O Governo francês vai convocar uma cimeira sobre o financiamento das economias africanas para maio, na capital francesa, anunciou o copresidente do Clube de Paris, Guillaume Chabert, numa conferência sobre o endividamento na África subsaariana.
“Não é a crise de Covid-19 que cria a subida da dívida, ela ocorreu numa altura em que África já se encontrava numa fase de rápido e significativa sobre-endividamento”, disse o líder do Clube de Paris, que agrupa os principais credores oficiais a nível mundial.
Durante a conferência virtual “África de novo a enfrentar o muro da dívida”, na quinta-feira, o responsável, que faz também parte da equipa do Ministério das Finanças da França vincou que “tratar a dívida não vai ser suficiente” e defendeu que “é necessária uma estratégia de financiamento mais global, incluindo mais fluxos externos, especialmente privados, e reformas para reforçar o setor privado africano e a atratividade económica do continente”.
A iniciativa francesa, que vai coincidir com a presidência portuguesa da União Europeia, surge num contexto de subida dos rácios da dívida face ao Produto Interno Bruto (PIB), um indicador a que os investidores internacionais estão particularmente atentos, dado que são um indicador sobre a capacidade do país honrar os seus compromissos financeiros.
Os países africanos já beneficiaram de um perdão de dívida nos anos de 1990, quando uma iniciativa conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial para os Países Pobres Altamente Endividados reduziu significativamente o montante devido.
Mas entre 2006 e 2019, a dívida aos credores externos passou de 100 mil milhões de dólares, cerca de 82,3 mil milhões de euros, para 309 mil milhões de dólares, ou 254 mil milhões de euros, o que, com a chegada da crise do novo coronavírus, atirou boa parte da região para uma recessão económica que torna muito mais difícil o cumprimento das obrigações financeiras.
De acordo com várias estimativas de organizações financeiras internacionais, o défice de financiamento da África subsaariana pode chegar a quase 300 mil milhões de dólares, o equivalente a 246 mil milhões de euros, até 2023.
Uma das iniciativas para tentar ajudar os países mais endividados a lidarem com as consequências económicas da quebra das receitas e do aumento das despesas em contexto de pandemia foi a Iniciativa para a Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), que, até novembro, tinha ‘poupado’ cerca de 5 mil milhões de dólares (4,1 mil milhões de euros) aos países em dificuldades.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.500.038 mortos resultantes de mais de 64,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.