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“Tecnologia blockchain irá mudar a indústria local nos próximos três anos”

O diretor Interino do Instituto de Inovação Colaborativa da Universidade de Macau antecipa que a tecnologia blockchain vá provocar mudanças na indústria financeira, turística e de serviços de entrega de Macau. Jerome Yen diz que já há casinos locais que começaram a avaliar o uso da tecnologia nos últimos dois anos. O académico alerta para a falta de especialistas em Macau. A procura de recursos humanos, estima, deverá rondar as centenas nos próximos três anos.

– Várias pessoas afirmam que Macau ainda está longe de poder usar tecnologia blockchain, concorda?

Jerome Yen – Acho que essa ideia está completamente errada. Não estou nada de acordo. Macau tem várias áreas onde a tecnologia pode ser aplicada. Existem, por exemplo, muitas formas de tirar partido da tecnologia blockchain no processo de transformar Macau numa cidade inteligente. Durante os próximos dois ou três anos, esta tecnologia tem potencial para se desenvolver a grande velocidade e em várias áreas em Macau, e não só para Oferta Inicial de Moedas (Initial Coin Offering – ICO). Prevejo que esta tecnologia seja também aplicada em projetos ligados à construção de uma cidade inteligente, smart banking, logística e turismo.

– Pode enumerar algumas situações em que a tecnologia pode ser aplicada?

J.Y. – Por exemplo no Galaxy Macau, visto existirem várias zonas de jogo, lojas e restaurantes, o resort poderia criar as suas próprias “Moedas Galaxy”. Não me refiro a uma moeda real mas sim a “fichas”, algo diferente de uma moeda oficial. Dentro do Galaxy existiria a possibilidade de comprar este tipo de fichas e receber descontos com a sua utilização. Todas as compras que forem feitas serão registadas. Para onde quer que o dinheiro vá, será usada a tecnologia blockchain para fazer a respetiva liquidação do dinheiro gasto na compra. E de que forma pode esta tecnologia ajudar Macau? Em contexto comercial, as lojas poderão aceitar estas fichas em vez de dinheiro. Outro uso para esta tecnologia poderá ser, por exemplo, na compra de produtos europeus, como um relógio ou algo da marca Gucci, poderá ser associado a esse objeto um código de barras, que servirá como ponto de informação para a blockchain. Nesse código está registado o local de produção do objeto, o seu dono e o seu comprador. Basta fazer scan ao código para termos logo acesso a todo este historial do objeto, informação que a blockchain não tem forma de adulterar.

– Porque deveríamos usar esta tecnologia descentralizada como a blockchain?

J.Y. – Por esta tecnologia ser ter como base a distribuição – registo e armazenamento de dados). É impossível alterar os registos, a não ser que alguém consiga alterar mais de metade dessa informação. Perguntou qual a razão para uma descentralização. A razão é reforçar a confiança. Em 1973, a invenção da internet trouxe-nos a partilha de informação. Agora, a tecnologia blockchain quer reforçar a nossa confiança. Basta algo ser registado através desta tecnologia para eu saber que a informação é fidedigna.

– Em relação à área de serviços de entrega, quando algo chega ao aeroporto de Macau, o que acontece depois?

J.Y. – Vamos imaginar que uma peça de joalharia chega de Itália ou França. Antes de esta ser enviada poderá ser cravado um código de barras invisível a olho nu, com ligação a blockchain. Este código é também quase impossível de alterar devido à tecnologia com a qual é cravado. Mesmo que durante o envio o embrulho seja alterado, quando a peça me for entregue, irei saber imediatamente se tal aconteceu e poder comprovar se a joia é verdadeira ou não. Se for falsa, não existe possibilidade de comprovar esta alteração. Por isso, na área de logística, esta tecnologia pode ajudar a combater contrafação.

– Mas se o produtor não utilizar a tecnologia blockchain, o que acontece quando o objeto chega a Macau?

J.Y. – É impossível de comprovar. Se só depois de chegar a Macau for utilizada a tecnologia, então só a partir desse momento é que será registada a informação e o objeto fará parte da blockchain.

– No exemplo que acabou de dar, quem poderá inserir o objeto na blockchain?

J.Y. – Poderá ser o vendedor, o avaliador ou o comprador. Se no espaço de dois ou três anos o comprador não gostar mais da peça, e quiser revendê-la, poderá ser comprovado através desta tecnologia se a peça é verdadeira ou não.

