A polícia angolana anunciou a abertura de uma sindicância para averiguar as circunstâncias da morte de um médico levado para uma esquadra por não usar máscara.
“Não foi uma invenção dos nossos agentes, eles estavam no cumprimento do seu dever, afirmou o comandante da polícia de Luanda, Eugénio Fernando Cerqueira, em conferência de imprensa.
Este responsável explicou que o médico foi levado para a esquadra para “que fossem cumpridas as formalidades”, nomeadamente o levantamento do auto de notícia para posterior pagamento da multa, e reafirmou que a interpelação foi feita no âmbito do decreto que determina as medidas de exceção em vigor durante a situação de calamidade devido à covid-19.
Sílvio Dala, de 35 anos, foi interpelado pela polícia por não usar mascara facial no interior da viatura que conduzia e onde seguia sozinho.
Segundo Eugénio Cerqueira, o médico não foi colocado numa cela e a morte ocorreu a caminho do hospital, depois de Sílvio Dala se ter sentido mal e ter caído, uma versão contrariada pelo Sindicato Nacional dos Médicos de Angola, que já admitiu avançar com um processo judicial contra a polícia devido à morte do seu associado.
O comandante da polícia afirmou que já foi instaurado um inquérito pela Procuradoria Geral da República, que “está a seguir os seus trâmites”, e que caberá aos órgãos competentes de justiça determinarem se “houve alguma situação menos correta” por parte dos agentes que interpelaram Sílvio Dala.
Eugénio Cerqueira adiantou que esta intervenção “não foi um ato isolado” e que já foram multados e sancionados disciplinarmente cerca de 19 agentes por mau uso da máscara em Luanda.
Questionado sobre a marcha de protesto convocada pelos médicos para sábado, afirmou que a polícia ainda não foi notificada.
“Se formos notificados e essa maracha cumprir com os requisitos da lei (…) quem somos nós para impedir? Temos de proteger essa manifestação, é normal que as pessoas se manifestem”, sublinhou.
A morte do médico, no dia 01 de setembro, suscitou comoção em Angola e críticas por parte de organizações dos direitos humanos e personalidades angolanas que usaram as redes sociais para exprimir o seu repúdio, como o músico e ativista Luaty Beirão, o cantor Anselmo Ralph e as filhas do ex-presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos e Welwitschea “Tchizé” dos Santos.