O remininbi deverá seguir um caminho mais estável durante este ano com um abrandamento na saída de capitais, dizem os analistas
As reservas chinesas em moeda estrangeira registaram no final de Março a primeira subida desde Outubro do ano passado, apoiadas por um enfraquecimento do dólar norte-americano e também por medidas de contenção de saída de capitais adoptadas pelo Banco Popular da China.
Os analistas antecipam agora perspectivas estáveis para o renminbi, que desde Fevereiro tem seguido um caminho de apreciação contra a divisa dos Estados Unidos. E um consequente alívio na chamada fuga de capitais do país.
Em Março, a moeda chinesa sujeita a câmbio dentro das fronteiras da China Continental apreciou-se em 1,5 por cento contra o dólar. Um dólar valia no início desta semana 6,46 yuans, a refletir o comportamento da moeda norte-americana face às expectativas de que a Reserva Federal dos Estados Unidos não promova a breve trecho uma nova subida nas taxa de juros do país.
Os dados divulgados pelo banco central chinês indicam que o volume de reservas em instrumentos não denominados em renminbi atingiu no final de Março um valor equivalente a cerca de 3,213 biliões de dólares, mais 10 mil milhões de dólares do que no mês anterior.
A consultora Capital Economics estima que no mês passado o Banco Popular da China tenha mantido os níveis de compra da moeda nacional para assegurar a sua estabilidade, com a venda de reservas estrangeiras num valor de 35 mil milhões de dólares norte-americanos.
As reservas estrangeiras da China têm vindo a ser atentamente vigiadas pelos mercados internacionais desde que em Janeiro último conheceram uma descida superior a 100 mil milhões de dólares.
Estima-se que parte substancial da descida de Janeiro reflita a conversão de ativos para renminbi por parte do Banco Popular da China como forma de contrariar a desvalorização da moeda chinesa, que desde Agosto – com a introdução de um novo mecanismo de câmbio pelas autoridades centrais – seguia uma rota acentuada de depreciação.
Os dados de Março, com o reforço das reservas quando contabilizadas na moeda dos Estados Unidos, parecem agora apontar para um reversão da tendência anterior. “Isto sugere que a apreciação do renminbi contra o dólar nos últimos dois meses alterou as expectativas do mercado quanto à moeda, com as preocupações sobre a possibilidade de uma desvalorização de grande escala a diminuírem agora, e com um alívio das pressões de saída de capitais como resultado”, afirma Julian Evans-Pritchard, economista da Capital Economics.
O analista alerta que a recuperação das reservas é sobretudo fruto de flutuações cambiais, e que o Banco Popular da China poderá ter de recorrer novamente à compra de yuans caso a moeda norte-americana volte a fortalecer-se. Nomeadamente, caso a política monetária dos Estados Unidos promova uma subida do custo do dinheiro no país com novo aumento na taxa diretora de juros da Reserva Federal.
Ainda assim, prevê-se um alívio na saída de capitais da China Continental, que até aqui tem pressionado a desvalorização do renminbi. A expectativa é apoiada pela convicção de que grande parte das empresas chinesas com dívida denominada em dólares norte-americanos terá já saldado a porção mais significativa das suas obrigações.
“A menos que uma crise económica mais profunda desencadeie uma corrida das empresas e famílias para transferirem os seus ativos para o exterior – algo a que não assistimos até aqui e consideramos improvável – o Banco Popular da China tem munições bastantes para manter, durante este ano, o renminbi estável contra o cabaz de moedas dos seus principais parceiros comerciais”, defende Evans-Pritchard.
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla inglesa) aposta também numa moderação das perdas para as reservas estrangeiras da China durante reste ano. A associação de instituições financeiras internacionais, onde estão representados 38 bancos de economias avançadas, prevê um abrandamento na saída de capitais da China.
“Projetamos que que as saídas de capitais abrandem de 675 mil milhões de dólares no ano passado para 530 mil milhões de dólares este ano, com um abrandamento na redução da exposição a moedas estrangeiras. Tal deverá permitir uma diminuição das perdas da reserva, tal como temos vindo a observar em Fevereiro e Março, assim permitindo conter os receios de uma depreciação desordenada do renminbi”, segundo Hung Tran, diretor executivo do IIF.
Como forma de minimizar os efeitos das flutuações do dólar, o Banco Popular da China tem vindo a usar como referência para avaliar o comportamento da moeda do país o câmbio do renminbi contra as divisas dos seus principais parceiros comerciais – sendo a moeda norte-americana, ainda assim, a principal componente deste cabaz.
Na avaliação do valor das suas reservas, o banco central passou também a referencia-las, desde este mês, na unidade de conta em uso pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), os direitos de saque especiais (DSE). Durante este ano, recorde-se, a moeda chinesa passará a integrar o cabaz de divisas internacionais que serve de referência para ponderar o valor dos DSE (ou SDR, na sigla inglesa).
Assim, os dados do Banco Popular da China indicam que o valor total de 3,213 biliões de dólares que a China detém em reservas sob a forma de instrumentos financeiros em moeda estrangeira equivale, na unidade de referência do FMI, a 2,280 biliões de DSE.
“Enquanto cabaz de moedas, os DSE tendem a ser mais estáveis do que as divisas do cabaz individualmente. Reportar os dados das reservas em moeda estrangeira em DSE ajudará a reduzir as alterações de valores causadas pelas frequentes e voláteis flutuações das principais moedas, assim garantindo uma medida mais objectiva do valor total da reserva”, informou o banco central em comunicado na sua página electrónica.
Quando contabilizadas em DSE, observa-se que as reservas estrangeiras chinesas caíram, ao invés de subirem, durante o mês de Março, passando de um valor de 2,318 biliões para 2,280 biliões de direitos de saque especiais. Atualmente, o cabaz dos DSE inclui o dólar, o euro, a libra e iene, ponderados segundo o seu peso internacional, devendo passar a incluir o renminbi no último trimestre de 2016.
Maria Caetano