– Como poderá a indústria financeira tirar partido desta tecnologia?

J.Y. – Se os cartões bancários utilizarem tecnologia blockchain, os bancos poderão mais facilmente auditar os seus registos. A isto chama-se “Blockchain Auditing”, desta forma todas as informações financeiras de uma empresa poderão estar registadas em blockchain. Por exemplo, se qualquer pagamento ou transferência ficar registado na blockchain, na altura da auditoria todas as atividades estarão registadas na blockchain. Numa indústria marcada por várias transferências de capital, é fácil para bancos ou instituições financeiras aplicar esta tecnologia.

– Dessa forma, o auditor não necessita de recorrer a várias fontes para aceder aos dados necessários.

J.Y. – O que bancos e instituições financeiras mais temem é manipulação de dados. Dados nesta tecnologia são impossíveis de alterar, tudo o que o auditor precisa de fazer é aceder ao registo das transações, sem preocupação alguma de que os dados a que está a aceder tenham sido previamente adulterados. Por outro lado, a tecnologia blockchain também pode ser usada para investimentos. Vamos imaginar que pretendemos criar um fundo, constituído por vários ativos financeiros. Pode ser usada esta tecnologia para criação de tal fundo. Por exemplo, no que diz respeito a seguradoras, o maior medo é não saber qual a percentagem que o intermediário recebe. Através da blockchain, todas estas questões ficam muito mais transparentes. Não só saberemos quanto ganhou o agente, como se o mesmo recebeu mais do que o que está definido no contrato.

– Esta tecnologia irá afetar ou por em risco alguns empregos no setor financeiro ou de contabilidade?

J.Y. – Irá com certeza afetá-los de certa forma. No que diz respeito a auditores, daqui para a frente o seu trabalho irá ser facilitado, talvez até reduzido. Com o uso futuro desta tecnologia irá com certeza haver vários profissionais afetados, tanto contabilistas como gerentes de ativos bancários. Muitas pessoas irão assistir a mudanças no seu trabalho causadas pela tecnologia blockchain.

– Quando, por exemplo, atuais estudantes de contabilidade se formarem, irão provavelmente ser confrontados com empregos muito diferentes dos atuais. Como podem as universidades lidar com esta situação?

J.Y. – As universidades têm de preparar talentos com conhecimentos de blockchain. Neste momento, são quase inexistentes os recursos humanos com conhecimentos desta tecnologia em Macau. Por isso, nós [Instituto de Inovação Colaborativa da Universidade de Macau] demos início, em março, ao Campo de Formação Blockchain, para dar a conhecer aos nossos estudantes esta nova tecnologia. Eu, juntamente com outros colegas, dei início a esta disciplina devido à procura de formação do género em Macau ser extremamente alta. E na nossa opinião, vai crescer ainda mais nos próximos anos. Estimamos que nos próximos três anos, Macau necessite de cerca de 500 a 600 pessoas com conhecimentos de blockchain.

– Se todos os atuais estudantes de finanças ou contabilidade quiserem aprender mais sobre blockchain, os programas dos respetivos cursos terão de ser alterados.

J.Y. – Provavelmente terão de ser adicionadas uma ou duas disciplinas [relacionadas com tecnologia blockchain]. Para o caso de estudantes de computação, no futuro iremos pedir que seja criada mais uma disciplina relacionada com esta tecnologia. Também iremos abrir estas formações a toda a universidade, tanto a alunos de finanças como de comunicação, por exemplo.

– Há quem defenda que o tema da tecnologia blockchain só começou a ser discutido recentemente ao nível oficial.

J.Y. – Não, não podemos subestimar dessa forma os membros do nosso Governo. O Executivo tem estudado o uso desta tecnologia, e há membros com um conhecimento muito aprofundado do assunto. Acontece que nos encontramos ainda numa fase inicial. Por exemplo, alguns têm prestado atenção a esta tecnologia durante os últimos dois anos. O facto de não terem tomado nenhuma medida não significa que não compreendam. Em Macau, existem já várias pessoas de bancos, hotéis ou casinos com interesse em blockchain. Nos últimos dois anos, houve casinos que criaram equipas para investigar esta tecnologia e avaliar a possibilidade de criação das tais fichas de que falei, e de tecnologias que possibilitem a implementação de pequenos chips eletrónicos no seu interior. Assim se determinará se no futuro será ou não possível a implementação deste sistema em carteiras virtuais, por exemplo. Se não quisermos que as pessoas à nossa volta saibam quanto estamos a apostar no casino, podemos simplesmente abrir a nossa carteira virtual, e apostar o montante que desejamos. No nosso telemóvel, iremos depois saber exatamente quanto perdemos ou ganhamos, visto estes serem registos completamente inalteráveis. Pode primeiro ser feito um teste com duas ou três mesas, e no espaço de dois anos implementar esta tecnologia. Desta forma seria criado um jogo sem fichas físicas, completamente anónimo.

