Início Economia Trocas: China confiante

Trocas: China confiante

Cenário de abrandamento do comércio internacional surge nos cálculos de economistas e investidores, mas Gao Yang prevê estabilidade.

O Ministério do Comércio da China acredita que o país vai conseguir manter o atual nível de trocas comerciais com o resto do mundo e prevê continuar a aumentar importações, apesar dos riscos crescentes das tensões tarifárias para o comércio internacional. 

“Estamos a confiantes quanto ao comércio externo e também, especialmente, quanto à perspetiva das trocas entre a China e os países de língua portuguesa”, afirmou Gao Yang, vice-ministra do Comércio, em entrevista com o PLATAFORMA e outros media, em Lisboa. 

A governante com a tutela das relações comerciais com os países de língua portuguesa e do Fórum de Macau, esteve em Portugal na passada semana, por ocasião do Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que se realizou no Centro de Congressos de Lisboa. 

A ocasião serviu para reiterar a mensagem que tem vindo a ser deixada pelo Presidente Xi Jinping desde o último Congresso do Partido Comunista Chinês, de que o país irá progredir na abertura ao investimento externo e às importações, contrariando a mensagem protecionista atualmente difundida pela Administração dos Estados Unidos. “A porta da China não vai fechar-se”, assegurou Gao Yan aos empresários, numa mensagem também repetida em entrevista.

“A porta da China não vai fechar-se. Empresas, mercadorias e serviços que queiram entrar no mercado chinês são bem-vindos. A China não vai abrandar nos seus avanços devido ao unilateralismo e protecionismo. Pelo contrário, vai dar mais passos de abertura e a população chinesa será beneficiada, com mais oportunidades para outros países e resultados do processo de abertura”, indicou a vice-ministra.

O discurso surge no auge de novas iniciativas tarifárias prometidas pelos Estados Unidos, com oferta de retaliação ao mesmo nível da parte de Pequim. O Presidente norte-americano, Donald Trump, prepara sobretaxas a bens de tecnologia chineses cujo valor de importação para os Estados Unidos rondará os 50 mil milhões de dólares. Pequim garantiu não ficar atrás. De acordo com o Wall Street Journal, Xi Jinping terá na passada semana estado reunido com executivos de multinacionais americanas e europeias na capital chinesa, explicando que, se no ocidente há o conceito de oferecer a outra face uma ofensa, na China é costume retribuir-se na mesma moeda. A todos garantiu, porém, que o país permanece de portas abertas.

Mas, se Pequim não projeta impactos negativos de uma escalada tarifária, organizações e mercados parecem pensar diferente. As previsões económicas começam a acautelar os piores cenários. Em Portugal, por exemplo, o banco central estimou no seu mais recente boletim económico que o volume de comércio possa ser reduzido em 10 por cento frente a uma subida de preços de igual medida motivada pelo aumento das tarifas. Em 2016, a OCDE estimava quebras superiores cinco por cento e o Fundo Monetário Internacional  na ordem dos 15 por cento, com base num quadro de alterações tarifárias desta dimensão.

Já nos mercados chineses, na última terça-feira o índice principal da bolsa de Xangai recuou em 0,5 por cento, ficando mais de 20 por cento abaixo de máximos de dois anos alcançados em janeiro, e sinalizando a redução de confiança dos investidores. A moeda chinesa também atingiu no mesmo dia um mínimo de seis meses contra o dólar após o Banco Popular da China ter determinado um corte nas reservas dos bancos – entendido como sinal de que o banco central estará preocupado com os riscos negativos para a economia do atual confronto com Washington.

Aumentar importações

Mas a China, segunda economia do mundo e principal ator de comércio do globo, tem, por enquanto, alguns dados otimistas em que se apoiar. As últimas estatísticas oficiais sobre as trocas comerciais do país, de maio, apontam para uma aceleração nas importações, em 15,6 por cento (11,6 por cento no mês anterior), com o aumento das exportações a abrandarem para 3,2 por cento (3,7 por cento em abril).

