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Pandemia abranda mas não trava projeto

Fronteiras encerradas, ligações suspensas, cadeias de abastecimento congeladas, obras e estaleiros parados. No auge do surto epidémico, o coronavírus SARS-CoV-2 paralisou a República Popular da China e a região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau não foi exceção. A crise de saúde pública deixa mazelas, mas não inviabiliza o projeto de integração económica que engloba as duas Regiões Administrativas Especiais e nove cidades da província de Cantão. O ideal da Grande Baía pode mesmo sair reforçado, defendem especialistas ouvidos pelo PLATAFORMA.

“A ideia de conectividade é chave no âmbito desta iniciativa e pode sair reforçada de toda esta situação. Vai ser necessário algum tempo, mas as coisas vão voltar a ser como eram”. O veredito, telegráfico, mas assertivo, é traçado por Rachel Li, investigadora da Universidade Cidade de Macau. O tema é abordado no âmbito da tese de doutoramento que versa as relações de complementaridade entre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e o papel de Macau como plataforma para os países de língua portuguesa (PLP). O tempo é um fator determinante para a reabilitação do projeto, mas não o único.

A propagação da doença obrigou ao encerramento quase total de fronteiras, suspendeu ligações rodoviárias, ferroviárias e aéreas nas onze cidades abrangidas pela iniciativa e, no entender de Tiago Pereira, introduziu uma nova e inesperada dimensão – a da segurança e do bem-estar público – na mecânica da Grande Baía. “Este projeto presume a integração de três realidades diferentes no âmbito do princípio “Um País, Dois Sistemas”. Estamos a falar de regiões com sistemas políticos e administrativos diferentes, com regimes fiscais diferentes. A covid-19 introduz uma dimensão adicional ligada à questão da segurança e do bem estar-público. É mais uma a acrescer àquelas”, sustenta o engenheiro civil, que representa em Macau a Associação para a Cooperação e Desenvolvimento Portugal-Grande Baía.

Perante a atual incerteza, a mobilidade interna entre os três territórios em que se alicerça o projeto prefigura-se como um desafio de peso, mas para Leung Kai Yin a solução radica na quadratura institucional da Grande Baía. Da mesma forma que ofereceram aos residentes de Macau e de Hong Kong, designadamente benefícios fiscais e laborais, as autoridades do Continente poderão sugerir que os residentes da Grande Baía sejam abrangidos por um regime de exceção médica. “A zona da Grande Baía pode ser parte da solução. Cidades como Zhuhai, Hong Kong e Shenzhen talvez possam assinar acordos com Macau para permitir que as pessoas viajem sem ter de mostrar certificados médicos. Só é necessário que a fiabilidade do sistema de saúde dessas cidades possa ser comprovado”, assume o docente da Escola Superior de Administração Pública do Instituto Politécnico de Macau.

Infraestruturas e investimento público

O sucesso do desenvolvimento do projeto depende, em grande medida, da capacidade, por parte dos diferentes governos que lhe dão corpo, de mobilizar investimento e de atrair quadros qualificados. A maior ponte oceânica do mundo e a mais moderna rede ferroviária de alta velocidade do planeta deixaram as duas margens do Delta do Rio das Pérolas mais perto do que nunca e a construção de infraestruturas deve continuar a impulsionar o expediente da integração na esfera da Grande Baía: “Há dois fatores fundamentais, que ajudam a justificar porque é que se pode prever, com alguma segurança, que o impacto desta crise será limitado. Por um lado, a construção de infraestruturas e, por outro, a aposta nas novas tecnologias e na investigação científica”, defende Tiago Pereira.

O investimento público, concorda Henry Lei, é o trunfo com que os governos da zona da Grande Baía vão procurar manter a economia à tona, mas o economista e professor-assistente da Universidade de Macau entende que a dinamização do projeto deixou de ser uma prioridade. “É inevitável que o progresso de algumas iniciativas seja protelado, incluindo o desenvolvimento da Grande Baía. É importante dar continuidade a estas iniciativas, mas neste momento não sei se serão prioritárias”, alerta. “A prioridade deverá passar pela injeção de um apoio financeiro significativo para manter as pequenas e médias empresas à tona e não tanto por investir o dinheiro no reforço da ligação e da integração económica entre as cidades da zona da Grande Baía”, complementa.

Para Patrick Huen, a prioridade vai para a reativação da atividade económica. O vice-Presidente da filial de Macau do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) reconhece que a pandemia de Covid-19 confrontou o projeto de desenvolvimento da Grande Baía com “algumas disrupções em termos de conectividade”, mas defende que o impacto da crise de saúde pública não coloca em causa o projeto. A chave para a recuperação económica, sustenta, está nas mãos do Governo Central. “A pandemia limitou, inegavelmente, a circulação de pessoas entre as cidades e as regiões que integram a Grande Baía durante alguns meses, mas parece-me que o Governo Central está determinado a repor a normalidade o mais depressa possível” defende Huen Wai Ming.

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