Um total de 28,5 milhões de dólares (23,6 milhões de euros) de mercadorias estavam adquiridas quando o projeto de gás no norte de Moçambique foi suspenso, anunciou a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA).
“A estimativa do valor das mercadorias já adquiridas para o fornecimento ao projeto da Área 1 [consórcio liderado pela petrolífera Total] ascende a cerca de 28,5 milhões de dólares [23,6 milhões de euros], sendo que 12,79 milhões [10,61 milhões de euros] (correspondentes a 45%) estavam em ‘stock’ e 15,72 milhões [13,04 milhões de euros] em trânsito”, de acordo com um documento da CTA consultado pela Lusa.
A associação empresarial realçou que “parte considerável” das mercadorias é perecível, “o que vem exacerbar as perdas” das empresas fornecedoras.
Assim, a CTA estimou que o volume total de perdas registadas pelo setor empresarial com a suspensão do projeto de gás decorrente do ataque à vila de Palma, em 24 de março, ascenda a cerca de 148 milhões de dólares (122,7 milhões de euros).
Em 20 de abril, a CTA e a Total decidiram criar uma equipa conjunta para enfrentar aquilo que a associação empresarial classificou como “pesadelo” dos pagamentos em atraso a empresas moçambicanas, após o ataque a Palma e a saída por tempo indeterminado da petrolífera.
Os dois lados acordaram “criar uma ‘task force’ conjunta para mapear os pagamentos pendentes e cujas mercadorias tinham sido ordenadas pelas contratadas” e “facilitar, contrato a contrato, o cumprimento das obrigações com as pequenas e médias empresas moçambicanas”.
“A Total garantiu que já pagou a todas as empresas com as quais tem contrato, mas estas empresas também subcontrataram outras, na sua maioria moçambicanas, que podem não estar a efetuar pagamentos”, indicou o presidente da CTA, Agostinho Vuma.
O passo seguinte consiste em “fazer um levantamento para ver quais são estas empresas e o que se está a passar”, declarou.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, numa onda de violência que já causou mais de 2.500 mortes, apontou o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O ataque a Palma, junto ao projeto de gás em construção, causou dezenas de mortos e feridos, ainda sem balanço oficial anunciado.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.