Nas recentes estimativas do comércio mundial publicadas esta semana pelo Gabinete de Análise da Política Económica dos Países Baixos, em abril o volume das trocas comerciais globais ter-se-á expandido em 0,7 por cento. Mas a dinâmica do comércio internacional estará a recuar, em 0,6%, na variação média dos últimos três meses em cadeia. As estimativas quanto à Ásia apontam para um crescimento de 0,7 por cento nas importações  (com uma dinâmica de crescimento de 2 por cento) e de 4,8 por cento nas exportações da região (com uma descida de 2 por cento na variação em cadeia).

Gao Yang avisou: “no contexto da globalização, todos dependemos uns dos outros”, reconhecendo um recuo acentuado das trocas da China em 2015, que de resto tiveram efeitos globais no crescimento económico. Sucederam num cenário de abrandamento económico do país e de forte volatilidade dos mercados chineses, mas a vice-ministra recorda antes a crise financeira mundial iniciada em 2008. 

“Houve abrandamento nas trocas comerciais neste quadro geral”, disse. 

“A partir de 2016, a economia internacional começou a recuperar, trazendo muitas oportunidades para o mercado, o que também contribuiu para o aumento das trocas comerciais da China – que conseguimos verificar através dos dados e estatísticas. Atualmente, há um nível estável nas trocas comerciais”, afirmou.

No ano passado, o comércio da China com o resto do mundo ampliou-se em 14,2 por cento para 4,28 biliões de dólares. Já as trocas com os países de língua portuguesa, nas quais o Brasil é o principal parceiro da China, aumentaram em 29,4 por cento, para 117,6 mil milhões de dólares, de acordo com dados dos Serviços de Alfândega do país.

A responsável do Ministério do Comércio assegurou que os países de língua portuguesa podem contar com um aumento do ritmo das exportações para a China. “De acordo com o Presidente Xi Jinping, a China tem de ter mais iniciativa de importações. Estamos de mãos abertas para receber produtos e serviços de qualidade dos países de língua portuguesa”, afirmou, deixando ainda o convite a que  os empresários dos países de língua portuguesa participem na Exposição Internacional de Importações da China, que acontece em novembro em Xangai.

Gao Yang voltou também a afirmar que Macau assume nesta relação “uma posição insubstituível”.  “Esta também é uma forma de melhor concretizar o princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, podendo Macau reforçar assim a sua importância e o seu papel de plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”, disse. 

Maria Caetano  29.06.2018

rvqA_djDGR8vXHwdJHkN0w

Macau e Continente aproximam-se da bolsa de Lisboa

Na missão da passada semana a Portugal, a comitiva de Lionel Leong fez saber que vê a Euronext como mercado ao qual gostaria de aceder.

Macau e Portugal vão estabelecer cooperação técnica na supervisão de seguros e de fundos de pensões, e a região pretende ter mais acesso para si e para entidades da China continental ao mercado de capitais europeu via Euronext, ao mesmo tempo que se oferece para regularizar contratos comerciais e financeiros através do seu centro offshore de compensação de renminbi em tempo real.

São alguns dos resultados públicos de uma missão financeira conduzida pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, a Portugal, na passada semana. A deslocação, numa missão integrada pelo antigo chefe do Executivo Edmund Ho e pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM), acompanhada de várias instituições financeiras locais e do interior da China, ocorreu durante o Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que se realizou este ano em Lisboa.

Com a participação, pela primeira vez, nos encontros anuais de empresários do grupo sino-lusófono, Lionel Leong quis promover a região enquanto centro financeiro de serviço às relações comerciais e de investimento entre os países que integram o Fórum de Macau. As áreas do leasing, da gestão de fortunas, e da regularização de contratos comerciais em moeda chinesa, a par com a promoção de Macau como centro de arbitragem comercial foram as apostas enunciadas por Lionel Leong, que deixou ainda um apelo a que mais instituições financeiras da China continental fixem presença na região.

