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Prazer, literacia, violência e mais três prioridades nacionais em nome da saúde sexual

Carla Bernardino

Da sexualização das raparigas às violência sexuais, passando pela informação das DSTs e da literacia, bem como do hiato orgástico, conheça as matérias urgentes que têm de mudar. Uma reflexão que chega em dia de Saúde Sexual, que se assinalou este domingo, 4 de setembro

A saúde sexual vai muito para lá da listagem das patologias que afetam as mulheres e as doenças sexualmente transmissíveis. É um vasto território que, ainda pouco abordado, afeta, inibe e trava, até, milhares de raparigas e mulheres no caminho da sua plenitude, autoestima e bem-estar.

No dia Nacional da Saúde Sexual, que se assinalou este domingo, 4 de setembro, o Delas.pt foi procurar perceber quais as batalhas mais emergentes que devem ser travadas. Temas que, aliás, vão estar em debate ao longo do dia em encontros organizados por entidades que acompanham esta área, entre eles no recém-inaugurado MuSEX, Museu Pedagógico do Sexo. A saúde sexual vai ser o mote para uma sequência de encontros que vai juntar entidades e responsáveis na área até às 18.00 horas, no Palácio Anjos, em Algés, Lisboa, num evento que se associa às celebrações mundiais da WAS – Associação Mundial de Saúde Sexual, que decorrem sob o mote Vamos falar de Prazer?.

Mas de volta a Portugal e às prioridades nacionais, a coordenadora científica da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC), Patrícia Pascoal, elenca seis eixos prioritários de intervenção nesta matéria. Conheça-os.

O prazer, sexualização e a violência

Para a responsável, a primeira matéria que terá de estar em cima a mesa prende-se com o combate a todas as formas de violência sexual. “O espectro do que é a violência sexual é vasto e vai desde as formas mais óbvias de agressão física até à manipulação, chantagem e coação. É importante credibilizar as vítimas, mas é também fundamental que a glamorização das relações abusivas, tantas vezes apresentadas como intensas e mais autênticas, acabe”, detalha. “Temos, muitas vezes, por trás de queixas sexuais, tais como por exemplo a falta de interesse sexual, pessoas que são continuamente coagidas e envolver-se em relações que não são prazerosas ou que são continuamente expostas a formas de assédio que fomentam uma má relação com a sexualidade e com o próprio corpo”.

Num segundo eixo, a também ex-presidente, psicoterapeuta e professora associada na Universidade Lusófona, aponta os holofotes para a pressão sobre a imagem. “Tomar consciência acerca do fenómeno de sexualização das raparigas e mulheres que contribui para a ideia que muitas mulheres têm ao longo da vida que o seu valor pessoal depende do seu valor enquanto objetos de desejo sexual, hiperinvestindo nesta área (a aparência erotizada) desde muito cedo e afastando-se algumas vezes de outros interesses. Isto é diferente da apropriação da própria imagem, falamos aqui da pressão para a adequação a um ideal homogéneo e muito restrito de imagem, limitando-se quase sempre à hipersexualização do corpo e não à visibilidade e espaço para que uma mulher tenha uma voz, mesmo que tenha uma imagem forte”, vinca.

O acesso e a vivência do prazer têm também muito caminho pela frente. Para Pascoal, é prioritário “compreender o hiato orgásmico que se encontra nas populações heterossexuais e que maioritariamente cria uma grande desigualdade na experiência do orgasmo, sendo as mulheres as que apresentam menos frequência e intensidade orgásmica.” A coordenadora científica desfia perguntas que devem ser urgentemente feitas para interromper este ‘gap’, este intervalo. “Porque é que isto acontece? E de que forma este fenómeno se associa ao conhecido e bem documentado “orgasmo fingido”? As mulheres fingem mais porque têm menos orgasmos e querem despachar o sexo sem magoar os parceiros (só isto é toda uma realidade sobre relações de poder dentro das relações…), ou têm menos orgasmos porque muitas vezes fingem ter, limitando as possibilidades de procurar o seu próprio prazer? Os homens percebem que existe esta disparidade? Preocupam-se? Será o reflexo de algumas dificuldades em estimular devidamente as suas parceiras cisgénero?” Questões que começam a ser trazidas para a mesa e que começam agora a ter espaço para serem abordadas mais claramente.

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