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Uma casa para todas as artes

Sonhada por uma “equipa” luso-brasileira, a Academia Livre de Artes Integradas do Mindelo (ALAIM) abriu portas, em janeiro de 2016, num antigo armazém oferecido e recuperado com muita ajuda voluntária. Dois anos depois, o sonho de proporcionar um espaço para o ensino de todo o tipo de arte a todo o tipo de pessoas mantém-se bem vivo, mas a sobrevivência é conquistada dia a dia com “muita luta”. 

Nascida de um sonho do ator e diretor do Centro Cultural Português do Mindelo, o português João Branco, e da mulher, a atriz brasileira Janaina Alves, a ALAIM completa este mês dois anos de vida e de luta numa área onde a sobrevivência se conquista dia a dia.

“É o segundo ano, mas costumo dizer que temos trabalhado por dia. Não são dois anos, são 730 dias de muita luta. Uma luta e um sonho que não param”, afirma Janaina Alves, sentada no seu pequeno escritório ao final de mais um dia intenso como parecem ser todos na academia. As portas abrem pelas oito da manhã e fecham madrugada dentro, depois de, pelo antigo armazém, terem passado 170 crianças, formadores, artistas ou simplesmente amigos.

Esta brasileira de Teresina, nordeste brasileiro, a viver no Mindelo desde 2010, é quase sempre a primeira a chegar e a última a sair da academia, onde os dias esticam muito além dos horários normais. A academia abriu a 22 de janeiro de 2016 num antigo armazém cedido gratuitamente por uma empresa local e recuperado com a ajuda de patrocinadores e voluntários.

A ideia era responder à falta de espaços para o ensino cultural e artístico integrado na cidade do Mindelo, em São Vicente, segunda ilha mais populosa de Cabo Verde, e permitir o acesso ao ensino artístico a todos. “Por dia devem passar por cá mais de 170 pessoas, entre crianças, formadores, jovens que vêm para ficar ou artistas que vêm tomar um café. Temos uma dinâmica bastante forte”, afirmou.

Abrir portas a toda a gente

A academia inicia habitualmente o dia com as aulas do projeto Bolsa Acesso à Cultura, iniciativa do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas para tornar acessível o ensino cultural às crianças mais carenciadas e que, segundo Janaina Alves, está a permitir cumprir “um pouco do sonho” inicial da ALAIM.

“Acarinhamos muito este projeto porque era a ideia inicial da ALAIM: abrir as portas e receber todas as crianças e pessoas sem cobrar nada, mas isso é irrealista. Pensamos que ia aparecer um anjo da guarda e tomar conta, mas o funcionamento de um espaço deste tamanho tem custos”, considerou. O projeto envolve mais de 50 crianças, que duas vezes por semana, têm aulas de música, teatro, artes plásticas.

À hora de almoço a ALAIM transforma-se em cantina e espaço de descanso das crianças da Escola Portuguesa e durante a tarde há mais aulas e oficinas fixas de teatro, música, dança, “stand-up”, mandarim, artes plásticas ou cinema.

As oficinas são pagas e são elas que ajudam a suportar os custos de manutenção de uma estrutura desenvolvida com um conceito “open space” para ensino artístico com uma sala de espetáculos para cerca de 100 pessoas, onde “o público nunca falta”.

Teatro dos cinco aos 50 anos

E numa escola sonhada por dois atores, o teatro tem um papel central com ofertas de ensino para todas as idades. Na oficina “Sucrinha”, os mais pequenos, a partir dos cinco anos dão os primeiros passos na representação, enquanto a oficina “Ganga” se destina aos adolescentes.

Há ainda o “Teatro Oprimido”, uma oficina de teatro social e comunitário, e o “+50”, projeto de aulas de teatro, dança e música para maiores de 50 anos, bem como uma oficina de “Stand up comedy e mímica”.

A Academia serve ainda de estúdio de gravação para artistas e bandas e de incubadora de projetos culturais que estavam espalhados por outros espaços da cidade ou mesmo na rua. A escola de Ballet Noelisa Santos, o grupo de teatro do Centro Cultural Português do Mindelo e o grupo “Street Brakers”, que ensaiavam na rua ao som de telemóveis, são os projetos residentes da academia.

A academia, que no início conseguiu congregar vários apoios para a realização das obras, vive agora quase exclusivamente das receitas das oficinas, de alguns projetos e da solidariedade de amigos e de alguns professores que abdicam de ser pagos.

“Há vários projetos que acabam por sustentar a casa. A rotatividade de pessoas dá vida e faz com que o motorzinho não pare.  Claro que temos fases de sufoco e aí há um esforço adicional para não deixar a ALAIM fechar as portas, mas vamos sobrevivendo”, garantiu. “É como a arte, ninguém é estável na arte. Há altos e baixos”, acrescentou.

A iniciar o terceiro ano da academia, Janaina Alves aponta como meta conquistar ainda mais os mindelenses para o projeto ALAIM, sobretudo os artistas. “O que queria é que os artistas tivessem o espaço mais como seu, que abraçassem a ALAIM mais como sua”, disse.  Para já, o terceiro ano vai começar com a instalação no espaço da academia de um gabinete da Embaixada dos Estados Unidos em Cabo Verde para tratar das questões culturais e de educação nas ilhas norte do arquipélago cabo-verdiano. 

Cristina F. Ferreira-Exclusivo Lusa/Plataforma Macau  26.01.2018

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