Numa ronda pela cidade de Maputo ao cair da noite a Lusa constatou dezenas de focos de pneus e outros objetos em chamas ou em cinzas pelas ruas, embora com o trânsito já quase totalmente reposto em avenidas como Eduardo Mondlane e 24 de Julho, no coração da capital moçambicana, após a intervenção dos bombeiros.
Até ao início da tarde, diversos grupos de manifestantes distribuíram-se pela cidade, respondendo ao apelo de Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro, e acabaram por vandalizar vários equipamentos públicos, desde semáforos a painéis publicitários, atirando pedras e garrafas à polícia, que travava o seu avanço.
O cheiro a queimado e a gás lacrimogéneo sente-se em várias ruas da cidade, praticamente desertas ao início da noite, com todo o tipo de espaços públicos e privados encerrados, como no resto do dia.
O rasto de destruição compõe-se ainda por pedras de todos os tamanhos, contentores do lixo de todas as dimensões e paus espalhados por várias ruas, e a insegurança que se sente na cidade faz com que as regras de trânsito sejam praticamente esquecidas pelos poucos condutores que arriscam sair, com receio de serem apanhados entre manifestantes e a polícia.
Ao início da noite, a polícia ainda percorria ruas a lançar gás lacrimogéneo para dispersar pequenos grupos ou a realizar detenções, alegadamente relacionadas com o saque e vandalização durante a manhã, em dois estabelecimentos comerciais do centro de Maputo.
Na entrada do bairro da Maxaquene permanecia, tal como acontecia desde as primeiras horas da manhã, um grupo de dezenas de manifestantes que não passaram para o centro da cidade devido à barreira policial ali criada, e a avenida Vladimir Lenine, que cruza aquela área, continuava cortada e ocupada por populares e pneus em chamas.
Um vaivém permanente de viaturas policiais e militares, com agentes a dispararem gás lacrimogéneo e tiros para o ar, mantinha-se, sobretudo nas avenidas Joaquim Chissano e Julius Nyerere, principais entradas e saídas da cidade.
Durante a tarde, um grupo de manifestantes que pretendia regressar a casa acabou sendo escoltado na rua por militares, sem incidentes, o que valeu os aplausos de quem se encontrava na zona da praça da Organização da Mulher Moçambicana.
A circulação em toda a envolvente da Presidência da República permanece cortada e nas imediações do Palácio da Ponta Vermelha, residência oficial do chefe de Estado, é visível um forte aparato militar, mas sem qualquer incidente conhecido.
Em várias zonas suburbanas da cidade continua a haver relatos de manifestantes desmobilizados pela ação da polícia.