Vim para cá em 2000, quando isto estava ainda a arder. Vim trabalhar na cooperação portuguesa com Timor-Leste. Fazia parte do gabinete do padre Vítor Milícias, de apoio à transição para a independência”, conta Tiago Barata, diretor do Hotel Timor, olhando para o relógio, pois esta conversa acontece num dia que já sabe vai ser animado, ou não acabasse de chegar a Díli um voo da euroAtlantic vindo de Lisboa, uma das poucas ligações em tempos de pandemia. Antigo Hotel Makota, incendiado pelas tropas indonésias depois do voto pela independência no referendo de agosto de 1999, foi refúgio dos observadores internacionais e dos jornalistas estrangeiros antes de partirem para aeroporto, ameaçados pelas milícias pró-integração, decididas a ignorar que dias antes quatro em cada cinco timorenses optara por um país próprio.
Conta Tiago (é assim que pede para ser tratado) que desde que chegou a Díli e viu as ruínas pensou logo que gostava de fazer ali de novo um hotel. “Eu tinha trabalhado em hotéis em Portugal, mas senti que precisava de mudar de vida e por isso me voluntariei para Timor. Quando chegámos estava tudo destruído e não havia onde dormir. Eu lembrava-me dos diretos das televisões aqui. Da CNN e também dos jornalistas das televisões portuguesas. Mal eles saíram tudo começou a arder. Então, quando vi isto ao abandono, comecei logo a ter ideias”, explica este lisboeta de 52 anos, que atende agora o telefone para confirmar que João Soares, antigo presidente da Câmara de Lisboa, de visita, tem já transporte assegurado para ir ao Parlamento. No átrio do Timor, a animação é grande, entre quem acaba de chegar de malas e se regista na receção e quem aproveita para tomar um pequeno-almoço onde até há pastéis de nata.
“O que é engraçado é o que o Dr. Carlos Monjardino veio a Timor pouco depois e perguntou às autoridades, tanto à ONU como ao Dr. Mari Alkatiri, que foi o primeiro primeiro-ministro do novo país, o que é que a Fundação Oriente podia fazer para ajudar. E disseram-lhe que precisavam de um hotel. E como eu estava aqui ele perguntou-me se eu estava disposto e o certo é que nasceu um hotel. Ou renasceu. Este hotel nasce de um aperto de mão entre Sérgio Vieira de Melo, o diplomata brasileiro da ONU, Mari Alkatiri e Carlos Monjardino, o que é uma coisa notável. Houve aqui um investimento de seis milhões de dólares. Praticamente um cheque em branco da Fundação Oriente a Timor”, acrescenta Tiago. Nova interrupção na conversa. Agora é José Caetano Pestana, da euroAtlantic e velho amigo, que aproveita para lhe entregar um saco de “pão alentejano, acabadinho de chegar de Portugal”.
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