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Novo Chefe para um novo ciclo

A defesa de um novo ciclo foi assumida por Leonel Alves, em declarações públicas, no dia em que acabava de ser confirmado como membro da Comissão Eleitoral. Não se trata de alguém que, para o bem e para o mal, possa ser acusado de andar distraído; de ser um jurista que não sabe medir as palavras; muito menos um político que se posicione, inocentemente, em contraciclo. Nunca foi nada isso; muito menos o será, nesta altura, e neste contexto.

PAULO REGO*

Não é justo imputar-lhe a responsabilidade – ou intuição – de ter usado o termo “novo Chefe do Executivo” como quem anuncia o fim do atual inquilino do Palácio da Praia Grande. De facto, “novo” pode ter a simples conotação formal de “próximo”; que até pode ser o mesmo. Mas não deixa de ser curioso, no ambiente da contestação que sabe, muito bem, Ho Iat Seng enfrenta. Já não há é dúvida possível sobre o que significa a declaração sobre a necessidade de Macau partir para um “novo ciclo”. Tese essa, aliás, cada vez mais consensual nos bastidores políticos, na elite económica; e, até, na opinião pública. Resta saber se Pequim entende essa mudança, com o mesmo significado, e as mesmas consequências.

Segundo fontes próximas que lhe são imputadas como próximas, Ho Iat Seng estaria apenas à espera de ver confirmada a Comissão Eleitoral para apresentar formalmente a sua candidatura a um segundo – e último – mandato. E continua a ser consensual a ideia de que não o faria, a não ser com a certeza de que conta com os apoios suficientes para vencer. Leia-se… o aval de Pequim, que informalmente comunicará aos 400 membros da Comissão Eleitorial a decisão que o Poder Central espera que tomem – e é essa que vão tomar.

A questão que Leonel Aves sintetiza é o ponto fulcral da decisão que nesta altura está em causa. Se é preciso um novo ciclo – e é mesmo – qual é a melhor forma de o garantir. Há a hipótese teórica de se manter o mesmo Chefe do Executivo, premiando-o pela fidelidade à Mãe Pátria e ao Poder Central, contudo exigindo-lhe que seja diferente daquilo que tem sido; que tenha uma visão estratégica e relacional que nunca teve; e que se faça acompanhar de um círculo próximo capaz de representar a mudança. E há a tese contrária, segundo a qual para se mudar de estratégia, de face, e de objetivos, mais vale escolher à cabeça quem corporize o novo caminho que se pretende. Há ainda uma terceira hipótese, admitindo-se como possível que a visão de Leonel Alves, bem como a de tantas outras vozes que têm mantido recato, não tenha eco em Pequim. Ou seja, o Poder Central pode sempre decidir que não é preciso mudança alguma; que tudo está bem como está, e que assim deve continuar. Mas isso não está no discurso oficial, não respeita as vontades locais; e, já se percebeu, pelo menos numa boa parte da vontade nacional. Também não explica a posição assumida por Leonel Alves, que terá medido bem aquilo que disse; porque sabia que o ia dizer e o peso que isso teria.

Tendo a acreditar que Leonel Alves sabe muito bem a razão pela qual disse o que disse. Porque faz sentido, e aquele era o momento de o dizer. Nesta leitura, Ho Iat Seng, caso venha a confirmar a sua vontade – e condições – de ficar, sabe que terá de se reinventar; que fica tudo na mesma para que tudo possa ser diferente; e que a equipa que negociar com Pequim terá de ser capaz de ser e de fazer diferente daquilo que se passou no primeiro mandato.

Há mesmo quem considere que a tarefa mais difícil será mesmo convencer Ho Iat Seng que, tendo o direito a ficar; será compelido a ser diferente daquilo que sempre foi – ou mostrou ser. Qual pode ser a opção? Ser antes vice-presidente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o mais alto representante da China em Macau. Honra, essa, que só Edmund Ho atingiu – e Chui Sai On falhou. Quanto a Ho Iat Seng, no final do segundo mandato ultrapassa os 70 anos de idade… e corre o risco de ser tarde para esse sonho.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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