Construção de mais habitação pública, disponibilidade para ouvir “ouvir todas as vozes” e manutenção das atuais cinco secretarias foram promessas do único candidato a chefe do executivo.
Fernando Chui Sai On, líder do governo de Macau e candidato único à reeleição, destacou a habitação como a grande prioridade para os próximos cinco anos, na apresentação do seu programa político.
O candidato reforçou o seu compromisso na construção de mais habitação pública – recorrendo à criação de aterros urbanos e reordenando as zonas antigas – e comprometeu-se a “estimular” o mercado privado, onde se tem sempre recusado a intervir.
Durante a apresentação do seu programa perante o colégio eleitoral que irá escolher o chefe do executivo – composto por 400 pessoas, das quais apenas 265 compareceram à sessão – Chui Sai On prometeu “acelerar o ritmo para a disponibilização de terrenos para o sector privado”.
A habitação é atualmente um dos problemas mais agudos em Macau, que continua a registar um aumento dos preços dos imóveis para compra e arrendamento. Este mês, o secretário para os Transportes e Obras Públicas admitiu preocupação com as consequências de uma bolha imobiliária na estabilidade financeira, questão para a qual o Fundo Monetário Internacional já tinha alertado, num relatório divulgado em julho.
“Em caso de ocorrência de uma agitação anormal do mercado imobiliário”, o governo irá adotar “as medidas necessárias para controlar adequadamente a situação”, disse, agora, Chui sai On.
Durante a sessão de apresentação do programa de candidatura foram feitas algumas perguntas pelos membros do colégio, os únicos residentes de Macau com direito de voto para a escolha do chefe do Executivo.
Jorge Fão (ex-deputado e representante da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau) e Agnes Lam (académica e candidata a deputada nas passadas legislativas) quiseram saber quais os planos do governo para o chamado “desenvolvimento democrático” – introdução, total ou faseada, do sufrágio universal para a eleição do chefe do Executivo.
Chui Sai On disse estar “disponível para ouvir todas as vozes” e transmiti-las ao governo central chinês. “O progresso tem de ser faseado. Estou com toda a vontade de ouvir”, afirmou.
“Em Macau, a tradição é vivermos em harmonia. As vozes – as manifestações, as petições – são sempre ouvidas pelo governo. Isso é democracia. O importante é o respeito mútuo. Os passos para a democracia têm de ser avaliados”, acrescentou.
O sufrágio universal tem estado no centro do debate público em Macau e Hong Kong, com os dois territórios a lançarem referendos não oficiais sobre o tema. O de Hong Kong já aconteceu e o de Macau arranca no próximo domingo.
Após o encontro com os membros do colégio, o candidato anunciou também aos jornalistas a intenção de manter o número atual de secretários do governo. “Cinco secretários é um número bom”, disse.
A escolha pelo colégio eleitoral ocorre em 31 de agosto.
CASINOS OBRIGADOS A ALOJAREM NÃO RESIDENTES
As operadoras de casinos vão passar a ter de se responsabilizar pela habitação e transporte dos seus trabalhadores não-residentes, segundo revelou Chui Sai On, na apresentação do seu programa político.
A habitação é, atualmente, um dos problemas mais graves de Macau. Com uma oferta de terrenos muito limitada e um elevado número de investidores estrangeiros no mercado imobiliário, os preços da habitação não têm parado de subir. Ao mesmo tempo, avançam os novos complexos de jogo no Cotai – zona de casinos localizada entre as ilhas da Taipa e de Coloane – que obrigam à contratação de mão-de-obra não-residente.
Confrontado com o anúncio, Ambrose So, diretor executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), mostrou-se surpreendido e quis saber se o governo ia atribuir terrenos às operadoras para a construção destas habitações.
“Foi algo que ouvi pela primeira vez. Vamos manter o diálogo com o governo para saber exatamente qual é a ideia e perceber se conseguimos lidar com a situação”, comentou.
Ambrose So explicou que a SJM já atribui um subsídio para habitação a alguns trabalhadores – entre 2.000 a 5.000 patacas (entre 190 e 470 euros). “Ter que disponibilizar-lhes casas é já outro patamar”, disse.“Mesmo pedindo às concessionárias que construam casas para os trabalhadores não-residentes, é preciso disponibilizar terrenos, não podemos construir no ar. De onde é que os terrenos vêm? Temos de falar com o governo de Macau”, salientou.