“Fazemos votos de que haja um maior número de instituições financeiras a apoiar Macau”, disse na abertura de um encontro que manteve à margem do programa principal da agenda do governante. Uma série de encontros, não acompanhados pela imprensa, onde se incluíram colóquios realizados no Banco de Portugal e na Euronext, e encontros com a Associação Portuguesa de Bancos.

Segundo a AMCM, Macau fez saber que a Euronext Lisboa é vista com um mercado onde as empresas chinesas quererão fazer aplicações e obter financiamento. A Euronext por seu turno quer ver oportunidades de cooperação com outras jurisdições, indicou a presidente da bolsa de Lisboa, Isabel Ucha. Foram discutidos serviços em renminbi, mas a Autoridade Monetária não revela que papel poderão desempenhar em futuras oportunidades de cooperação com a bolsa portuguesa.

Durante a visita, o Millenium BCP assinou também um acordo com a sucursal do Banco da China em Macau para a participação no sistema de regularização em tempo real de contratos comerciais e financeiros em renminbi, a chamada câmara de compensação da região na qual o Banco da China é a entidade autorizada a realizar as operações na moeda. 

Maria Caetano  29.06.2018

gsfmMkT9dqGybDmBWKrdUQ

Macau vai passar a informar Brasil sobre negócios da China

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, anunciou que o Governo vai passar a informar regularmente autoridades e empresas do Brasil acerca da oportunidade de negócios na China.

A mensagem de Lionel Leong foi deixada a entidades oficiais e a empresários brasileiros durante uma missão financeira e empresarial de Macau que esteve esta semana em Brasília e no Rio de Janeiro.

“O Governo da RAEM irá manter uma comunicação estreita com os serviços competentes do Brasil, de forma a prestar, aos serviços públicos e empresas brasileiras, novas informações do mercado da China, com o objetivo de conhecerem melhor as oportunidades no desenvolvimento e investimento”, lê-se numa nota do Gabinete de Comunicação Social de Macau.

Nos diferentes encontros realizados nas duas cidades, Lionel Leong lembrou que o Governo central, quando lançou a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, incentivou os países de língua portuguesa a participarem no projeto. O governante falou também das vantagens de Macau, nomeadamente do princípio “Um País, Dois Sistemas”, do porto franco, da economia livre, assim como da criação no território do projeto “Um Centro, Uma Plataforma”.

Destacou o arranque, em breve, do projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, esclarecendo que o mesmo vai criar condições de apoio e facilidades às empresas que quiserem entrar e beneficiar de um mercado com cerca de 80 milhões de pessoas.

O governante de Macau esclareceu as diversas entidades oficiais e empresariais acerca do Fundo de Cooperação e Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, lembrando que este instrumento apoia empresas da China interior a investirem nos países lusófonos, ajudando, por outro lado, as empresas desses estados, juntamente com Macau, a entrarem no grande mercado da China. Ainda neste âmbito anunciou que vai ser negociado com o Fundo uma redução nos limites de acesso, para assim facilitar que mais empresas possam usufruir do mesmo.

Recordou igualmente que o Governo de Macau está empenhado em fazer do território um centro de liquidações em Renminbis junto dos Países Lusófonos.

Nos encontros em Brasília, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Gleisson Rubin, destacou os laços económicos e comerciais entre o Brasil e a China e admitiu que, no futuro, Macau irá desempenhar um papel maior e mais facilitador da entrada de pequenas e médias empresas provenientes do Brasil, China e Macau, nos respetivos mercados.

Por sua vez, o secretário de Assuntos Internacionais (SEAIN) do mesmo departamento, Jorge Arbache, reconheceu o contributo de Macau no impulso da cooperação bilateral e espera um reforço dessas relações através da participação do Brasil na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Já no Rio de Janeiro, o vice-governador do estado, Francisco Dornelles, assegurou que o Governo local tem dado mais atenção a Macau, enquanto plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, reconhecendo o importante papel do território no impulso ao desenvolvimento relações económicas entre o Brasil e a China.

O responsável brasileiro defendeu que, no futuro, as duas partes devem continuar a reforçar a cooperação em várias áreas, especialmente, na economia e comércio, no turismo, na cultura e na educação. 

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!