Quem utiliza caldeiras em Macau esforça-se por atualizar os equipamentos, no âmbito da nova lei que limita as emissões de fumo, mas os custos associados superam o lucro anual e e a indústria apela à intervenção governamental para financiar as alterações. “A nossa empresa preocupa-se com o ambiente”, começa por referir Wong Heng Seng, vice-presidente da Lavandaria Ko Kit, mas não é só isso que está em causa.
A Lavandaria Ko Kit, localizada na Ilha Verde, conta com duas caldeiras, uma para lavagens a seco e outra para passar a ferro. Wong Heng Seng diz que a empresa mudou de combustível depois de várias queixas relacionadas com a emissão de fumo negro. Agora, em vez de óleo reutilizado (normalmente vindo de cadeias fast-food como a McDonald’s), usam combustível industrial. “O fumo negro das caldeiras também está relacionado com a qualidade e nível de sujidade do óleo. Combustíveis de baixa qualidade contêm sedimentos e pó, o que leva o fumo a ficar negro. Com o uso de combustível industrial, esse problema melhorou significativamente”, explica. Embora a questão tenha sido mais ou menos resolvida, o custo duplicou. O sistema de videovigilância instalado também ajuda a detetar fumo negro nas chaminés da empresa. “Se sair fumo negro podemos chamar alguém para resolver o problema imediatamente”, diz ao PLATAFORMA.
Wong Heng Seng afirma que a operação da lavandaria foi afetada pela pandemia. Antes do novo coronavírus, a caldeira estava ligada entre 9 a 10 horas, mas agora fica em funcionamento apenas 4 horas por dia. “A indústria de lavandaria está relacionada com o turismo e hotelaria. Se a taxa de ocupação dos hotéis for alta e os restaurantes estiverem cheios, então o negócio corre-nos bem. No entanto, dado o contexto atual, a nossa atividade reduziu em mais de metade”, lamenta.
O vice-presidente afirma que a empresa planeia usar gás natural no futuro, resolvendo o problema das emissões de fumo negro. Porém, o custo para a substituição do equipamento representa um investimento de mais de um milhão de patacas. “A mudança para gás natural implicaria um custo de 400 mil patacas para a instalação de uma válvula de alívio de pressão e cerca de 800 mil para modificar a caldeira, totalizando mais de um milhão de patacas. O nosso lucro anual ronda apenas as 700 ou 800 mil patacas”, explica. Sendo assim, deseja que o governo implemente algum tipo de fundo relacionado com a proteção ambiental para auxiliar a substituição destes equipamentos.
Multas dissuasoras
Com a definição dos “Limites de emissão de poluentes atmosféricos das caldeiras dos estabelecimentos industriais e comerciais”, as multas estão entre as 50 mil e as 200 mil patacas. Wong Heng Seng menciona que a emissão de fumo negro acontece maioritariamente quando a caldeira está em funcionamento, sendo possível reduzir o impacto das emissões com limpezas regulares. “Agora já se vê muito menos fumo negro, mas às vezes é inevitável. Com uma multa de dezenas de milhares por uma única ofensa, nem o lucro consegue cobrir o custo”, remata.
Salienta ainda que planeia substituir o seu equipamento no futuro, mas estão com dificuldades na importação dos equipamentos necessários. Wong Heng Seng conta que tentaram importar um gerador de vapor do continente para substituir a caldeira tradicional, semelhante às grandes caldeiras de aquecimento de água, que também trabalham a gás natural e não produzem fumo negro. Todavia, ainda não sabem como registar oficialmente estes equipamentos, que são novos em Macau. “Perguntei ao Corpo de Bombeiros, que me disseram que nunca tinham visto tal máquina. Falei com a Direção dos Serviços de Proteção Ambiental, que me disse para falar com a Direção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico, que me disse que também nunca tinha visto esse equipamento. Enviei-lhes os detalhes da máquina e há três meses que espero por uma resposta. Não existe caldeira de vapor como esta em Macau”, lamenta. Wong Heng Seng salienta que trazer e instalar equipamentos deste género implica um investimento de 3 milhões de patacas. Não é uma decisão fácil de tomar.