O projeto da Grande Baía tem evoluído a olhos vistos. Praticamente todas as semanas são implementadas novas medidas, tanto no Continente como nas regiões administrativas especiais, visando a integração regional.
Sonny Lo faz parte de um lote de académicos que pretendem um plano “holístico”, substituindo aquilo que caracteriza, para já, de medidas “ad hoc”. Até porque, segundo o mesmo, tanto Macau como Hong Kong têm uma tarefa difícil pela frente: “Macau precisa de reter talentos, ao mesmo tempo que lhes promove a Grande Baía”.
Para Sonny Lo, há soluções, mas antes de se avançar para as mesmas é preciso realizar mais estudos antes de se avançar com algo mais concreto. Os próprios governos terão de participar nesta iniciativa, comunicando com as cidades da GBA sobre as necessidades de emprego e qualificações exigidas. Ao mesmo tempo, as RAE têm de perceber “quantos jovens podem dar à GBA” e criar um sistema de subsídios que incentive seu regresso mais tarde.
“Isso não significa que 100 por cento dos jovens regressem. Mas penso que os governos de Macau e de Hong Kong têm de calcular uma percentagem aproximada. Digamos que talvez 20 por cento possam regressar. E esses 20 por cento deveriam assumir algum tipo de obrigação contratual depois de receberem os subsídios. Alguns deles podem querer ficar na GBA e desenvolver a sua carreira. Isso é ótimo, porque Hong Kong e Macau também devem utilizar os seus esquemas de atração de talentos para recrutar no Continente e no mundo inteiro. Mas, pelo menos, penso que para reter os talentos e assegurar o fluxo, é necessário estabelecer uma espécie de objetivo ou quota, se preferir, para aqueles que gostariam de regressar e contribuir para as sociedades de Macau e Hong Kong”, explica.
Défice de interesse
Num artigo de opinião publicado na Macau Business, Sonny Lo refere que os inquéritos realizados à população de Macau sobre o seu interesse na GBA são “insuficientes”. Mas estes estudos têm, por norma, chegado à mesma conclusão – há falta de interesse dos jovens na GBA.
Para o politólogo, esta falta de interesse está ligada à falta de promoção. “Em Hong Kong e Macau, os governos têm atualmente um programa para os jovens encontrarem emprego, residirem e trabalharem na GBA. No entanto, carece de publicidade e não contempla vários níveis da sociedade”, lê-se no artigo.
Ao PLATAFORMA, afirma que os governos e universidades têm a responsabilidade de fazer “melhor”, dando a conhecer às pessoas as oportunidades de emprego e condições de vida nas sete cidades do Continente. Contudo, salienta que não se pode olhar para as sete cidades como uma só.
“Tem de haver uma correspondência daquilo que são as necessidades de emprego nas cidades da Grande Baía. E é preciso calcular o montante dos subsídios com base na cidade, área e posição (…). Tem de se explicar aos jovens de Macau e Hong Kong as cidades, empresas e que tipo de empregos estão disponíveis, bem como as competências necessárias para, por exemplo, um emprego na área da informática. Que nível de mandarim é necessário?”.
Segundo um dos inquéritos mais recentes, realizado pela Aliança de Sustento e Economia de Macau em maio de 2023, 71 por cento dos mais de mil inquiridos não tinham interesse em desenvolver a sua carreira em Zhuhai. Cerca de 60 por cento nem sequer sabia que a cidade tinha um esquema de apoio aos jovens de Macau para desenvolverem as suas carreiras na cidade vizinha. Além disso, 30 por cento não conhecia o ambiente e a rede de transportes de Zhuhai.