– Acha que a tecnologia vai mudar a indústria financeira, turística e de serviços de forma visível?

J.Y. –Será visível, sim. Poderão dar-se dois efeitos diferentes. Um será empresas estrangeiras estenderem a sua blockchain à de empresas locais. Outro poderá ser, tendo em conta o impacto desta tecnologia no estrangeiro, haver mais procura deste tipo de tecnologia em Macau.

– Sendo assim, Macau precisa de recursos com conhecimentos de blockchain.

J.Y. – Exatamente. A procura vai chegar às centenas de pessoas, que neste momento não existem. Não formamos recurso com tais capacidades. Por esta razão, as universidades de Macau precisam de começar a prestar atenção a esta área. No passado, Macau dependia sempre do estrangeiro. Além de formações e currículos universitários, talvez seja também necessário criar alguns projetos para a sociedade em geral. Por exemplo, a Universidade de Macau pode criar mais fóruns, pode até encarregar os seus alunos de escrever um pequeno manual de informação sobre blockchain, ou criar alguns seminários ou workshops, de forma a dar a conhecer ao público esta tecnologia.

Autoridade Monetária de Macau quer incentivar o desenvolvimento da blockchain

Art 2 Steve Pang Art 2 Samson Hoi

A tecnologia blockchain, com cerca de uma década, foi o que deu origem à bitcoin. O Governo quer incentivar o desenvolvimento da tecnologia, mas alerta para os riscos dos investimentos em moedas virtuais.

A tecnologia blockchain possibilita aos seus utilizadores fazer transações rápidas sem intermediários, sendo os registos destas transações irreversíveis e inalteráveis. O uso mais comum desta tecnologia está ligado a criptomoedas como a bitcoin.

Seguindo a tendência mundial, o Governo confessa estar satisfeito com a mudança que a tecnologia está a causar na indústria financeira. A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) alerta, no entanto, que são vários os perigos inerentes às moedas virtuais. Em resposta ao PLATAFORMA, o organismo salienta que encoraja o uso da tecnologia de blockchain para desenvolvimento de fintech (finance and technology, aplicação de tecnologia em serviços financeiros). Espera-se que no futuro esta seja largamente aplicada em vários produtos e serviços financeiros, todavia, “a AMCM mantém a mesma posição em relação a criptomoedas, que também usam esta tecnologia blockchain”.

A Autoridade realça ainda que criptomoedas, como a bitcoin, ainda não são reguladas em Macau como moeda corrente ou instrumento financeiro, por isso as transações ainda são altamente arriscadas. Os riscos incluem branqueamento de capitais e financiamento de terrorismo. Bancos e outras instituições de pagamento não fornecem por enquanto serviços financeiros relacionados mas as autoridades competentes já desenvolveram “mecanismos de cooperação robustos” com a polícia para combater atividades financeiras ilegais, garante o organismo.

Atualmente, estão a ser criadas novas formas de aplicar a tecnologia blockchain. Através de moedas virtuais são depois capazes de comprar “tokens” (fichas) para projetos. No entanto, a maioria destes projetos ainda não estão ativos, e estes tokens são maioritariamente vendidos como moedas virtuais.

Em abril, houve três conferências sobre blockchain em diferentes hoteis-casinos, sendo a maior parte dos participantes chineses. Para além da tecnologia blockchain também foram apresentados vários tipos de tokens.

Samson Hoi, autor de um blog sobre blockchain e diretor-executivo de uma empresa de tecnologia em Macau, explica que, como o Governo Central tem reforçado as restrições às criptomoedas, muitos habitantes do Continente vêm a Macau procurar parceiros para emitir tokens.

