Segurança Pública (PSP), a nova política deve trazer um acréscimo de 20 mil pessoas por dia, a partir de Zhuhai e Hengqin; aumento significativo no tráfego fronteiriço. No primeiro dia após a entrada em vigor desta nova política – 1 de janeiro – mais de 3.200 residentes de Zhuhai e Hengqin cruzaram as fronteiras para o lado de Macau. Segundo dados da PSP, aproximadamente 2.500 dos novos titulares de vistos eram de Zhuhai, enquanto cerca de 700 eram da área vizinha de Hengqin.
A extensão deste impacto dependerá do montante que cada visitante esteja disposto a gastar
Eric Fong, Universidade de Hong Kon
Sun, profissional em indústrias culturais, e residente de Zhuhai, explica ao PLATAFORMA que agora tem “mais liberdade para viajar e assistir a eventos culturais em Macau”, sem ter de se preocupar tanto com as restrições. Com os limites anteriores, preferia “guardar” o seu visto bimensal para “eventos de maior renome”. A profissão de Sun depende muito do networking realizado em eventos culturais, tais como exposições de artes ou cinema, sendo que esta nova política lhe permite participar em mais eventos e expandir a sua rede de contactos.
Inserida numa série de medidas recentemente adotadas para facilitar movimentos transfronteiriços, esta abertura tenta também melhorar a situação económica das PME em Macau – até ao momento têm sofrido com o movimento contrário. A tendência tem sido o consumo de residentes de Macau em Zuhai, onde os preços são mais baixos e a oferta mais variada. As autoridades policiais estão a preparar efetivos contando com o aumento do fluxo fronteiriço; e a indústria turística conta acomodar uma onda de novos titulares de vistos em Macau; em especial já durante os feriados do Ano Novo Chinês.
Zhuhai representa mais de 26 por cento dos visitantes da província de Guangdong. Num relatório recente da corretora Seaport, o analista Vitaly Umansky reconhece que a abertura nos vistos é um estímulo à indústria local dado pelo do Governo Central: “A China expandiu várias políticas de vistos para visitantes do Continente, incluindo tempos de processamento mais rápidos e melhores procedimentos para vistos de negócios; expansão das cidades incluídas no plano de vistos individuais; múltiplas entradas para grupos de hóspedes em hotéis que ficam em Hengqin; e para convenções”, comenta Umansky. Estas medidas, diz o analista, terão impacto positivo na economia de Macau, já em 2025.
O diretor do Centro de Investigação de Estudos Populacionais da Universidade de Hong Kong, Eric Fong, concorda que esta política pode impulsionar o consumo local. Contudo, em declarações ao PLATAFORMA, diz que a “extensão deste impacto dependerá do montante que cada visitante estiver disposto a gastar”.
Limitado a residentes
A medida aplica-se apenas a residentes de Zhuhai que tenham lá nascido; ou possuam certificado de residência. A cidade vizinha tem uma população de cerca de 2.49 milhões de habitantes, sendo que aproximadamente 1.7 milhões têm acesso a esta nova medida. Razão pela qual, alguns residentes de Zhuhai contactados pelo PLATAFORMA afirmam que a medida não terá impacto nas suas vidas, pois não nasceram em Zhuhai, nem possuem o certificado de residência, conhecido como ‘hukou’. Embora residindo em Zhuhai, ficam de fora muitos trabalhadores que migraram de outras cidades chinesas. O novo visto também não permite exercer atividades profissionais em Macau.
Mais liberdade para viajar e assistir a eventos culturais em Macau
Sun, residente em Zuhai
Os residentes de Hengqin têm agora acesso sem restrições a Macau; mas apenas 40 mil pessoas residem atualmente na Zona de Cooperação Aprofundada. Grande parte dos residentes de Zhuhai que atualmente se deslocam regularmente a Macau possuem já visto de estudante, ou autorizações de trabalho, que lhes permitem atravessar a fronteira diariamente.
A nova política parece já ter criado um aumento nas atividades de comércio paralelo, com alguns residentes de Zhuhai a publicarem nas redes sociais que ganham 800 yuans por dia só a transportar bens de um lado para o outro. As autoridades alfandegárias de Macau divulgaram anteriormente ter intercetado mais de 12 mil pessoas, por comércio ilegal, entre 2020 e 2024. Durante o mesmo período, foram realizadas 313 ações de fiscalização, resultando na apreensão de mercadorias no valor de mais de 237 milhões de patacas. Com a possibilidade de se descolarem mais frequentemente à RAEM, esta atividade ilícita passou de repente a ser ainda mais lucrativa.