Filomeno Fortes, diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) português, um dos organizadores do seminário, disse à Lusa que a cobertura sanitária nos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é inferior a 60%.
“Não há centros de saúde, não há enfermeiros e, portanto, este é outro grande obstáculo para se melhorarem os indicadores sanitários”, observou.
No encontro que começa hoje na sede da CPLP, e que decorre até sexta-feira, a grande diversidade do ponto de vista sanitário que existe nos países desta comunidade será um dos temas em análise, tal como as respostas à falta de cuidados de saúde primários em alguns destes Estados.
O seminário vai contar com representantes dos nove Estados-membros, que irão apresentar as respetivas características sanitárias, que diferem muito de país para país.
“Do ponto de vista sanitário, nós temos países da CPLP que estão em continentes diferentes e que têm níveis de desenvolvimento socioeconómico também diferentes e, por isso, há uma grande diversidade em relação ao panorama das doenças”, disse à Lusa o diretor do IHMT.
O especialista deu três exemplos que demonstram esta diversidade: “Enquanto Angola e Moçambique têm um predomínio das doenças transmissíveis, Portugal tem um panorama de doenças crónicas e Cabo Verde, um país africano, tem um panorama que nós chamamos de transição epidemiológica, o que quer dizer que já começa a ter mais doenças crónicas do que doenças transmissíveis”
“Isto implica sistemas de saúde com características diferentes, políticas de saúde também já com outras variantes”, referiu.
O especialista salientou, contudo, que “qualquer que seja a filosofia dos Governos, os cuidados de saúde primários continuam a ser a base de qualquer sistema nacional de saúde”.
Filomeno Fortes defendeu um maior empenhamento político nas respostas ao nível da saúde primária, afirmando que “há países em África, da CPLP, que colocam menos de 10% do seu orçamento geral do Estado para a saúde”, nomeadamente Angola e Moçambique.
“Tem de haver um reforço da vontade política, porque sem financiamento não há cuidados de saúde primários”, disse, enumerando os recursos humanos como outro constrangimento nesta área.
“Tem de haver mais investimento na formação de recursos humanos na área da saúde materna, da saúde infantil, porque quer a vacinação, quer o atendimento à grávida, o seguimento à criança, as questões da malnutrição, se nós não tivermos quadros que estejam minimamente preparados para responder a estas prioridades, os cuidados de saúde primários não vão responder”, indicou.
O seminário é organizado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade NOVA de Lisboa (IHMT NOVA) e pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), em parceria com o secretariado executivo da CPLP.