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Novo acordo militar entre Índia e EUA ameaça a neutralidade de Nova Deli face a Pequim

Numa notícia avançada pelo jornal South China Morning Post, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o secretário de Defesa Mark Esper devem viajar a Nova Deli para conversas com os seus respetivos homólogos indianos, Subrahmanyam Jaishankar e Rajnath Singh, na próxima segunda e terça-feiras

Os dois lados já assinaram três outros acordos militares, e o quarto, o Acordo Básico de Intercâmbio e Cooperação para Inteligência Geoespacial (BECA), está pendente de aprovação do lado indiano. O documento permitirá que os EUA partilhem dados topográficos, náuticos e aeronáuticos de alta qualidade que ajudarão a Índia na navegação e na seleção de mísseis. Sendo assim, a neutralidade com o vizinho chinês passa para segundo plano.

Apesar da Índia ter deslocado milhares de tropas durante os últimos cinco meses para o impasse fronteiriço com a China na região de Ladakh, nos Himalaias, as decisões estratégicas, até agora, tinham vindo a ser lentas, pois existe receio do contra-ataque de Pequim.

EPA/FAROOQ KHAN

No entanto, Nova Deli, ao considerar o fortalecimento dos laços com os EUA, passa uma mensagem clara de que pode haver uma mudança na sua política. Exemplo disso foi o anúncio surpresa, esta segunda-feira, da expansão dos seus exercícios navais trilaterais com os Estados Unidos e o Japão para incluir a Austrália.

O acordo em expandir os exercícios navais para incluir todos os países membros do Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad) foi uma decisão que trouxe alguma hesitação antes de ser concretizado.

“Por muito tempo, a Índia apaziguou a China e foi extremamente sensível e cautelosa. Essa [abordagem] está a ser revista e o Quad é um bom exemplo ”, disse o Comodoro aposentado da Marinha Indiana C. Uday Bhaskar, diretor da Society for Policy Studies, um think tank de Nova Deli.

Mohd Arhaan Archer/AFP

Até aqui, a abordagem da Índia face à China tem sido muito cautelosa. Em 2007, os quatro países do Quad, juntamente com Singapura conduziram os exercícios navais do Malabar. Pequim dirigiu-se a Nova Deli pedindo uma explicação para a criação do agrupamento, do qual a Índia foi forçada a assegurar à China que “não houve agrupamento”. O próprio primeiro-ministro na altura, Manmohan Singh, tentou distanciar a Índia do Quad, defendendo que o exercício “não fazia parte de nenhum esforço de contenção da China” e que este grupo não tinha “implicações de segurança”. Em 2016, o país inclusive mostrou alguma relutância em fazer parte do diálogo de segurança.

Agora a política externa indiana parece assitir-se a um volte-face. A 6 de outubro, Jaishankar deslocou-se a Tóquio para juntar-se aos outros ministros das Relações Externas das nações Quad, na segunda vez que uma reunião do grupo foi realizada.

De acordo com Harsh Pant, professor de relações internacionais do Kings College de Londres, a crescente frustração na Índia deve-se às ações da China no impasse ao longo da Linha de Controle Real (LAC), a fronteira de fato que separa Ladakh de Aksai Chin administrada pelos chineses. Os combates recentes ao longo da LAC mataram pelo menos 20 soldados indianos e um número não especificado de soldados chineses. A Índia culpou a China pelo impasse, alegando que transgrediu no território indiano e insistiu que ambos os lados voltassem às suas posições em abril deste ano. No entanto, apesar de 18 rondas de negociações, nenhum acordo sobre o assunto foi alcançado. Tudo isso pesa na mente dos indianos quando se trata de buscar parcerias, dizem os analistas.

EPA/RAJAT GUPTA

O ministro das Relações Externas da China, Wang Yi, disse, na semana passada, que a cooperação estratégica entre os Estados Unidos da América (EUA), Japão, Austrália e Índia na forma do Diálogo Quadrilateral de Segurança é parte do esforço de Washington para construir uma “OTAN Indo-Pacífica”, alertando que a iniciativa seria minar a segurança regional.

Yun Sun, investigador sénior e diretor do programa do Stimson Center na China, com sede em Washington, disse num webinar a 2 de outubro, organizado pela Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, que Pequim não se convenceu com as afirmações indianas de neutralidade. “De acordo com a China, a neutralidade da Índia entre os EUA e a China é efémera e pode ser facilmente revertida” pelos EUA, disse, acrescentando que Pequim acredita que o “incentivo da Índia pela estratégia Indo-Pacífico dos EUA” está por trás da atual posição na fronteira e a “assertividade” da Índia.

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