Enquanto espera pelo novo hospital da Taipa, Alexis Tam deu luz verde para o plano de contingência: estender os horários de atendimento e duplicar o pessoal no São Januário, nos próximos cinco anos. No fundo, montam-se dois hospitais numa só estrutura, até que haja, de facto, dois hospitais. “Se tiver 100 patacas e eu lhe oferecer mais 100, já fica contente. Mas se eu lhe oferecer mais 500, é muito melhor. É isso que temos agora: uma força motriz muito forte a puxar por nós, que assim podemos conduzir um projeto muito mais ambicioso”, explica Kuok Cheong U. Entrevista II-Vi
Alexis Tam ataca de frente o problema causado pelo atraso na construção do futuro complexo hospitalar da Taipa. Diz o velhinho ditado português: “Quem não tem cão, caça com gato”. Neste caso; se não há, nem tão cedo haverá segundo hospital – que levará pelo menos cinco anos – então dobra-se a capacidade existente no São Januário.
Do ponto de vista clínico, a estratégia não será tão simples como parece; contudo, na semântica da comunicação política, a solução é apresentado como uma espécie de magia da multiplicação: fazem-se “dois hospitais num só”, explicam os responsáveis pelo setor, gestores de uma espécie de revolução tranquila no São Januário e nos centros de saúde: uma segunda equipa, dobrando a existente – incluindo médicos, enfermeiros, pessoal administrativo e logístico – está a ser contratada por fases, com o objetivo assumido de de reduzirem as listas de espera, assegurando o atendimento ao público em horários estendidos. Pela madrugada dentro, se for preciso, e com reforço aos fins de semana. O anúncio caiu bem. O governante passou bem pela Assembleia Legislativa desbravando dois terrenos que arriscavam ser movediços. E por A mãe de todasas prioridades duas ordens de razão: por um lado, porque na memória coletiva, bem como nos bastidores do Hemiciclo, estava ainda fresca na memória a promessa feita no ano passado pelo secretário para os Assuntos Sociais e a Cultura. O novo hospital, disse, estaria concluído durante este seu primeiro mandato; horizonte, esse, que hoje em dia parece que difícil de cumprir. Prova disso, aliás, são as reticências com que o secretário para as Obras Públicas, Raimundo do Rosário, voltou a abordar o tema na sua passagem pela Assembleia Legislativa, nunca se comprometendo com o fim das obras do novo hospital em 2019. Por outro lado, a percepção negativa da população em relação à prestação dos cuidados de saúde no setor público, onde houve um desinvestimento indisfarçável, sobretudo em comparação com os apoios que nunca faltaram ao setor privado – Kiang Wu – tornou-se uma evidência com riscos acrescidos para a imagem do governo, senão do próprio regime.
Mais exigente
O problema, sendo real e perceptível, arrastavase há muito tempo. Estudos oficiais na posse do governo mostram que a população exige e espera muito mais do sistema de saúde, ao qual pretende recorrer cada vez mais no futuro próximo. Não só no campo dos cuidados de saúde primária, mas também nas consultas da especialidade.
Alexis Tam expôs Assembleia Legislativa os resultados dos primeiros passos que deu na área: “O tempo de espera em geral para uma consulta médica no CHCSJ de Janeiro a Outubro reduziu-se substancialmente face ao período homólogo do ano passado. Oito serviços especializados alcançaram resultados muito positivos em termos de redução do tempo de espera pela 1.ª consulta, registrandose uma diminuição de 26.3% a 63.6%, face ao mesmo período de 2014. O tempo de espera para o levantamento de medicamentos na farmácia dos serviços especializados dos Serviços de Saúde diminuiu, em média, de 25 minutos para 17 minutos, o que representa cerca de 32%. Com o prolongamento do horário de funcionamento noturno de dois centros de saúde, em Julho do ano corrente, o número total de utentes atendidos em sete centros de saúde, durante período noturno, entre Agosto e Outubro, aumentou 150%, em comparação com o período homólogo do ano passado”.
Entretanto, a contratação de novos profissionais de saúde foi apresentada como prova de evolução do sistema. Já em 2013, o diretor da Saúde, Lei Chin Ion, admitia o drama da falta de pessoal. Na altura, dizia, sobretudo enfermeiros. Contudo, só a chegada de Alexis Tam parece ter dado um empurrão no sistema. “Ele puxa muito pela melhoria de todos os serviços”, explica o novo diretor do São Januário, na entrevista que publicamos neste suplemento. Mas também porque garante os meios financeiros para atacar o problema, concluiu Kuok Cheong U. “Envidámos todos os esforços para recrutar profissionais na área da saúde. Concluímos a contratação de 529 profissionais de saúde, e ainda o processo de recrutamento de 62 trabalhadores que estava previsto ter sido em parte concluído no ano passado. Assim, no total, são 591 os trabalhadores que vão exercer as suas funções na área da Saúde, lembrou Alexis Tam no discurso inicial perante os deputados, explicando ainda que o salto de qualidade, tal como o descreveu, serviu também para resgatar o diretor dos Serviços de Saúde. Recorde-se que Lei Chin Ion viveu durante todo o sob a ameaça pública de ser demitido, caso as coisas não melhorassem.
Risco calculado
A frontalidade das promessas que fez e os riscos políticos que assumiu, sobretudo no campo da Saúde, tornava particularmente sensível esta segunda passagem de Alexis Tam pelo debate das Linhas de Ação Governativa. A julgar pelos elogios que recebeu da parte de vários deputados, bem como pela generalidade dos comentários nos meios de comunicação social, parece ter-se saído bem com a apresentação de medidas alternativas à demora na construção do hospital, do qual se apresenta agora claramente como “cliente”; ele próprio, incomodado por não o poder ter mais cedo.
Por fim, e politicamente escudado pelo inquérito feito antes do debate, segundo o qual a Saúde já não nem sequer é a principal preocupação da população, quando confrontada com as prioridades do debate político no Hemiciclo, Alexis Tam deixou na Assembleia uma declaração final em tom pouco habitual na relação entre o poder executivo e os deputados: “Entendemos e respeitamos as opiniões e os comentários feitos. Todavia, enquanto secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, entendo como imprescindível que a ação governativa tenha permanentemente em consideração o interesse de toda a sociedade de Macau e a satisfação do desenvolvimento de Macau. E é persistindo na prossecução do interesse geral, que implementamos o princípio de “ter por base a população” em vez de considerar como prioritário satisfazer o interesse de uma qualquer minoria. No futuro, são estes os objetivos que continuarão a orientar a nossa ação governativa e que nos ajudarão a superar todos os obstáculos”.
18 de Dezembro 2015