Ativistas ambientais consideram que Moçambique precisa de uma “revolução climática urgente” com apoio internacional para travar a gravidade da vulnerabilidade ao impacto das mudanças climáticas, segundo declarações prestadas à Lusa
As posições surgem em reação ao Índice de Risco Climático Global, elaborado pela organização não-governamental (ONG) GermanWatch e divulgado na segunda-feira, que coloca Moçambique em primeiro lugar na lista dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, depois de ter sido afetado em 2019 (último ano analisado) por dois dos maiores ciclones que já se abateram sobre o país (Idai e Kenneth), que fizeram cerca de 700 mortos.
Depois disso, outras tempestades atingiram o país, incluindo o ciclone Eloise, no último fim de semana, provocando, pelo menos, nove mortos e 290.000 pessoas afetadas, entre as quais 18.000 desalojados.
Carlos Serra Júnior, diretor da Cooperativa de Educação Ambiental Repensar, uma ONG moçambicana, considerou o estudo “consistente com a realidade que Moçambique vive em termos de impactos”, defendendo uma “revolução climática urgente” com o apoio da “comunidade internacional”.
“A constatação dos efeitos catastróficos das mudanças climáticas em Moçambique não é inédita, o que varia é o grau de gravidade, em função dos indicadores que cada estudo usa”, afirmou.
A localização costeira e a fragilidade das infraestruturas públicas e das habitações em Moçambique potenciam o impacto das mudanças com origem noutros países e continentes, observou Carlos Serra.
Por outro lado, a devastação florestal e a extração de recursos naturais sem nenhuma estratégia de reposição do ecossistema também amplificam os efeitos das alterações climáticas, acrescentou, assinalando que “Moçambique não é causador dos efeitos climáticos que ciclicamente assolam o território, mas tem debilidades colossais que agravam o impacto”.
Clemente Ntauazi, responsável pela área de mudanças climáticas na ONG Livaningo, referiu que Moçambique deve mobilizar, sem demoras, sinergias internas e externas para travar a “emergência climática”.
“Milhares de pessoas já morreram, prejuízos incalculáveis em infraestruturas têm sido somados e muitos mais danos irão surgir, caso não se trave esta catástrofe ambiental”, frisou Ntuazi.
No plano interno e em aliança entre o setor público e privado, o país deve fomentar resiliência, educação e cultura pró-ambiente.
“Uma cultura e ação climáticas devem nortear toda a vida e atividades do país, com construção civil e de infraestruturas públicas e atividades económicas resilientes e adaptadas ao desafio”, afirmou o ativista ambiental.
Na quarta-feira, a organização ambientalista Greenpeace pediu à Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) que tome medidas para travar as alterações climáticas.
“As condições meteorológicas extremas tornar-se-ão mais intensas e as consequências mais graves, a menos que o Presidente Nyusi e os seus colegas da SADC tomem medidas sérias face ao clima”, referiu Happy Khambule, ativista da Greenpeace, em comunicado.
Moçambique está em plena época chuvosa e ciclónica, que ocorre entre os meses de outubro e abril, com ventos oriundos do Índico e cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral.