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Ex-PM timorense defende que população fronteiriça é prioridade para vacinação

Lusa

O ex-ministro da Saúde e ex-primeiro-ministro timorense Rui Araújo considerou hoje que a prioridade na vacinação à covid-19 em Timor-Leste deveria ser para as populações das zonas fronteiriças, que enfrentam atualmente o maior risco

Num comentário no Facebook, Rui Araújo questiona a decisão de aplicar as vacinas iniciais a funcionários da linha da frente, considerando-a desnecessária, dado o facto de não haver contágio comunitário.

“Porquê equipas de linha de frente, se ainda não temos transmissão na comunidade? Para estes, bastava, por enquanto, os equipamentos de proteção individual”, escreve.

“Os mais vulneráveis, no caso de Timor-Leste, são a população que vive nos dois municipios fronteiriços e na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA). A prioridade de vacina deveria ser aí, e não fazer ’copy and paste’ das recomendações desenquadradas dos ‘pseudo-peritos’ da covid-19 em Timor-Leste”, considera.

Desde o início da pandemia, Timor-Leste registou 77 casos, quase todos importados e detetados em quarentena, com a ampla maioria a ocorrer entre pessoas que atravessaram a fronteira com a metade indonésia da ilha, onde o número de casos tem vindo a aumentar.

Atualmente, há 24 casos ativos em Timor-Leste.

No final de janeiro, em entrevista à Lusa, Rui Araújo defendeu que Timor-Leste devia ter optado por comprar as vacinas da covid-19, sem esperar por apoio internacional, para poder estar já a vacinar a população.

Uma opção que devia ter sido contemplada no orçamento para este ano e que permitiria ao país atingir mais rapidamente a imunidade de grupo e, assim, regressar à normalidade e implementar as demais políticas de retoma e recuperação económica, considerou.

O também médico disse que o desenho do Orçamento Geral do Estado (OGE) para este ano devia ter previsto a opção de Timor-Leste começar a vacinar já.

“O Orçamento foi aprovado numa fase em que a ciência e a tecnologia e o mundo estavam já mais confortáveis com uma vacina. Timor-Leste podia dar um salto qualitativo em ter acesso a essas vacinas imediatamente em janeiro e vacinar logo as pessoas e isso facilitaria muito a nossa recuperação económica”, afirmou.

“Temos dinheiro para isso, podemos negociar com os fornecedores. Do ponto de vista financeiro, não é um grande obstáculo. Devíamos ter tentado aproveitar essa janela de oportunidade”, sublinhou o antigo ministro da Saúde.

Essa opção, considerou, permitiria ao país criar condições para um mais rápido retorno à normalidade, a reabertura das fronteiras, mudanças em restrições e, assim, proporcionar avenidas para a tão necessária recuperação económica.

Em vez de ir ao mercado comprar diretamente as vacinas, as autoridades timorenses preferiram subscrever o recurso à plataforma Covax, da Organização Mundial de Saúde (OMS), para apoiar a vacinação em países mais pobres.

Na quarta-feira, responsáveis da Covax anunciaram que sete países lusófonos vão receber cerca de 14 milhões de vacinas contra a covid-19.

O mapa indicativo de distribuição, que estima ter as primeiras doses no terreno em finais de fevereiro, prevê que Timor-Leste receba 100.800 doses na fase inicial.

Nesta fase, serão distribuídas 337 milhões de vacinas a 145 países que integram a lista da Covax.

Odete da Silva Viegas, coordenadora geral da comissão responsável pelo combate à covid-19 em Timor-Leste, explicou à Lusa que a equipa técnica ainda está a finalizar o plano de vacinação, que espera possa ser apresentado na próxima semana ao Conselho de Ministros pela responsável da equipa técnica, a vice-primeira ministra Armanda Berta.

“As vacinas vão ser dadas aos timorenses. No que se refere a estrangeiros que residem em Timor-Leste, a decisão cabe ao Conselho de Ministros”, disse Odete Viegas.

Timor-Leste necessita, só para esta primeira fase, de quase 530 mil doses.

Segundo explicou Odete da Silva, a estimativa é de que os 20% iniciais – a ser fornecidos através da Covax – abranjam 263 mil pessoas, com cerca de 39.450 (3 pontos percentuais) a corresponder a equipas da linha da frente e 65.750 (cinco pontos percentuais) a pessoas com doenças crónicas.

Cerca de 105.200 (oito pontos percentuais) correspondem a pessoas com mais de 60 anos e os restantes (52.600) a pessoas de uma “segunda linha da frente”, como professores, padres e outros, explicou.

Para preencher os requisitos além dos 20% das vacinas necessárias, o Governo australiano disponibilizou um fundo de cerca de 500 milhões de dólares australianos (317,5 milhões de euros) para apoiar o acesso à vacina no Sudeste Asiático e Pacífico.

No caso de Timor-Leste, a vacinação recorrerá à vacina AstraZeneca, por ser considerada “a vacina mais apropriada” para o país, dado que pode ser preservada em frigoríficos, entre dois a oito graus centígrados.

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