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Pandemia aumenta tensão política na Guiné-Bissau

Caída do céu a pandemia do novo coronavírus, que entrou pelo aeroporto internacional Osvaldo Vieira, instalou-se nas regiões de Bissau, Cacheu e Biombo e apanhou desprevenido o governo liderado por Nuno Nabian, que havia ocupado as instituições do Estado, com o apoio dos militares.
Se as acusações entre políticos e partidos já eram uma constante no país, a chegada da covid-19 foi mais um pretexto para aumentar a tensão e marcar posições.
“O combate à covid-19 transformou-se num combate político”, afirma o bastonário da Ordem dos Jornalistas, António Nhaga.
Enquanto isso, alguns guineenses já corriam para as farmácias a comprar máscaras, luvas, álcool gel e paracetamol.
Outros cidadãos diziam que a covid-19 era “doença de branco”, que o calor em África não ia deixar espalhar a doença, que era tudo mentira e muitos, ainda hoje, e apesar de casos confirmados acreditam que a doença não existe.
Ao mesmo tempo, uma campanha de desinformação sobre a doença instalou-se nas redes sociais a que se somou má coordenação. Falhas graves de comunicação ainda colocaram a população mais confusa sobre que medidas aprovadas, no âmbito do estado de emergência. A juntar-se a isto os principais parceiros internacionais da Guiné-Bissau pareciam mudos. Não reconhecem as autoridades no poder no país e acederam a dar algum apoio, mas apenas por “razões humanitárias”.
Medidas avulsas, sem contextualização, restrições, mal explicadas, levaram a situações de abuso por parte das forças de defesa e segurança e a várias denúncias de violação dos direitos humanos, que obrigaram as autoridades no poder a fazer um pedido de desculpas público à população.
“O país não se conseguiu mobilizar. Não é uma coisa nacional”, lamentou António Nhaga, salientando que parece que a Guiné-Bissau está em plena campanha eleitoral, com os dirigentes a entregarem “diretamente o apoio aos respetivos eleitores”.
Transportes públicos paralisados, mercados e outro tipo de serviços encerrados, e uma restrição que apenas permite às pessoas circularem entre as 07:00 e as 12:00, sendo que os últimos 60 minutos são para regressar ao domicílio.
A isto juntou-se uma presença musculada das forças de segurança nas ruas, que não hesitam em usar a violência contra as pessoas que não cumprem o horário de circulação. A Liga Guineense dos Direitos Humanos tem denunciado a atuação das forças de segurança e já recebeu mais de 100 denúncias de pessoas vítimas de agressão e outro tipo de abuso.
“Isto está a acontecer exatamente por causa do contencioso eleitoral que vivemos. É um reflexo do contencioso eleitoral”, afirmou Nhaga, que se mostra preocupado com as próximas semanas. “Não sabemos se atingimos o pico. Não temos estruturas sanitárias, isto vai colapsar”, prevê.
O bastonário da Ordem dos Jornalistas deixa também críticas ao comportamento das autoridades, que não dão o exemplo. “Estão só nas ruas a dizer às pessoas para irem para casa e depois passeiam pelo país sem saber se estão ou não contaminadas”, alertou.

ECONOMIA BLOQUEADA
Paralelamente, a Guiné-Bissau vai sofrer profundamente com o impacto económico da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Apesar do perdão de parte da dívida anunciado pelo Fundo Monetário Internacional e de outros apoios dados por entidades financeiras internacionais, as autoridades no poder na Guiné- Bissau consideram que o país poderá perder 1,5 por cento do Produto Interno Bruto e o equivalente a 40 milhões de euros em pagamentos ao Tesouro Público.
A economia guineense está sustentada na campanha de comercialização da castanha de caju, principal produto de exportação do país e da qual depende 85 por cento da população. Em pleno período de comercialização da castanha de caju não há sinais de atividade por falta de compradores.
“Estou pessimista. Não há receitas, a campanha de caju não vai correr bem”, disse Luís Vaz Martins, da Liga Guineense dos Direitos Humanos. Para o dirigente, as pessoas mais pobres são as que mais dependem da castanha de caju.
A organização já deixou um alerta público de que há pessoas a viver com fome no país e pediu às autoridades nacionais e parceiros internacionais para traçarem urgentemente um plano de contingência.

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