Sobre a posição do Governo, Steve Pang, fundador da Macau Quantum Gold Blockchain Technology Limited, acredita que “Macau, em comparação com as outras regiões da China, assume uma atitude menos interventiva”. Por outro lado, acrescenta, a atitude de Pequim “pode ser relativamente mais alargada”, criando políticas de redução de risco. Hong Kong, embora apropriado para a implementação da indústria blockchain, está restringido por outras jurisdições.

Steve Pang acredita que, com a popularização da tecnologia blockchain e criptomoedas a nível mundial, Macau irá desenvolver regulamentação e supervisão nesta área, e defende que o Governo de Macau não se opõe ao uso desta tecnologia.

“Tanto eu como a minha equipa temos tido oportunidades de trabalhar com membros do Governo ligados à área de política financeira e de discutir possíveis aplicações da tecnologia em Macau. Acredito que veem potencial.”

Já Samson Hoi considera que “se o Governo tiver interesse em explorar o uso de blockchain no setor financeiro, pode começar por incentivar indústrias, como a do setor de seguros, a experimentá-la”. Hoi acredita que o Executivo também pode tentar implementar a tecnologia em serviços públicos, reduzindo assim alguns mal-entendidos do público em relação a blockchain.

Polícia Judiciária: cinco casos relacionados com criptomoedas

A Polícia Judiciária disse ao PLATAFORMA que o caso da IRTC ainda está sob investigação, não havendo mais detidos. Em abril, uma empresa organizou em Macau uma conferência de lançamento de criptomoeda IRTC (InternationalRecreation Chain), alegando ter cooperação com várias salas VIP de casinos. A empresa foi desmentida. A polícia deteve um homem envolvido na conferência por crime de burla e crime de associação criminosa. A polícia refere há pelo menos 10 suspeitos em fuga. Desde 2016 até agora, as autoridades dizem que iniciaram mais quatro investigações “sobre casos similares”. Até agora, houve uma detenção. Os casos já foram entregues ao Ministério Público.

Bitcoin

Cronologia

Janeiro 2009 – Lançamento da Bitcoin como sistema de pagamento e criptomoeda por Satoshi Nakamoto (nome fictício);

Novembro 2013 – Pela primeira vez, o preço da Bitcoin superou os mil dólares norte-americanos;

Julho 2015 – Lançamento do sistema de pagamento e criptomoeda Ethereum;

Julho 2017 – Lançamento da Binance: a criptomoeda mais usada no mundo atualmente;

Maio de 2018 – O preço da Bitcoin sobe para cerca de 7,500 dólares norte-americanos.

Tanto Samson Hoi como Steve Pang acreditam que o conhecimento generalizado de blockchain e criptomoedas em Macau está relativamente atrasado. Steve Pang realça que, apesar da região, Hong Kong e Taiwan estarem “relativamente atrasados, Taiwan é o território mais avançado, ainda que esteja aquém do Continente”.

Samson Hoi acrescenta que, embora muitos residentes da China continental tenham organizado atividades para discussão de blockchain em Macau, a exploração da tecnologia continua numa fase muito inicial, e está muito atrasada em relação à China continental ou a países como o Japão e a Coreia do Sul.

BLOCKCHAIN é uma tecnologia:

encriptada e descentralizada de guardar e conservar dados/informação;

fica alojada nos computadores de cada utilizador em vez de ficar guardada num sistema central;

Foi criada em 2009;

É a tecnologia por detrás da moeda digital Bitcoin;

Os registos efectuados pela tecnologia blockchain são irreversíveis, a não ser que haja um utilizador que consiga controlar mais de 50 por cento dos computadores que estão implicados;

Instituições financeiras começam a usar a tecnologia para tornar os serviços mais seguros, rápidos e transparentes;

A tecnologia Blockchain está por trás CRIPTOMOEDAS:

São moedas encriptadas digitais e um sistema de pagamento que podem ser usados por qualquer pessoa com ligação à internet;

Não precisa da interferência de governos, banco central, bancos ou agentes financeiros;

Os utilizadores de criptomoedas podem manter o anonimato, mas toda a informação sobre as transações que realizam são públicas e acessíveis a toda gente;

As transações são irreversíveis.

As transações entre duas pessoas têm de ser verificadas por outros utilizadores, que confirmam se o remetente e o receptor têm o montante de criptomoedas que aparece nos seus registos

BITCOIN é uma criptomoedas:

Foi a primeira criptomoeda e sistema de pagamento;

Foi criada em 2009;

É a criptomoeda mais conhecida hoje em dia.

Davis Ip  15.06.2018

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