Desde a criação das primeiras competições europeias de clubes, em meados da década de 1950, até o anúncio da Superliga europeia, nesta segunda-feira, houve divisões entre a tradição e a vontade dos grandes clubes de aumentarem seus rendimentos.
Na origem, uma iniciativa privada
De fato, a Copa dos Campeões Europeus, prestigiada precursora da ‘Liga dos Campeões’, nasceu como iniciativa privada na temporada 1955-1956, promovida pelo jornal francês L’Équipe e com 16 equipes participantes.
A Uefa, que acabava de ser fundada, rejeitou a organização da competição desde o início, mas a Fifa, preocupada que um campeonato deste tamanho crescesse fora das estruturas oficiais, pressionou a Uefa a aderir e a dar o seu aval ao evento.
No primeiro ano, 16 federações nacionais designaram seus representantes. Apenas 7 campeões nacionais competiram, as outras 9 equipes foram escolhidas por sua notoriedade.
A Uefa exigiu, na temporada seguinte, que cada país enviasse o seu campeão.
Dois meses após o nascimento da Copa da Europa, várias grandes cidades da Europa criaram a ‘Taça das Cidades com Feiras’, para promover suas feiras internacionais. Esta competição foi disputada até 1971, quando a Uefa assumiu a sua organização e a rebatizou de ‘Copa da Uefa’.
A breve ‘Copa Latina’, que reunia clubes de Itália, França, Portugal e Espanha, desapareceu em 1957.
1991, criação dos grupos
Extremamente simples no formato (jogos de ida e volta e eliminatórias), durante cerca de quatro décadas, a Copa dos Campeões Europeus dita o ritmo das temporadas de futebol.
No entanto, a pressão dos grandes clubes para multiplicar jogos e receitas levou a Uefa a modificar o formato em 1991-1992, introduzindo a fase de grupos. Desde então, essa modalidade passou por diversas mudanças.
No primeiro ano, em 1991-1992, foram testadas duas rodadas de eliminação direta nos 16-avos e oitavas de final, os vencedores se enfrentavam em dois grupos de quatro, onde os vencedores avançavam à final.
A partir de 1994-1995, a fase de grupos passou para o início do torneio: quatro grupos, que se tornariam seis em 1997-1998, dando a oito times o acesso às quartas de final.
1999: duas fases de grupos
Mas a ambição dos grandes clubes nunca para.
Depois de ganhar uma vaga no torneio em 1997 para os segundos colocados de cada país e para o terceiro (e quarto colocado em algumas ligas) em 1999, os pesos pesados do continente conseguiram que a Uefa criasse uma segunda fase de grupos na temporada de 1999-2000, com o objetivo de reduzir os resultados imprevistos de eliminações diretas.
Os 32 classificados se enfrentavam primeiro em oito grupos de quatro, e depois outros quatro em quatro grupos, que dava acesso às quartas de final. Pobre no nível épico, o sistema foi abandonado em 2002-2003.
A Uefa recuperou então a fase de grupos única, que segue até hoje.
A chantagem da Superliga
Apesar da popularidade da competição, os grandes clubes não desistiram de tentar garantir um número fixo de partidas internacionais por ano para assegurar sua renda. A solução, segundo eles, é criar um campeonato europeu fechado ou semifechado, rapidamente apelidado de ‘Superliga’.
A poderosa Associação de Clubes Europeus (European Club Association, ECA) foi a primeira a ameaçar com este projeto em 2019, apostando em um sistema de promoção-rebaixamento que privilegiava os grandes.
Esta primeira pressão levou a Uefa a desenvolver uma reforma da competição que foi a aprovada nesta segunda-feira, com uma primeira fase com 36 clubes cada um disputando dez jogos contra adversários diferentes.
Enquanto a maioria dos quase 200 clubes membros ou associados da ECA estão satisfeitos com o projeto da Uefa, os doze mais poderosos decidiram se rebelar e desencadear a maior crise do futebol europeu em 70 anos.