Início China Órgão legislativo chinês deve focar-se no abrandamento económico

Órgão legislativo chinês deve focar-se no abrandamento económico

Lusa

O Partido Comunista Chinês (PCC) deve focar-se nos atuais desafios económicos e políticos, durante a sessão anual do órgão legislativo da China, que arranca no sábado, afastando temporariamente a discussão sobre ambições de longo prazo

A Assembleia Nacional Popular (ANP), que serve tradicionalmente para apresentar grandes iniciativas, deve ser ofuscada este ano pela urgência de Pequim em reanimar o consumo interno e o mercado imobiliário, numa altura de abrandamento económico.

A sessão anual da ANP decorre em paralelo com a da Conferência Política Consultiva do Povo Chinês (CPCPC), uma espécie de senado, sem poderes legislativos.

Espera-se que os principais delegados da ANP estabeleçam a meta de crescimento económico para este ano entre 5% e 6%, após uma expansão de 8,1% em 2021. O défice do orçamento de Estado deve permanecer em cerca de 3% do PIB (Produto Interno Bruto).

O setor manufatureiro foi prejudicado por escassez de energia, queda na procura externa e os rigorosos controlos contra a covid-19, que continuam a resultar no confinamento de bairros ou cidades inteiras do país.

Redução da carga fiscal, gastos com infraestrutura e outras medidas de estímulo também devem ser divulgados, somando-se aos cortes nas taxas de juros, que o banco central anunciou já, numa tentativa de reverter a desaceleração económica.

“A preocupação para a China não é apenas que o crescimento esteja numa tendência de queda, mas que o impulso do crescimento continue a vacilar”, apontou o banco francês BNP Paribas, num relatório difundido esta semana.

A sessão da ANP coincide também com a invasão da Ucrânia pela Rússia, que aumentou os preços do petróleo e a incerteza sobre uma recuperação global da pandemia de coronavírus.

A ANP antecede também o mais importante evento da agenda política da China: o XX Congresso do PCC, que se realiza em outubro e deve oficializar o terceiro mandato do Presidente Xi Jinping.

Leia também: Autoridades começam a preparar as reuniões anuais da APN e CCPPC

Xi, um dos líderes mais fortes da história recente do país, comparável ao fundador da República Popular, Mao Zedong, deve assim quebrar com a tradição política das últimas décadas, após uma emenda à Constituição, feita em 2018, que aboliu o limite de dois mandatos para o cargo de chefe de Estado.

“Recuperar o ímpeto de crescimento é importante”, disse o BNP. “Isto demonstra liderança política, competência do governo, confiança económica de longo prazo e a competitividade internacional da China”.

O espetro do crescente nível de desemprego deve assumir especial importância, quando um recorde de 10,76 milhões de estudantes universitários estão para entrar no mercado trabalho.

“A economia está a deteriorar-se, tive sorte em encontrar emprego em meados deste ano, a minha empresa deixou de contratar logo a seguir”, disse à Lusa uma profissional da área de saúde em Pequim, refletindo uma preocupação cada vez mais comum entre os jovens chineses.

É improvável que a China abandone a sua política de “tolerância zero” à covid-19. Mas os legisladores em Pequim podem exigir medidas menos drásticas, à medida que o resto do mundo se sente mais confortável em viver com o vírus.

“Esperamos que a China exorte os governos locais a abolirem as restrições excessivas, de forma a mitigar o impacto negativo sobre o crescimento, especialmente para o consumo, atividades de serviços e negócios das Pequenas e Médias Empresas”, apontaram analistas da UBS, empresa de serviços financeiros com sede na Suíça, numa nota.

Alguns analistas esperam mais cortes nas taxas de juros e que o índice de reservas dos bancos seja reduzido em 0,5% no primeiro semestre do ano.

O governo central anunciou um plano para construir mais de dois milhões de imóveis de uso subsidiado este ano, após ter exigido às construtoras que reduzam os seus níveis de endividamento, visando contrariar a especulação imobiliária. Isto levou alguns dos principais grupos de imobiliário do país a entrar em incumprimento.

“A China não pode apenas contar com políticas monetárias e fiscais para estabilizar o crescimento. Precisa de estabilizar o setor imobiliário primeiro”, escreveu o economista do grupo CITI China, Xiaowen Jin, num relatório.

Outra prioridade importante é a demografia. É provável que os legisladores se concentrem nos esforços para incentivar os casais a terem mais filhos, visando reverter o declínio da taxa de natalidade.

Na política externa, Pequim está sob crescente pressão para estabelecer uma posição sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, depois de uma resposta inicial ambígua, que motivou críticas da comunidade internacional.

A China disse que a soberania e a integridade territorial de todas as nações devem ser respeitadas, um princípio de longa data da política externa chinesa e que pressupõe uma postura contra qualquer invasão. Ao mesmo tempo opôs-se às sanções impostas contra a Rússia e apontou a expansão da NATO para o leste da Europa como a raiz do problema.

A invasão veio depois de Xi Jinping ter recebido, em 04 de fevereiro, o homólogo russo, Vladimir Putin, em Pequim. A declaração conjunta emitida depois do encontro indicou que a “amizade entre os dois Estados não tem limites e que não há áreas ‘proibidas’ de cooperação”.

Sem mencionar a Ucrânia, a declaração russo-chinesa opôs-se à expansão da NATO e às coligações que “intensificam a rivalidade geopolítica”, uma provável referência aos esforços do Presidente norte-americano, Joe Biden, para reforçar os laços com outras nações democráticas, perante a ascensão da China.

“Este é o momento em que as nações do mundo que respeitam a soberania das fronteiras nacionais estão a unir-se, para condenar o ataque ilegal da Rússia à Ucrânia”, disse Jacob Lew, presidente do Comité Nacional das Relações Estados Unidos – China, esta semana.

“A China deve decidir onde se posiciona e entender que as relações bilaterais com os EUA só se tornarão mais tensas, na ausência da escolha clara de permanecer do lado da comunidade internacional”, apontou.

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!